Registro Arquitetônico da Universidade de Brasília-UnB

                                                                                                                                                                                                                                                      Coluna Lido para Você

 

 

 

 

SOUSA JUNIOR, José Geraldo de Sousa Junior…[et al.]. Revista FLAAC 2012. Brasília: Reitoria/Decanato de Extensão/Comissão UnB 50 Anos, 2012, 67 p.

SCHLEE, Andrey Rosenthal…[et al.]. Registro Arquitetônico da Universidade de Brasília. Brasília: Editora UnB, 2014, 152 p.

 FERREIRA, Anelise Weingartner…[et al.]. Acervo de Arte: Universidade de Brasília. Brasília: Editora UnB, 2014, 157 p.

 

            O meu mandato reitoral na UnB (2008-2012) foi marcado por alguns acontecimentos de grande simbolismo . A começar pelos eventos de dois jubileus: 50 anos de Brasília (2010) e 50 anos da UnB (2012). Nas efemérides dessas ocorrências fatos notáveis, como a inauguração do Memorial Darcy Ribeiro – Beijódromo (https://estadodedireito.com.br/22047-2/)  e a realização do Festival Latino-americano e Africano de Arte e Cultura (FLAAC2012).

         Em 1987, 25 anos após a fundaçãoo da Universidade de Brasília, um evento, também ousado, povoou as cabeças e animou a sensibilidade de jovens brasilienses que viviam época de grande conturbação política, econômica e social. O Festival Latino-Americano de Arte e Cultura (FLAAC) trouxe estudantes, artistas e gente de cultura de toda a América Latina a Brasília, com o objetivo de promover o diálogo e a aproximação entre povos distintos de nossa América.

            Muito além de um encontro de arte e cultura dos países envolvidos, o FLAAC foi um momento para o autoconhecimento da juventude latino-americana. Em meio a realidades angustiantes que o desgaste da década provocou nas nações latino-americanas, com as liberdades sufocadas, os jovens que aqui estavam puderam entrar em contato com as condições políticas, econômicas e sociais dos demais países participantes e encararam a compreensão e vontade de mudança da situaçãoo de seus países pela cultura e pela arte.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

            De certo modo, eles puderam encarnar aquela disposição preconizada por Martí, para caracterizá-los: Os jovens da América arregaçam a camisa ao cotovelo, afundam as mãos na massa e a levantam com o fermento de seu suor. Criar é a palavra de senha desta geração (Nuestra América). O FLAAC , como exortou o reitor Cristovam Buarque da UnB naquela ocasião, constituiu-se em um espaço fecundo para uma rica experiência de criação.

            Em 2012, ao completar 50 anos, a UnB retomou as atividades do FLAAC, como centro de celebrações de seu jubileu, em uma produção, coordenada pelo Decanato de Extensão (Decano Oviromar Flores) com a curadoria do produtor cultural Zulu Araújo, em uma produção que envolveu toda a comunidade acadêmica e o público brasiliense em geral, em um debate cultural intenso, contando com o patrocínio e parcerias cuja significação mais amplifica o sentido de relevância que esta forma de celebração pretendeu realizar. O FLAAC 2012, contemplou manifestações artísticas e culturais não só da América Latina como do continente africano e dialogou com as influências que esses dois continentes tiveram na formação cultural do Brasil.

            Tratou-se responder, como de pode ver do sofisticado e caleidoscópico catálogo desses eventos, com Darcy Ribeiro que a América Latina existe acima das linhas cruzadas de tantos fatores de diferenciação para edificar sociedades étnico-raciais cujas populações querem continuar fundindo-se com o amálgama cultural forjado na riqueza desses próprios fatores de diferenciação.

            Por ocasião do jubileu da UnB, um tanto desse amálgama se forjou no cadinho representado pela Exposição GUAYASAMIN Continente Mestiço, que o Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, o Ministério das Relações Exteriores, O Governo do Distrito Federal, a Embaixada do Equador e a Universidade de Brasília, sob a curadoria de Wagner Barja, instalaram em Brasília, para celebrar a UnB.

            Um único volume, com a organização editorial de Wagner Barja foi pensado para registro da primeira exposição completa do grande muralista a sair do Equador. O projeto gráfico do catálogo fracassou e apenas uma boneca foi elaborada, que acabou me sendo oferecida. Há uma síntese excepcional das obras expostas e comentários do Ministro Ricardo Patiño Aroca (Equador), do Chanceler Antonio de Aguiar Patriota, do Embaixador do Equador Horacio Sevilla Borja do Secretário de Cultura do Distrito Federal Hamilton Pereira (Pedro Tierra), de Zulu Araújo, Coordenador-Geral do FLAAC2012, de Marta Juarez do ACNUR e meu, então Reitor da UnB.

