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O escudo protetor de Medusa (combatendo com arte o estrupo e droga)

Por Aloizio Pedersen, artista plástico, idealizador e coordenador do Projeto Artinclusão.

 

Esta é a 19ª Oficina do Artinclusão no AR7, abrigo de passagem e emergencial da Fasc, com financiamento do Fumproarte/Prefeitura Municipal, para atender crianças e jovens de até 17 anos, vítimas da vulnerabilidade social, até serem normalizadas suas vidas familiares, ou transferência para outros abrigos ou casas lares da referida Instituição. Acolhidos com muito carinho e com frequência escolar normal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muitos aspectos tem me chamado a atenção, além do enorme aprendizado que estou tendo com esta experiência. Especialmente os heróis e heroínas e seus poderes, criados pelo setor feminino destes meus pupilos e que deram origem a presente oficina. Especificamente o herói de um olho só que tinha o poder da invisibilidade, o mesmo poder de outra heroína, graças ao seu unicórnio, outro herói que era uma planta venenosa e outra heroína com guampas, que prendia os homens na lua. E a ideia da Medusa vinha a minha cabeça, para uma próxima intervenção, pela força desses poderes e pelos adereços de cabeça. Iniciei uma pesquisa para rememorar o referido mito: pasmem, seus ancestrais tinham um olho só e foram os iniciadores da Grécia. Isto nunca soube! Quando foi decapitada, uma de suas veias, vertia um veneno mortal. além de outra com o elixir da vida. Isto também não sabia. E que sua figura foi adotada como protetora do movimento feminista! Quanta ignorância! Também não sabia, pelo menos conscientemente, mas para meu inconsciente isto deveria ser evidente, por me trazer a imagem belíssima da Medusa de Caravaggio (1571-1610), o mais notável pintor barroco, na minha memória e não descansar enquanto não me decidisse por esta oficina.
Contei o que pude contar desse mito e enfatizei que nossa recriação deveria permanecer na nossa cabeça como um escudo protetor e cada vez que notarmos alguém nos tentando hipnotizar ou imobilizar com alguma história ilusória, contrária a nossa vontade (sedução para estrupo ou drogas), que tivéssemos a coragem de levantar, simbolicamente este nosso escudo da Medusa, e forças para procurarmos ajuda.
Inicialmente ela era sacerdotisa do templo da deusa Atena, tão ou mais bela que esta. O que deveria enciumar a deusa, que queria manter seu posto de a mais bela do Olimpo. Certo dia Poseidon, o deus do Mar, em pleno templo, a estuprou. Atena culpou-a deste ato, um dos inícios do machismo atual, e a amaldiçoou a ser uma das três Górgonas, como um monstro feminino, com abissais serpentes no lugar de cabelos e com o poder de petrificar os homens com o seu olhar.
Perseu recebe a difícil missão de decapitá-la e só o faz, olhando-a através do reflexo desta em seu escudo. Ao entregar a cabeça para Atena, esta a fixa em seu escudo, tornando-o ainda mais poderoso guerreiro, agora também petrificava seus adversários.
Alguns já conheciam de algum filme ou desenho na televisão, mesmo assim ficaram presos na hora do relato, cheio de lindas imagens de pintores que retrataram o mito, com ênfase na de Caravaggio, que foi um menino e um adolescente “terrível”, como muitos dos meninos que estavam na minha frente, momentaneamente hipnotizados pelo mito e que depois não descansaram enquanto não terminaram a difícil tarefa de buscarem em seus inconscientes a representação desta proteção futura para suas vidas, igualmente acompanhados pela ala feminina da oficina.
Para mim funcionou como um parto, com muitas dúvidas/contrações se iria atingi-los e só agora, que consegui por algumas coisas por escrito neste relato, sinto que estou acalmando. Admirem algumas das criações e me auxiliem a avaliar os resultados deste intento. O fiz como uma homenagem a esta primeira vítima do preconceito e machismo, que seu sofrimento, igual ao de todas as mulheres vítimas deste terrível crime, sirva para seu extermínio, protegidas pelo seu escudo.

 

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