Por que a mediação empodera?

Coluna Mediação de Conflitos

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Foto: Pixabay

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Empoderamento

Empoderamento vem da palavra inglesa empowerment, que traduz uma prática de compartilhamento de informações, recompensas e poder de decisão que visa resolver problemas e melhorar o desempenho. A sua aplicação mais desenvolvida advém dos ambientes corporativos que procuram incrementar suas atividades superando uma concepção hierárquica pouco producente no processo de tomada de decisão. Em tempos modernos, funcionários tornaram-se colaboradores participando ativamente das deliberações e são responsáveis pelo rumo das negociações nas organizações nas quais estão inseridos.

As empresas são estruturas políticas palcos de frequentes embates pessoais, interpessoais e intergrupais. E, à medida que se delega poder e responsabilidade, todos querem fazer com que suas ideias e conceitos prevaleçam. Para promover o empowerment, no entanto, não basta dar voz ao funcionário ou abrir espaço para que ele se posicione. É preciso que lhe sejam concedidas as reais condições para o pleno exercício de sua autonomia e habilidades promovendo o seu ownership, ou seja, a capacidade de pensar e agir tal qual o dono do empreendimento.

Mas como isso pode acontecer dentro da esfera da mediação? De que maneira se dá o empoderamento dentro de um procedimento de solução de conflitos? Ele se dá na medida em que as pessoas envolvidas na disputa desenvolvem capacidades para resolver não só aquele conflito mediado, bem como outras questões que no futuro vierem a se apresentar. Essas habilidades das partes serão trabalhadas pelo mediador do caso. Ele será o encarregado de incrementar as posturas positivas dos mediandos através de basicamente quatro ferramentas: o exemplo, a empatia, a mudança de foco e o reconhecimento ou motivação.

Empatia

Através de seu exemplo de serenidade, confiança e postura de escuta ativa o mediador demonstra às partes como é possível trabalhar de forma cooperativa, ouvindo com empatia o outro lado da história e empreendendo uma comunicação produtiva. Dificilmente um facilitador nervoso, tenso e precipitado será capaz de favorecer uma boa interação entre os participantes. Pelo contrário, a tendência será reproduzir este mesmo comportamento e a consequente frustração da mediação. É preciso buscar uma atuação que escute as partes atentamente e busque fazer com que interajam sobre o problema, ao mesmo tempo também em que o mediador se isenta de posicionamento em favor de qualquer uma delas. Na prática é uma linha tênue que precisa ficar bem equilibrada.

A empatia significa colocar-se no lugar do outro. Ou seja, a atitude do mediador que demonstra acolher o ponto de vista alheio influencia os mediandos a se comunicarem de maneira mais receptiva (na prática, significa o mediador expressar por exemplo: eu entendo a dificuldade que está passando ou posso imaginar como isso lhe afeta etc). Para isso, é preciso que primeiro se escute com paciência e generosidade a realidade que está sendo colocada pelo próximo, refletindo sobre as possibilidades de tentar ceder naquilo que lhe for possível. Claro que isso não implica uma aceitação irrestrita, mas tão somente a procura por desenvolver a avaliação das possíveis concessões que podem ser feitas tendo em vista sempre a construção de algo mais consistente e duradouro.

 

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Frequentemente, situações simples e corriqueiras podem resvalar em problemas complicados e que à medida que são postergados, inflamam o antagonismo e o embate entre as partes. Acredito que todos já tenham vivenciado ou ao mesmo ouviram falar de algum conflito entre vizinhos. Em geral, as causas são fatos pontuais, fáceis de serem trabalhados e plenamente possíveis de serem mediados e acordados. No entanto, quando se postergam ao longo dos anos, muitas vezes a origem da discórdia fica completamente esquecida e as pessoas ficam simplesmente alimentando as discussões e os atritos. E qual seria o sentido disso? A quem isso é proveitoso? Será que alguém percebe nisso algo agradável e interessante em alguma maneira? Isso não custa muito mais do que uma pequena flexibilização por todos e a solução definitiva da questão? Certamente que sim.

Novas perspectivas

E por que mudar o foco é importante? Para que as pessoas deixem de pensar exclusivamente no problema e se permitam refletir sobre os benefícios da solução. Mediação requer também um otimismo e esperança na construção de um melhor relacionamento a longo prazo. É uma nova relação que se edifica a partir da abertura do procedimento, com novas perspectivas, com maior conhecimento sobre as dificuldades que assolam o outro e também sobre as oportunidades que estão na própria esfera de ação. O eixo de atenção das partes precisa estar voltado às seguintes reflexões: o que EU posso fazer para contribuir com o encerramento desse conflito? O que está na minha alçada que pode ser favorecer ao desfecho dessa disputa?