            Cuidei de  designar Guayasamin: a arte que grita o sofrimento dos nossos povos. De fato, para mim, há entre a África e a América Latina uma infinita comunhão de interesses e preocupações derivadas de suas heranças coloniais e de suas atuais lutas políticas por emancipação. Essa consanguinidade sócio-histórica impele nossa busca pela intensificação do diálogo entre nações visando o seu enriquecimento mútuo. O Festival Latino-americano e Africano de Arte e Cultura surgiu para atender a esta necessidade de comunicação e estabelecer a arte e a apreciação estética como linguagens comuns de tradução entre os diversos saberes e práticas. Foi uma iniciativa da Universidade de Brasília e instituições parceiras, e contou com o apoio de todos aqueles que compreendem esta proposta de intercâmbio como uma aliança entre povos para a superação de suas questões sociais.

            Duas edições do festival já ocorreram anteriores a 2012, em 1987 e 1989. Na ocasião de sua estreia, celebrava-se o vigésimo quinto aniversário da UnB e o desabrochar da redemocratização brasileira. Em 2012, ano de jubileu da universidade, foi mister reconhecer a atualidade dos propósitos originais do FLAAC. Não se tratava de uma simples exposição em vitrine das diferentes expressões artísticas latino-americanas e africanas, mas sim de uma oportunidade para promover o encontro e o autoconhecimento entre os vários povos destas regiões. A definição das identidades culturais se fortalece a partir do contato entre semelhantes e permite a reunião, sob uma mesma bandeira, das diversas reivindicações por emancipação política e cultural.

             A perspectiva de realização desse festival resgatou aquela de Darcy Ribeiro, segundo a qual a América Latina e, acrescentei  atrás, a África, existem acima das “linhas cruzadas de tantos fatores de diferenciação”. Irmanadas por suas trajetórias de colonialidade e por suas origens étnico-raciais, estas sociedades encontram-se em permanente estado de edificação e desejam continuar fundindo-se no amálgama cultural forjado na riqueza de sua própria diversidade.

            Na abertura do segundo ciclo da edição de 2012 do FLAAC, foi, portanto, dadivoso receber a obra de Oswaldo Guayasamin, cujo poder de síntese sobre a condição humana segue impressionando ao longo das décadas. A América Latina é seu ponto de partida para a compreensão do mundo, e sua experiência pessoal orientará seu olhar e sua paleta de cores. O alto conteúdo biográfico, todavia, não representa obstáculo para a universalização dos significados expressos em suas telas.

            Guayasamin registra seu testemunho sobre a fragilidade humana nos vários continentes por onde passou sem remeter exclusivamente a um único espaço ou período no tempo. Sua arte de protesto denuncia a desigualdade social como violação da própria condição de humanidade. “Quando Guayasamin grita o sofrimento dos sujeitos de todos os povos, sua voz é mais poderosa e incontida que a do rio Apurimac”, define o literato peruano José Maria Arguedas, em ode ao artista.

               A exposição “Guayasamin – Continente Mestiço” coroou a realização do FLAAC tanto pela  magnificência da produção plástica do artista equatoriano como por sua estreita relação com a proposta do festival em atuar como um motor de transformação política. Guayasamin personifica a força criativa do sangue mestiço da América Latina, e o conjunto das obras selecionadas especificamente para esta ocasião nos desvela um panorama evocativo de nossa responsabilidade sobre o bem viver de latino-americanos e, extensivamente, de todos os sujeitos sócio-historicamente violados em sua soberania.

            Essas condições e eventos é que fazem que uma universidade nunca envelheça. Tenho a alegria de constatar esta condição diariamente quando transito pelos campus da UnB e percebo que os rostos com que cruzo nas multidões de estudantes são sempre novos. Rostos viçosos e frescos, que sustentam uma atmosfera de contínuo porvir.

               Cada uma das séries de gerações que se sucedem, transportando durante um momento a tocha de Prometeu, imprime na comunidade universitária as marcas de sua contribuição. Podemos reconhecê-las em toda parte, na história de cada instituto, faculdade ou departamento, nas alterações curriculares e reformas universitárias, ou na trajetória dos movimentos políticos que participam da universidade, como o Diretório Central de Estudantes e os sindicatos de professores e servidores.

