A fim de obter mais informação para a elaboração do meu próximo livro, “Educação como transmissão de saber e de VALORES”, dirigi-me à Escola da Estação da Luz, localizada no Município de Eusébio. Desde 2004, a Escola da Estação da Luz tem transformado vidas por meio da educação. Ao longo desses anos, mais de 3.400 crianças e adolescentes foram atendidos. Queria saber como os seus educadores conseguem envolver, no aprendizado das crianças, as suas famílias em situação de vulnerabilidade social. Fui informado de que a Escola, de natureza filantrópica e sem fins lucrativos, não cobra mensalidades e atua na área educacional, com um projeto pedagógico que valoriza a formação integral do aluno, promovendo a excelência humana e acadêmica. A instituição está vinculada à Organização da Sociedade Civil Estação da Luz, que, por sua vez, desenvolve projetos nas áreas da cultura, esporte, educação e saúde, ampliando o impacto positivo junto à comunidade atendida.
Antes da matrícula, os responsáveis são convocados para uma conversa inicial, na qual assumem formalmente o compromisso de colaborar ativamente com a educação dos filhos. Entre os compromissos firmados está a participação mensal nas reuniões de Educação em Valores Humanos, parte essencial da proposta pedagógica da escola. Além disso, nas reuniões pedagógicas, realizadas com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento dos alunos, a escola estabelece um fluxo de diálogo contínuo com as famílias. Caso o responsável deixe de comparecer a três convocações consecutivas, a permanência do estudante na escola fica condicionada ao seu retorno acompanhado pelo responsável legal, reafirmando a corresponsabilidade no processo educativo.
Educação com Valores Humanos é o grande compromisso dessa escola, enfatizado no seu portfólio: “nossa metodologia não se limita à transmissão de conhecimentos acadêmicos, mas também visa formar cidadãos éticos, responsáveis e compassivos. Valores humanos fundamentais como verdade, retidão, paz, amor e não violência, são incorporados nas atividades do projeto para promover o desenvolvimento integral das crianças”.
Os resultados alcançados pelos estudantes da Escola evidenciam a seriedade e o compromisso com a qualidade da educação oferecida. Um exemplo disso é o índice de permanência e conclusão escolar: de cada 225 alunos que ingressam na instituição, 220 concluem o Ensino Fundamental, demonstrando o sucesso de uma proposta que alia acompanhamento individualizado, ensino com valores e participação familiar. Os demais são trasnferidos em caso de mudança de endereço.
Outro indicativo desse êxito é o desempenho dos estudantes nos processos seletivos externos. Nos últimos anos, dos 14 inscritos para o ingresso na Escola Estadual de Educação Profissional do Eusébio (EEEP), 12 foram aprovados. Entre eles, destaca-se Davi Reis Sivirino, que conquistou o primeiro lugar no curso técnico em Eletromecânica na Escola Profissionalizante Eusébio de Queiroz, reforçando a solidez da base pedagógica construída ao longo dos anos.
Um método interessante para estimular a prática da solidariedade, por exemplo, é utilizado em aula de matemática. Ao invés ensinar que 5 menos 3 é igual a 2 (5-3=2), utiliza-se esta verbalização: tenho 5 maçãs, ao caminhar na rua encontrei uma pessoa com muita fome, me imaginei no lugar dela e pensei: é muito ruim não ter nada para comer. Então peguei 3 maçãs das que eu tinha e doei para ela. Com quantas fiquei?
O esporte, além do lazer, contribui para solidificar a cultura dos valores e do respeito aos direitos humanos. Na sua prática, o fair play, o jogo limpo, deve prevalecer. Por isso, se o gol foi feito com a mão, mesmo sem a percepção do juiz, o atleta deve confessar a irregularidade, com base na premissa de que não deve fazer nem se beneficiar de coisa errada. A devolução pelos alunos e seus familiares de troco errado, nas compras feitas em mercearias do bairro, é uma constatação destacada por comerciantes surpresos com a forma de educação repassada na escola.
O respeito ao próximo é trabalhado, diuturnamente, além da busca pela excelência acadêmica. A capacitação dos alunos em direitos humanos procura fazer com que cada um se imagine no lugar do outro. Isso estimula a solidariedade e reduz a agressividade. Na verdade, a visão distorcida sobre direitos humanos, segundo a qual “somente buscam seus propagadores proteção aos criminosos, sem qualquer atenção às vítimas”, decorre do fato de as escolas, as famílias e a sociedade, de um modo geral, não trabalharem com ênfase nem motivarem as pessoas para a sua observância. Se, desde cedo, fossem todas as crianças e os jovens brasileiros, na família e na escola, permanentemente estimulados, até com utilização da publicidade institucional, a respeitarem a vida, a propriedade e a integridade do outro, os direitos humanos não seriam estigmatizados. A constatação é incontroversa. Cultivado o hábito de cada um se colocar no lugar do outro para sentir a sua dor, por meio da educação como transmissão de valores, o animal que habita nos homens seria domesticado para viver de forma civilizada, com a consequente redução de homicídios e assaltos nas cidades.
Djalma Pinto é advogado, Mestre em Ciência Política e autor de diversos livros entre os quais Ética na Política, Distorções do Poder, Educação para a Cidadania e Cidade da Juventude.