A luta pela terra transcende os países

Coluna A Advocacia Popular e as Lutas Sociais

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Encontro Internacional de Direitos Humanos da Via Campesina

A Escola Florestan Fernandes, em Guararema-SP, recebeu o Encontro Internacional de Direitos Humanos da Via Campesina, entre os dias 18 a 20 de agosto. Participaram advogadas e advogados de diversos movimentos do campo, vindos de 18 países diferentes da Ásia, Europa, África e América.

Foi um momento rico de troca de experiências, de debate sobre perspectivas para a efetivação de direitos, para uma melhor articulação e solidariedade entre os povos. Pôde-se verificar a riqueza da diversidade cultural presente no planeta, como também a identidade que existe na luta pela terra.

 

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A identidade da luta

Escutando a representação estadunidense, por exemplo, percebeu-se o ponto em comum do recrudescimento das normas para tolher manifestações e as formas de pensar diferente, com a conivência do Poder Judiciário. Com o relato da Andaluzia sobre a liderança sindical presa, viu-se como a criminalização de quem se levanta contra injustiças é praticamente universal.  Da mesma forma, ouvindo-se o relato sobre a situação da Índia, parece estar por todo o mundo a imposição de sementes transgênicas por parte do agronegócio.  A narrativa sobre a questão da terra no Nepal, a restrição de seus povos originários a terras sem acesso direto à água, afetando a sua cultura, a sua espiritualidade traz identidade com o que passa variadas populações indígenas pelo mundo. O massacre de Curuguaty no Paraguai, além de ser um retrato da concentração de terra e da violência no campo, foi o fato instrumentalizado para a ruptura institucional naquele país, formatando o modelo de golpe dado no Brasil, sem Forças Armadas, utilizando o Legislativo e o Judiciário para tanto, num ambiente antidemocrático, que só prejudica estas populações. A advogada tunisiana dividiu os desafios que as mulheres de seu país têm que enfrentar, por causa do machismo e do patriarcado. Estas e outras realidades foram partilhadas durante o Encontro.

 

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Combate aos legítimos movimentos populares

O Brasil ainda sofre com presos políticos também. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra- MST possui militantes nesta situação, inclusive, com a utilização da odiosa legislação sobre organização criminosa, para atingir legítimos movimentos populares. O Conselho Indigenista Missionário- CIMI relatou que, dentre kaigang, tupinambá, guarani-kaiowá, enenawê nawê, teharin, xucuru, pataxó, há mais de trinta indígenas criminalizados pelo país. São etnias dos estados da Amazonas, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Sul que possuem membros sofrendo prisões em regime fechado ou nas aldeias, por causa de suas militâncias por direitos.

Do ponto de vista da articulação internacional, para se enfrentar este quadro tenebroso apontaram-se duas importantes iniciativas. Uma delas é o tratado internacional vinculante de empresas aos direitos humanos. Muitas violações de direitos, inclusive, perpetradas pelos Estados, acontecem para atender a interesses de grandes empresas. Visando sociedades mais inclusivas, que propiciem o bem comum, há de se instituir cuidados e deveres.  A segunda iniciativa debatida foi o Tratado Campesino na ONU, uma Declaração de direitos das campesinas e campesinos, que são, muitas vezes, desrespeitados.

 

Foto: Repórter Vadimir Platonow/Agência Brasil

Foto: Repórter Vadimir Platonow/Agência Brasil

Perspectivas

Ao final, dentre outras proposições, debateu-se a criação de uma rede internacional desta advocacia do campo, a partir da Via Campesina. São inúmeros os desafios, mas para enfrenta-los necessita-se de articulação para tanto. Este Encontro demonstrou estas perspectivas e os movimentos populares, sempre em marcha, vão se organizando para cada obstáculo superar.

 

Rodrigo de MedeirosRodrigo de Medeiros Silva é Articulista do Estado de Direito – formado em Direito pela Universidade de Fortaleza, especialista em Direito Civil e Processual civil, no Instituto de Desenvolvimento Cultural (Porto Alegre-RS). Foi assessor parlamentar na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal de Fortaleza. Foi advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, de Sindicatos de Servidores Públicos Municipais e de Trabalhadores Rurais. Atuou na área do Direito da Criança e do Adolescente na Pastoral do Menor e no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará. Prestou serviço Association pour le Développemente Economic Regional- ADER, junto às comunidades indígenas cearenses Jenipapo-Kanindé, Pitagury, Tapeba e Tremembé. Participou do Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará-FDZCC na defesa de comunidades de pescadores. Contribuiu com o Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza pela OAB-CE.  Também prestou consultoria à Themis-Gênero e Justiça, em Porto Alegre-RS. Integra a Comissão Nacional de Acesso à Justiça do Conselho Federal da OAB e o Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul. É membro da Rede Nacional dos Advogados e Advogadas Populares-RENAP, Fórum Justiça-FJ e Articulação Justiça e Direitos Humanos-JUSDH. É consultor da UNESCO junto à Secretaria-Geral da Presidência da República.
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