Salão de Extensão: 20 anos

Coluna Lido para Você, por José Geraldo de Sousa Junior, articulista do Jornal Estado de Direito

 

 

 

Salão de Extensão: 20 anos / Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pró-Reitoria de Extensão ; redação e edição Vicente Fonseca. Porto Alegre : UFRGS, 2019. 88 p.

 

           Recebi, com alegria, o link para a edição digital https://www.ufrgs.br/prorext/wp-content/uploads/2019/11/Sal%C3%A3o-de-Extens%C3%A3o-20-anos-de-Hist%C3%B3rias-web-Reduzido-2.pdf  do livro objeto deste Lido para Você. A UFRGS – Pró-Reitoria de extensão publicou também uma edição impressa da obra.

 

           Eu havia participado do evento celebratório instalado nos campi da Universidade, a convite da querida Sandra de Deus, Pró-Reitora de Extensão, oportunidade aliás, não só de estar mais uma vez em interlocução naquela importante Instituição, como para rever a amiga que eu não via desde um encontro de universidades latino-americanas em Havana, no ano de 2012.

           O foco de minha participação derivou de minha identidade extensionista, razoavelmente difundida, a partir de várias aproximações temáticas e de múltiplas interlocuções, enfeixadas num projeto que neste ano de 2019 se exibe por meio de um grande Seminário Internacional que se realiza na Universidade de Brasília: O Direito como Liberdade – 30 Anos de O Direito Achado na Rua (https://direitoachadonarua.wordpress.com).

           Percorrendo as galerias do Salão, ou melhor, dos salões, entre eventos e painéis, toda uma história se apresentava viva e pulsante, um pouco dela e de seus personagens, registrados no livro, cujo sumário dá uma medida de tamanha efervescência, em diversidade e criatividade: “O primeiro Salão de Extensão; História do Salão; Mostra Interativa de Extensão; Tertúlias; Oficinas; Espaço Lúdico; Atividades Culturais; Temáticas e Conferencistas; Salão 20 anos: passado, presente e futuro”.

           Do que se tratou a minha participação, melhor designa o editorial, que a resume, na página 78: “O DIREITO ACHADO NA RUA. No ano de 2015, o Salão de Extensão ficou marcado pela participação do ex-reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza, no Encontro de Extensão. Na ocasião, o docente falou sobre o histórico projeto Direito Achado na Rua, criado em 1986 por ele e por Alexandre Bernardino Costa, após a morte do jurista Roberto Lyra Filho, cujas ideias inspiraram a ação. Souza explica que o Direito Achado na Rua é um projeto de extensão que dialoga com o ensino e a pesquisa. “Ele nasce na extensão como um sistema de capacitação de assessorias jurídicas populares, para que emerjam no social com capacidade instituinte de direitos, legitimamente instaladas no espaço de cidadania”, explica o professor. O trabalho realizado busca, de diversas formas, novas percepções sobre o Direito a partir do protagonismo dos movimentos sociais por meio da valorização dos direitos humanos, área de interesse direta de Roberto Lyra Filho. O programa, de fato, não se limita à extensão: também é oferecido na UnB como disciplina do Programa de Pós-Graduação em Direito e em Direitos e Cidadania – este último um programa interdisciplinar da instituição, e também como disciplina de graduação: “o Direito Achado na Rua inova curricularmente, a partir do diálogo entre teoria e prática e da intercomunicação entre universidade e sociedade, formando um entreposto daquilo que Boaventura de Sousa Santos tem chamado de universidade popular dos movimentos sociais, cujo núcleo ativo é justamente a extensão universitária”, aponta Souza. O palestrante não apenas proferiu uma fala no Encontro de Extensão de 2015 como também acompanhou de perto várias atividades daquele Salão. E saiu de Porto Alegre impressionado: “o evento galvanizou todos os espaços e todas as formas mobilizadas de protagonismo da universidade nos vários planos que a Extensão cobre, a partir de programas e ações que fazem parte do acervo de realizações do sistema universitário de extensão. Eu próprio ali testemunhei circulando em todos os salões a força imaginativa, criativa das várias iniciativas nesses campus e a representação do papel que a UFRGS cumpre no sistema nacional de extensão universitária”, elogiou”.

           Com efeito, o elogio não é banal. É tradução de reconhecimento, na medida da disponibilidade de uma prática de intervenção que se reorienta reflexivamente a partir da extensão universitária e que se irradia indissociavelmente nos elementos que designam o afazer universitário: o ensino e a pesquisa.

           Desde a perspectiva de O Direito Achado na Rua não é pouco essa denotação, se se tem em mente, por exemplo a constatação levada a cabo pela ex-Decana de Extensão da UnB Leila Chalub Martins, ao afirmar que “O Direito Achado na Rua, a meu juízo, foi a primeira e mais significativa iniciativa intelectual, no sentido de responder ao que cobrava Darcy Ribeiro, no momento do ‘renascimento’ da Universidade de Brasília” (Uma Universidade intrometida na vida – a experiência da Faculdade de Direito com a extensão universitária. In COSTA, Alexandre Bernardino (org). A Experiência da extensão universitária na Faculdade de Direito da UnB. Brasília: Faculdade de Direito. Coleção O que se Pensa na Colina, vol. 3, 2007, p.8).