A cada sessão de mediação as pessoas fazem avanços, ainda que seja exclusivamente em relação ao conhecimento sobre um outro ponto de vista. E todo progresso deve ser enaltecido. Isso gera um grande entusiasmo para que os mediandos persistam, se empenhem e acreditem no futuro do procedimento. O reforço positivo e o reconhecimento da evolução são fundamentais para suscitar a motivação no mundo corporativo e o mesmo acontece também durante o uso deste método de solução de controvérsias. Isso incentiva seus participantes e revela-se encorajador para que as posturas colaborativas se reproduzam.

Oportunidade de crescimento

Voltando ao empoderamento propriamente dito, cada etapa de progressão na resolução auxilia no crescimento do aprendizado das partes sobre aspectos relacionados à contenda, apura a sensibilidade para enxergar a questão sobre a perspectiva alheia e amplia o horizonte de visualização para além do conflito presente. Esse círculo virtuoso se repete a cada nova disputa que se apresenta na vida daquelas pessoas. Uma vez que experimentam os benefícios e os frutos de um acordo elaborado por elas próprias, respeitando suas capacidades, conscientemente passam a buscar que aquela experiência se repita.

Esta sem dúvida é a maior benesse proporcionada pela mediação. O mediador instiga os mediandos a procurarem vias para equacionar um determinado problema e concomitantemente, faz com que as habilidades para solução de qualquer conflito sejam aprendidas. Diante de situações futuras pode ser que aqueles que anteriormente já tenham passado pelo procedimento sequer precisem de um terceiro para facilitar a comunicação e auxiliar na busca pelo fim do confronto. Por própria iniciativa, eles já estarão predispostos a agirem nesse sentido, compartilhando as compreensões sobre a questão que se apresenta e abrindo o diálogo visando discutir sobre as possibilidades de cada um para empreender uma pacificação sobre ela.

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Empoderar, portanto, vai muito além de ter poder. Este implica exercer algum tipo de domínio ou controle. Na mediação não há esse tipo de relação. Todos são chamados a se portarem de forma cooperativa para que todos possam ser beneficiados. A lógica aqui é a do ganha-ganha, ou seja, ceder até certo ponto para que juntos possam usufruir de um acordo sustentável, firme e duradouro que garanta a satisfação de seus interesses e necessidades. Também vai além do horizonte de um acordo pois ainda que não consigam chegar a um consenso sobre determinado tema, o mais importante é o impulso à uma cultura de pacificação social com restauração de aptidões básicas como a capacidade de escuta e de abrir-se à compreensão do outro.

O conflito ao invés de um fardo a ser carregado, passa a ser encarado como uma oportunidade de crescimento pessoal e coletivo que valoriza o comprometimento em seguir perseverante na busca de alternativas como também posteriormente em garantir que o que tenha sido acordado seja cumprido até o fim. É com esse entendimento que os mediandos devem chegar ao final de seus procedimentos, mesmo que não consigam acordar. O objetivo principal não se limita a um compromisso firmado. É mais profundo e muito mais abrangente que isso: a proposta é de uma transformação emocional, cognitiva e comportamental dos indivíduos.

A transformação emocional diz respeito à mudança no paradigma de observação. Ao invés de um olhar individualista e restrito, expande-se para uma nova realidade que inclui outras percepções particulares sobre o mesmo ocorrido. Juntos serão então desafiados a contemplar o fato sob diferentes ângulos se colocando na posição do outro. A simples possibilidade de explicitar as emoções e os sentimentos que lhes afetam já provoca um impacto muito forte na diminuição da animosidade entre eles. A cognitiva implica em adquirir consciência fundamentalmente sobre os seguintes aspectos: as próprias reações ante as emoções; as reais necessidades e interesses pessoais que visam ser supridos bem como os do outro; criação da disponibilidade de acolhimento e compreensão de diferentes pontos de vista e ciência de que todos têm responsabilidades na construção de uma solução para a controvérsia. E por fim, a comportamental corresponde à uma conversão de uma atitude combativa em uma postura colaborativa.

Conclusão

Conclui-se portanto que o empoderamento na mediação é um conceito amplo e complexo a ser estudado. Não se restringe a abrir um canal ou um espaço de comunicação, à elaboração de um acordo ou à restauração da capacidade dos próprios atingidos resolverem seus desentendimentos. Tampouco visa à qualquer forma de dominação ou imposição entre indivíduos. Implica uma profunda transformação na forma dos indivíduos se relacionarem e na maneira com a qual encaram os conflitos. Requer assunção de responsabilidades na busca por alternativas e comprometimento com a manutenção do que for estipulado. Propõe um olhar otimista sobre o futuro e um envolvimento com a proliferação de uma cultura de paz.

 

Fernanda Bragança é Articulista do Estado de Direito, responsável pela Coluna “Mediação de conflitos” – Doutoranda em Mediação pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Graduada em Direito pela UFRJ e em Administração pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. Advogada.

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