               Uma  dimensão,  todavia, se  destaca  sobre  as  demais  como  referência  da passagem  do tempo: as modificações ao patrimônio material. São as mudanças na estrutura física da minha universidade, a UnB o traço mais evidente do seu crescimento e maturação. Tomemos, a título de ilustração dessa condição, a ampliação de sua área construída: na data de inauguração da universidade, em abril de 1962 até alcançar os seus 50 anos;  os nove prédios que então a constituíam somavam 13 mil metros quadrados. Hoje, no ano de seu jubileu, este valor encontra-se multiplicado quarenta vezes. Se somadas, as instalações que constituem os quatro campi da UnB totalizam mais de 526 mil metros quadrados. Tal expansão acompanhou o ritmo de crescimento da população universitária, que já atinge a marca dos 46 mil membros, entre alunas e alunos de graduação e pós-graduação, professoras e professores e servidoras e servidores de caráter técnico e administrativo.

              O aspecto qualitativo dessa ampliação também chama atenção. As edificações na UnB não se produziram a partir de uma estética homogênea durante os 50 anos de sua existência. Pelo contrário, podemos observar uma grande variedade de estilos arquitetônicos que expressam as diferentes compreensões sobre o uso do espaço em cada período que atravessou ao longo de seu desenvolvimento.

         Por  isso, estimulei  que se  procedesse ao registro desse  patrimônio, mais imaterial que material. O catálogo que forma o Registro Arquitetônico da Universidade de Brasília, se propõe com grande sucesso registrar este percurso em suas diferentes fases, identificadas pelas características predominantes tanto no traço dos projetos como na escolha dos materiais empregados na sua construção. 

            O início da narrativa confunde-se com a própria história da cidade de Brasília, e vemos os prédios da universidade reproduzirem o mesmo padrão da capital, de caráter modernista e com larga influência da arquitetura carioca. Grandes nomes como os de Niemeyer, Alcides da Rocha Miranda, Sérgio Rodrigues e João Filgueiras Lima, o Lelé, se destacam como baluartes dessa etapa. Também as áreas verdes são imensamente valorizadas, como se vê nos jardins projetados pelo paisagista Fernando  Chacel.

           Na sequência, acompanhando o fluxo das tendências dominantes na arquitetura brasileira naquele momento, a UnB materializa a estética brutalista de matriz paulista da década de 1970, de traços fortes e acabamento cru, como na Biblioteca Central de Estudantes idealizada por José Galbinski.

              Há um rompimento a partir dos anos 80 e até o final dos anos 90 onde encontramos maior experimentação e heterogeneidade. Durante este período, a UnB passa a explorar áreas fora do perímetro da cidade universitária, ao mesmo tempo em que cede o seu espaço para parcerias com outras instituições.

             A fim de minimizar essa descontinuidade, desde o início do século XXI, e de maneira destacada nas obras realizadas no contexto de expansão da recente Reforma Universitária, os projetos e construções desenvolvidos na UnB vêm se orientando pelo retorno às características que marcaram as primeiras décadas de funcionamento da universidade.

            Tal perspectiva não se limita à simples preferência estética. Antes, trata-se de um importante movimento simbólico na direção da recuperação e consolidação da identidade da UnB. Expandir esta instituição e construir novos prédios não é apenas uma questão de ampliar indefinidamente o seu acesso ao público, mas também de garantir que cada novo elemento arquitetônico seja incluído de maneira coesa ao conjunto geral, para que os sujeitos que ocupem quaisquer espaços se sintam conectados à comunidade universitária.

              Toda  sociedade  é  imaginada. Lembremo-nos  de que  não  existem fronteiras  no  sentido estrito  do  termo. Para manter unidos os sujeitos de um grupo são necessários muitos elementos simbólicos em comum além da mera coabitação.

            Não por acaso, nos planos fundacionais da UnB, aos quais se procurou dar sequência, a beleza é qualidade essencial. Cada traço parece ter sido pensado para estimular os membros da comunidade acadêmica não apenas a cumprir suas funções cotidianas, mas, sobretudo, a viver os espaços da universidade, se permitirem cativar por ela e desejarem tornar-se os seus perpetuadores.

             O catálogo de registro arquitetônico que temos agora em mãos (tive notícia recente diretamente da Diretora da Editora UnB Germana Henriques Pereira que está em preparo editorial uma edição comemorativa bilíngue do Registro Arquitetônico), fruto da investigação de uma cuidadosa equipe de pesquisadores, se apresenta como uma preciosa contribuição para esta tarefa de manutenção da identidade simbólica da UnB. Seu valor certamente ultrapassa a condição de simples documento histórico na medida em que participa da reconstrução da memória coletiva sobre a universidade.