           Trata-se de um acumulado considerável, de muitos modos certificado, a ponto de se constituir como um registro de referência da própria construção de campo extensionista, projetado desde a UnB (SOUSA, Nair Heloisa Bicalho de; COSTA, Alexandre Bernardino; FONSECA, Lívia Gimenes da; BICALHO, Mariana de Faria. O Direito Achado na Rua: 25 Anos de Experiência de Extensão. Participação. Revista do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília – Ano 10, nº 18 – dezembro de 2010. Brasília: Universidade de Brasília/Decanato de Extensão, 2010).

           Tudo isso contribui, voltando ao livro, para poder tomá-lo como marco de avanços notáveis em 20 anos de extensão na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, por exemplaridade, na universidade brasileira. Com sua publicação, podemos dizer com a Professora Sandra de Deus: Comemorar aniversário é sinônimo de reflexão. Celebrar os 20 anos do Salão de Extensão exige reverenciar os idealizadores que tiveram a feliz iniciativa de buscar um lugar de mostra da extensão universitária. Para todos nós, é permitido rever o passado e perguntar onde estávamos e que caminhos percorremos nestes últimos 20 anos. Foram muitos os desafios e, certamente, para muitos de nós, foram duas décadas de muito aprendizado, de perdas e ganhos. Sentimos saudades, acumulamos conhecimento e fizemos amigos. Por vezes, certamente consideramos batalhas perdidas. Em outras, avançamos, o que é fruto do crescimento das nossas demandas e do amadurecimento da nossa reflexão. Mas o percurso nos convoca a olhar para o futuro, sem esquecer as trajetórias individuais e coletivas, calcadas no presente das práticas relatadas, das boas lembranças, dos fatos pitorescos e das parcerias que foram construídas. A extensão universitária, a partir da sistematização das experiências – um ensinamento pertinente de Oscar Jara – tem conseguido, não apenas na prática, mas, e muito especialmente, nas rodas de conversa, dialogar com o ensino e a pesquisa de uma forma mais efetiva. Cumpre-se, assim, não só um preceito constitucional, mas um urgente e fundamental eixo formativo da Universidade, no qual as trocas de experiências e a integração entre projetos e programas, entre ensino, extensão e pesquisa, se tornam realidade. Nos quais efetivamente o diálogo, o olho no olho, as várias mãos e mentes atuam em conexão com a vida. Nestes 20 anos, o Salão de Extensão tem demonstrado o quanto avançamos e o quanto a extensão universitária produz conhecimento, gera novos projetos de pesquisa e renova o ensino. Nossa tarefa de hoje é saudar e agradecer os pioneiros. Memória e esperança que entregamos para as gerações futuras, desejando que o Salão de Extensão continue sendo a demonstração da produção e da solidariedade do fazer extensionista por muitos outros vinte anos”.

           A experiência acumulada na UFRGS, na mostra exemplar do Salão de Extensão, confirma aquilo que venho sustentando e que se faz urgente em tempos de ataque à inteligência e à universidade, em particular, à universidade pública. Conforme deixei expresso em meu balanço de reitorado (SOUSA JUNIOR, José Geraldo de (Org). Da Universidade Necessária à Universidade Emancipatória. Brasília: Editora UnB, 2012): “Nenhum reitor, desde os tempos medievais de reitores-estudantes no modelo de Bolonha, aos reitores-professores no modelo moderno de universidade, afronta arrogante o espaço público de inter-relacionamento e de diálogo com as comunidades plurais epistêmicas que dão legitimidade ao saber que suas instituições realizam” (p. 60-61). O conhecimento, assim, sobretudo em contexto de diálogo universidade e sociedade, adquire papel social indissociável e a extensão universitária é o seu melhor instrumento de construção.

 

         

José Geraldo de Sousa Junior é Articulista do Estado de Direito, possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (1973), mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Ex- Reitor da Universidade de Brasília, período 2008-2012, é Membro de Associação Corporativa – Ordem dos Advogados do Brasil,  Professor Titular, da Universidade de Brasília,  Coordenador do Projeto O Direito Achado na Rua.55

 

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  1. Sirley Aparecida de Souza

    Parabéns pelo artigo, professor. Bastante oportuno. Neste contexto atual em que somos obrigados a presenciar uma série de retrocessos políticos, educacionais e sociais, creio que a palavra de ordem é “resistência”. O Projeto “O Direito Achado na Rua” é sinônimo de renovação, ação coletiva, desafio, esperança, coragem, diálogo e resistência. Significa um projeto de formação de maior amplitude, efetivamente, ao alcance de Todos.

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