Faleceu nesta segunda-feira (19/5), o professor e antropólogo Roberto Kant de Lima, um dos mais respeitados intelectuais brasileiros no campo da Antropologia Jurídica e das ciências sociais. A causa da morte não foi informada até o fechamento desta edição.
Com uma carreira marcada pela interdisciplinaridade, Kant de Lima foi um dos pioneiros nos estudos comparados sobre o funcionamento da justiça no Brasil, articulando saberes entre o Direito, a Antropologia e as Ciências Políticas.
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ (1978), doutor em Antropologia pela Universidade de Harvard (1986) e pós-doutor pela University of Alabama at Birmingham (1990), dedicou mais de cinco décadas à pesquisa, ao ensino e à formação de gerações de estudiosos.
Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), também foi um dos professores fundadores do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA). Coordenava o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC), além do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Administração Institucional de Conflitos (NEPEAC). Era membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 2018 e recebeu a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Entre suas obras mais relevantes, destacam-se:
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Ensaios de Antropologia e de Direito (Lumen Juris, 2008), onde explora os processos institucionais de produção da verdade jurídica;
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A Antropologia da Academia: Quando os Índios Somos Nós (EdUFF, 2011), uma crítica profunda à institucionalidade universitária;
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Pescadores de Itaipu: Meio Ambiente, Conflito e Ritual no Litoral do Estado do Rio de Janeiro (EdUFF, 1997), que conjuga etnografia e análise jurídica ambiental.
Roberto Kant de Lima construiu uma trajetória profundamente comprometida com a democratização do saber e a crítica das estruturas formais do Estado, sem nunca perder o rigor acadêmico e a generosidade intelectual com seus pares e alunos.
A comunidade acadêmica lamenta profundamente sua partida e reconhece o legado duradouro de um pensador que ajudou a redesenhar as fronteiras do direito e da antropologia no Brasil.
A relevância de sua trajetória foi sintetizada nas palavras do professor Dr. Willis Santiago Guerra Filho, que declarou:
“A antropologia jurídica no Brasil perde seu pioneiro e maior incentivador.”
O professor Dr. Rafael Mario Iorio Filho também destacou a perda:
“Colegas de trabalho, alunos e amigos perdem um dos seres humanos mais generosos — daqueles que sempre nos estimulam a edificar, construir e seguir em frente. Roberto Kant de Lima foi este exemplo constante de generosidade intelectual e humana.”
A professora Dra. Cláudia Franco também se manifestou:
Roberto Kant de Lima foi um revolucionário . Trouxe inúmeras reflexões sobre a prática do direito no Brasil. Estabeleceu raízes profundas da pesquisa empírica no Direto.