        O processo de conscientização sobre a dimensão de um patrimônio material é o primeiro passo para nos apropriarmos da responsabilidade que acarreta o seu usufruto. É, portanto, com grande alegria que celebramos esta publicação, seguros de que os eventos do ano jubileu se apresentam como marco da permanente refundação da UnB sobre os pilares de uma educação humanista e emancipatória. Uma instituição centrada em pensar o Brasil e a América Latina a partir de suas questões sociais, como a sonhou Darcy Ribeiro e  materializaram centenas de trabalhadores.

            Um pouco dessa percepção aparece na mostra Entreséculos (ENTRESÉCULOS – Acervos Públicos do Distrito Federal, Organização Editorial: Wagner Barja; Projeto e Curadoria: Wagner Barja e Xico Chaves. Brasília, Museu Nacional do Conjunto Cultural da República) realizada em Brasília no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, entre 2009 e 2010. Essa mostra, composta por peças das coleções oficiais do Banco Central, da Caixa Econômica Federal, da Fundação Nacional do Índio, do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, do Museu de Arte de Brasília e da Universidade de Brasília, foi motivada pelo desejo do Presidente Lula de abrir à população os acervos das instituições públicas, como expectativa de expressão representativa de todos os momentos e movimentos estéticos e como tradução-síntese de manifestações artísticas materializadas ao longo da história brasileira.

         São essas condições eventos que moveram também a intenção de editar o Acervo de Arte da Universidade de Brasília. Toda obra de arte desdobra na linguagem uma nova possibilidade de comunicação, enriquecendo as faces da relação entre os sujeitos e seu universo social. Esta pode ser mesmo considerada uma das principais funções sociais dos e das artistas: ampliar o estofo ou arcabouço simbólico que entremeia nossa relação com o real.

              Nossos olhos e sentidos, tão acostumados ao logocentrismo, devem ser educados à contemplação para 

compreendermos as estruturas de sentido mais ou menos evidentes através das quais os/as artistas transmutarão suas abstrações. Tais expressões não são criações ex nihilum, mas, antes, ressignificações dos códigos partilhados por uma determinada identidade cultural. Compreendida dessa forma, a arte não se apresenta, em última instância, como expressão de uma individualidade, mas sim como um canal de manifestação coletiva: certamente uma conjuntura de fenômenos sócio-históricos conduziu à aparição de uma obra em seu contexto imediato.

        Isto não significa dizer que a arte se limitará ao registro instantâneo de sua criação, condenada a estar paralisada no tempo. Pelo contrário, uma obra será permanentemente deslocada de seu significado originalmente proposto a cada nova perspectiva que se lance sobre ela.

            A interpretação de uma obra de arte passará pela maneira como o apreciador e a apreciadora se identifiquem e apropriem de seu conteúdo. Não há possibilidade de coincidência total entre diferentes pontos de vista e, assim, uma nova dimensão da obra surgirá cada vez que seja reconhecida em um aspecto de sua alteridade. A apreciação é o exercício de uma ética de humanização do outro, um jogo de poder onde é preciso conceder espaço de si à parcela de humano que há no outro criador.

            Se levamos esta análise a se debruçar sobre uma escala mais ampla de interação social, para além das relações individuais, observamos que a concessão à linguagem do outro se estabelece também ao nível da constituição das identidades culturais. A emancipação política e intelectual estará, assim, intimamente associada à emancipação estética. É por isso fundamental tanto valorizar a produção local, para escapar às pressões externas, como questionar continuamente os padrões estéticos hegemônicos em uma sociedade, a fim de impedir que se forme uma ditadura do belo e permitir a democratização dos temas e técnicas de produção, garantindo a pluralidade das expressões artísticas.

         O presente catálogo contribui primorosamente para a realização deste projeto emancipatório. Sua publicação é resultado da iniciativa do professor João Cláudio Todorov, durante o período de seu reitorado na Universidade de Brasília, para inventariar, mapear e garantir a preservação do acervo da instituição.

           Somente agora, fazendo eco a esta valiosa instigação, o Centro de Documentação da UnB (CEDOC) e a Casa de Cultura da América Latina (CAL), sob coordenação de José Carlos Andreoli e Anelise Ferreira, produziram o primeiro registro catalográfico do patrimônio artístico da universidade. O que se seguirá nas próximas páginas é uma pequena amostra, fruto da criteriosa seleção de aproximadamente 120 trabalhos que buscam representar a diversidade de propostas estéticas de uma coleção de mais de 1,2 mil obras.

