Assédio Moral e saúde: quando o Assédio Moral traz benefícios à saúde

Coluna Assédio Moral no Trabalho

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Foto: Unsplash

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As consequências do Assédio Moral para a saúde da vítima são absolutamente devastadoras. Já se afirmara que negativas repercussões desta violência psicológica são observadas nas distintas facetas da saúde do assediado: problemas de ordem física e mental além daquelas percebidas no círculo pessoal, familiar, profissional etc. da vítima.
Em que pese as diferenças reativas dos diferentes assediados, o terror psicológico vivenciado traz cicatrizes. Tão somente para recordar-se, conforme pioneiro estudo de Margarida Barreto nomeado “Uma jornada de humilhações” com centenas de trabalhadores no Estado de São Paulo (1), tem-se:

Consequências do Assédio Moral à Saúde
Entrevistas (2) realizadas com 870 homens e mulheres vítimas de opressão no ambiente profissional revelam como cada sexo reage a essa situação (em porcentagem)

Sintomas Mulheres Homens
Crises de choro 100 0
Dores generalizadas 80 80
Palpitações, tremores 80 40
Sentimento de inutilidade 72 40
Perturbações no sono 69,6 63,6
Depressão 60 70
Diminuição da libido 60 15
Sede de vingança 50 100
Aumento da pressão arterial 40 51,6
Dor de cabeça 40 33,2
Ideia de suicídio 16,2 100
Falta de apetite 13,6 2,1
Falta de ar 10 30
Passa a beber 5 63
Tentativa de suicídio 0 18,3

 

Se os prejuízos à saúde daqueles que sofrem o comportamento assediante são inegáveis, um novo estudo vem analisar os efeitos do Assédio Moral na saúde de outro personagem, qual seja, do assediador. E o resultado é surpreendente.
William Copeland, professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais do Centro Médico da Universidade Duke, e outros pesquisadores relatam na revista PNAS que os agressores demonstram níveis mais baixos de inflamação – processo biológico que se liga a riscos mais elevados de doenças crônicas como anomalias cardíacas e câncer.
Os cientistas aproveitaram-se de um banco de dados envolvendo 1420 crianças que foram acompanhadas desde os 9 aos 21 anos, e que foram testadas em nove momentos diferentes durante esse período. Todos os jovens foram questionados sobre suas experiências de bullying, e assim, os pesquisadores colheram amostras de sangue para medir níveis como a PCR ou proteína C-reativa, isto é, um marcador de inflamação importante para prever doenças cardíacas, dentre outras doenças.
Ao examinarem os níveis de PCR dos agressores perceberam que as taxas de inflamação eram bem menores comparadas àquelas das vítimas de Assédio Moral. Aliás, quanto mais as vítimas foram violentadas, sofrendo maiormente no Assédio Moral, mais elevados seus níveis de PCR.

Foto: Unsplash

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De fato, se as vítimas têm picos nos marcadores inflamatórios – derivados do estresse, da ansiedade, das perturbações no sono etc.-, por outro lado, os assediadores parecem “blindados”.
Nas palavras do pesquisador-chefe William Copeland:

“Descobrimos que o status social reforçado que veio junto com ser um valentão faz parecer beneficiá-los ao longo do tempo”, diz Copeland. “Essa descoberta mais do que qualquer outra coisa nos surpreendeu.”, confessa Copeland.

Com um trabalho de fôlego que se estende desde a infância até a idade adulta jovem, William Copeland e seus colegas puderam enfim, mostrar a possibilidade das interações sociais afetar positivamente ou negativamente a saúde de uma pessoa. Puderam detectar que um “respeitável” status social é benéfico para a saúde. (3)
Com efeito, sentir-se poderoso, prestigiado e com pertencimento ao grupo social é experiência recompensadora para qualquer pessoa. Contudo, não deve ser o Assédio Moral o combustível para esta sensação. Aniquilar o outro, acompanhar-lhe a dor, a indignidade e a humilhação, regozijar-se com seu definhar, até por vezes, sua derrocada fatal somente se explica diante de personalidades desviadas/doentias.
Não há desculpas para o Assédio Moral!

Referências:

(1) BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.
(2) Disponível em: http://www.assediomoral.org/spip.php?article7 Acesso em: 06 jul. 2018.
(3) Disponível em: http://time.com/96848/bullying-can-make-a-bully-healthier/ Acesso em: 06 jul. 2018.

Ivanira
Ivanira Pancheri é Articulista do Estado de Direito, Pós-Doutoranda em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2015). Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (1993). Mestrado em Direito Processual Penal pela Universidade de São Paulo (2000). Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental pela Faculdades Metropolitanas Unidas (2009). Doutorado em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é advogada – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Esteve à frente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Participa em bancas examinadoras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo como Professora Convidada. Autora de artigos e publicações em revistas especializadas na área do Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Processual Penal, Ambiental e Biodireito.

 

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