Pintura corporal e alegre algazarra na aula sobre Grafismos e Monotipias na 21ª oficina no ar7!

Neste dia, 31.10, dividi a turma em dois grupos: o A, com sete pré-adolescentes e adolescentes entre 8 e 17 anos, que ocuparam a única mesa do espaço (sala da casa dos meninos) para os grafismos, e o B, com oito crianças de 2 anos a 7 anos, no chão, já devidamente forrado por mim, com papel pardo (atividade sempre realizada 30 min antes de cada oficina), para executarem suas monotipias. Estava sem o acompanhamento dos Educadores Sociais da Instituição: estava sozinho, contando com a força dos estímulos propostos, para que os dois grupos executassem os importantes e complexos objetivos da oficina.

Para relembrar: meu público alvo aqui são crianças e adolescentes vítimas da vulnerabilidade social, colocados neste abrigo emergencial da Fasc, via judicial e, através de audiências, são encaminhados ou para o retorno às famílias ou para outros abrigos ou para a casa lar da referida Instituição.

Grupo A: Grafismos. Depois de uma boa experiência, com as oficinas com conteúdos teóricos-práticos encadeados e sequencias, chegara o momento dos grafismos – expressão do pensamento em símbolos materiais, sobre o díptico de 1.20×1.40, já pintado na oficina sobre “action painting”, a partir de linhas. Considero o grafismo uma atitude de vanguarda, lembrando o graffiti, sobre este exercício pictórico do movimento expressionista abstrato, posterior a Segunda Guerra Mundial. Esta expressão de desenhos livres e espontâneos, sobre os espaços da obra já pintada, é uma autêntica atividade de re-significação de sentimentos e emoções individuais. E foram surgindo, sempre de forma lúdica e prazerosa, montanhas, flores, borboletas e super heróis, um olho, aproveitando um pequeno círculo já existente na pintura anterior da tela, entre outras riquezas simbólicas, transformando a obra num mapa emocional das crianças e adolescentes nesta situação de abrigagem, inclusive avaliando o bom trabalho da Instituição, que aparece, simbolicamente, como um refúgio para eles.

Grupo B: Enquanto o grupo A “viaja” em suas criações individuais, me dedico às crianças sentadas no chão para ministrar as monotipias – técnica simples de impressão, que realizo com duas telas: uma é manchada com tinta espessa, com espátula e depois a outra tela é prensada sobre a primeira, com as mãozinhas fazendo pressão (fotos). Para cada duas telas, duas crianças se intercalam colocando tinta a seu belo prazer. A cada separação de telas era uma alegria só, ao ver o que pareciam as manchas formadas. A cada duas duplas atendidas, afastava as telas, completamente molhadas e tentava dar um atendimento aos maiores, da mesa, porque o tempo todo estavam me pedindo outras cores, enquanto atendia os menores. Mesmo assim todos os pequenos realizaram sua experiência com monotipias, que ficaram lindas, mesmo sendo com guache, diferente da acrílica, que era específica para os maiores.

Finalizado com as crianças, que ficaram admirando as telas prontas, recém criadas, me voltei para os maiores, pela complexidade e responsabilidade de pintar seus desenhos direto com tinta, sem borrar, tarefa difícil até para artistas experientes! Cada vez que particularizava o atendimento, “viajava” junto na criação daquele artista adolescente, “saia do ar”… Quando percebi que as crianças do chão, neste momento, já estavam misturando, no papel pardo, a tinta que escorrera no momento das pressões entre as telas, com as mãos, e percebendo que conseguiam outros tons. Não tive dúvidas! Tinha que aproveitar este momento para que experienciassem outros tons, e fui colocando mais tintas, para que neste contato tátil, tão importante na fase em que estão, para que continuassem suas descobertas de outros tons.

Me voltei para atender os adolescentes da mesa. Só me voltei para as crianças quando o rebulíço ficou maior. Olhei e estavam todos pintados da cabeça aos pés! E esfregando a tinta nas partes corporais ainda não cobertas! Numa algazarra só! E mais: investindo contra mim e os adolescentes querendo nos abraçar! Em risadas desmedidas de tanto contentamento. Vendo que colocaria a obra sobre a mesa em perigo, abri a porta para que abraçassem os Educadores Sociais do lado de fora, sentados, cuidando dos menores que ficaram no pátio. Mais como um pedido de apoio. Encaminharam todos os pequenos para o banho! E não ficaram nada satisfeitos comigo. Conclusão: a par de todo o benefício que esta atividade efetiva em seus participantes, por onde passo com esta atividade, há 40 anos, em sua maioria, o mais comum é encontrar um estranhamento, e muito pouco conhecimento de sua importância, a despeito de toda a grande bibliografia a respeito. Mesmo angariando um prêmio nacional e dois estaduais, só em artes visuais, nestes projetos, pois, individualmente, tenho um prêmio internacional, que me levou a pintar ao vivo na Pont Des Arts/Paris, entre os Museus Louvre e D’Orsay. E seriam muito mais se também acrescentasse os prêmios em artes cênicas. Mesmo assim há esta incompreensão por pura falta de informação, talvez uma falha na educação formal, mesmo universitária. Meu consolo é que o Sociólogo Boaventura de Sousa Santos, depois de finalizar. a seu convite, um Congresso Internacional de Direitos Humanos, janeiro 2019, em Lisboa, avaliou publicamente o Artinclusão como uma “Beleza Marginalizada”. Incluiu nesta apreciação o Projeto “Direito no Cárcere”, idealizado por Carmela Grüne, administradora deste projeto, promovido pelo Fumproarte/Prefeitura Municipal . No dia desta oficina comprovei isto: uma atividade marginalizada, nem por isso incrivelmente maravilhosa!

 

Fotos: mesmo sozinho consegui fazer alguns registros desta experiência, que está me enriquecendo muito. Sempre agradecido a Fasc, pela especial oportunidade, especialmente na pessoa de Jeanne Luz da Silva, Diretora do AR7, pela acolhida.

Fotos em: https://www.artinclusao.com.br/post/pintura-corporal-e-alegre-algazarra-na-aula-sobre-grafismos-e-monotipias-na-21%C2%AA-oficina-no-ar7
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