            Além de doações pessoais e institucionais, com destaque para uma importante transmissão de obras de arte realizada pelo Banco Central, o acervo da UnB inclui também obras executadas por antigos alunos e professores, num resgate da história e memória da universidade que certamente contribui para fortalecer a identidade da UnB e de Brasília como centros autônomos de produção artística.

Sem que se possa estabelecer uma organicidade a esse conjunto, afinal, a Universidade de Brasília nascida, junto com a Capital, num movimento liderado por Darcy Ribeiro, recebeu um impulso eclético por reunir expressões diversas de educadores, arquitetos e artistas, pode-se dizer que ele representa um enlace de possibilidades e de aberturas de significações que dialogam no espaço plural de um campus definitivamente integrado à cidade.

            A quem interessar possa tomar contato com as demais obras, a publicação do acervo é como que um convite a um passeio pelos campi da universidade. A própria forma como estão expostas revela sua intenção libertária: em vez do tradicional e inviolável espaço dos museus e das galerias, tais peças de arte encontram-se distribuídas em espaços de livre circulação na UnB. Realizam, pois, o ideal da obra de arte aberta, mantendo-se em permanente estado de comunicação com o público receptor e ressignificando-se no dia a dia da comunidade acadêmica, de modo a propiciar encontros entre a arte e a vida.  No próprio gabinete do Reitor, composto com móveis de Sergio Rodrigues, as paredes se ornam com os quadros de Lívio Abramo, Charles Mayer, Douglas Marques de Sá e com destaque Glenio Bianchetti, com os seus Peixes, 1993 e talvez uma de suas últimas pinturas  Dança, 2012, doada pelo artista a UnB para celebrar seus 50 anos. Dessa obra 50 reproduções assinadas pelo artista foram entregues a agraciados pela UnB, em homenagem prestada pela universidade a seu grande artista e personalidades que contribuíram para o engrandecimento da Instituição.

O produto deste diálogo é o rompimento da barreira convencional que opõe obra e espectador, promovendo a arte como experiência viva no cotidiano da universidade, tal como prometia a chamada “escola de sonhos”, aludindo ao papel da UnB e de seu Instituto de Arte, para abrigar a expressiva maioria de artistas que pertenceram ou pertencem aos quadros da Universidade de Brasília (a propósito, veja-se o estudo de Grace Maria Machado de Freitas, “Escola de Sonhos”, publicado no catálogo Brasília Síntese das Artes, para a exposição com o mesmo título instalada no Centro Cultural Banco do Brasil, entre 20 de abril a 27 de junho de 2010).         A obra com a ilustração identificada das Obras Selecionadas começa com uma Nota de Abertura que define o Catálogo do Acervo de Obras de Arte da Universidade de Brasília, com as anotações explicativas de seus organizadores, professores e pesquisadores da UnB: Anelise Weingartner Ferreira, Eduardo Oliveira Soares, Elmira Luzia Melo Soares Simeão, Jeanina Daher, Maria Goretti Vieira Vulcão, Reinaldo Guedes Machado, Renata Azambuja de Oliveira e Vera Pugliese, Prossegue com o estudo da professora Grace Maria Machado de Freitas (Patrimônio, Patrimônios da Universidade de Brasília); e culmina com estudo da professora Maria Angélica Madeira (Acervos em busca de um museu), convidada especialmente pelo projeto para coroar as próximas páginas com os textos que acompanharão as obras e iluminarão nossa apreciação.

            É, portanto, com sentido de dever e com satisfação que a Universidade de Brasília promoveu esta publicação e a compartilha como uma dádiva de seu ano jubileu (2012),  ainda que publicada depois, na certeza de que seu valor simbólico ultrapassa a magnitude das obras expostas para afirmar-se como selo do compromisso assumido por toda a comunidade acadêmica em nome da preservação material e imaterial de seu patrimônio. Trata-se da responsabilidade que acompanha a universidade em sua finalidade e vocação: ao nos permitirmos humanizar pela beleza de seus acervos nos tornamos, por excelência, para além de um campus de motivação os seus dedicados guardiões. Somos, assim, parafraseando Sartre, condenados a ser o lugar crítico do conhecimento –ciência, arte, cultura – para escovar a história a contrapelo (Benjamin), para dissecar e desemaranhar a nervura do real (Chauí), em suma para pensar e representar o mundo com o objetivo de transformá-lo de maneira livre, justa e igualitária.

José Geraldo de Sousa Junior é Articulista do Estado de Direito, possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (1973), mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Ex- Reitor da Universidade de Brasília, período 2008-2012, é Membro de Associação Corporativa – Ordem dos Advogados do Brasil,  Professor Titular, da Universidade de Brasília,  Coordenador do Projeto O Direito Achado na Rua.

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