O discurso político em tempos de bullying

Coluna Assédio Moral no Trabalho

“Nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito.”
Abraham Lincoln

O poder das fake news

Estamos a testemunhar uma transformação paradigmática no modo dominante de comunicação.
Inexistem filtros para o que circula em diversificadas mídias, afastando-a do tradicional processamento da via impressa.
Reportagens investigativas sérias que se contrapõem à notícias enganosas ou relatam eventos de importância pública parecem perder espaço.
Assim, são feitas manifestações tolas, irresponsáveis, infamantes e desumanas sem qualquer necessidade de lastro com a realidade.
De um conteúdo vazio pode-se facilmente passar-se para divulgação de informações noticiosas que não representam a realidade, mas que são compartilhadas na internet como se fossem verídicas, principalmente através das redes sociais, as classificadas fake news.

Foto: Julien de Rosa/Agência Brasil/Arquivo

Lembrando que, esta discussão das fake news projetou-se enormemente com a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA na qual a disseminação de notícias falsas pode ter sido decisiva para o resultado final das campanhas.
Aliás, o perigo das fake news imbrica-se com o bullying à medida que se chega ao despotismo, à tirania e à falência democrática. Noutros termos, a utilização de comunicações difamantes, destrói instituições e pessoas, enfraquecendo a democracia e propiciando os meios à ditadura. (1)
Enfim, há todo um favorável cenário para o bullying na política.

O discurso político

Destruído o diálogo, fomentada a farsa e o fanatismo, insensibilidade e desprezo e humilhações caracterizam o discurso político.
Não se olvidando que, haverá toda uma massa acrítica e belicosa a replicar infinitamente o conteúdo assediador do discurso político.
Há o que já se chamou, neste ínterim, de contágio emocional. Um efeito tóxico a reproduzir sexismo, racismo, homofobia, xenofobia, especismo e ódio.
De fato, estar-se-á a basear este discurso político em tempos de bullying, em mensagens simples, não elaboradas ou detalhadas, insuficientemente complexas a barrar comunicações inteligentes e críticas. Tudo aliás, em consonância à celeridade das modernas mídias sociais que são satisfeitas a partir de breves períodos de atenção do público, não mais que isto.

Foto: Pixabay

E, desta agilidade, nasce outro elemento a individuar este discurso político, qual seja, a impulsividade. Tomemos, por exemplo, um instrumento muito bem manejado atualmente, o Twitter. Graças à tecnologia sem fio, é possível twittar praticamente de qualquer lugar e a qualquer momento, requerendo pouco esforço e pouca reflexão, desconsiderando-se assim, as consequências. Tem-se, portanto, uma atividade altamente impulsiva.
E, neste caminho, alcança-se finalmente, a incivilidade. Deste discurso político impulsivo, encoraja-se a truculência e as ofensas, estratégia aliás, sabidamente empregada nos regimes totalitários.
Os traços de personalidade do narcisismo, maquiavelismo e psicopatia – Dark Triad – estarão a sustentar este discurso político. Numa busca de autopromoção, necessidade desesperada e compulsiva de atenção, expressam negatividade e agressividade. (2)
O discurso político assediante está criado!

Referências:

(1) Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/49593/ditaduras-comecam-com-noticias-falsas-diz-papa-francisco?fbclid=IwAR21-bXJGPsM85UpEKewlgXip2GFAwUoKUWEs0oELIuyVLRNCZhrZvPkI3g Acesso em 18 out. 2018.
(2) Disponível em: https://nca.tandfonline.com/doi/full/10.1080/15295036.2016.1266686?scroll=top&needAccess=true#.W8n252hKiUk Acesso em 18 out. 2018.

 

Ivanira
Ivanira Pancheri é Articulista do Estado de Direito, Pós-Doutoranda em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2015). Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (1993). Mestrado em Direito Processual Penal pela Universidade de São Paulo (2000). Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental pela Faculdades Metropolitanas Unidas (2009). Doutorado em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é advogada – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Esteve à frente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Participa em bancas examinadoras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo como Professora Convidada. Autora de artigos e publicações em revistas especializadas na área do Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Processual Penal, Ambiental e Biodireito.

Se você deseja acompanhar as notícias do Jornal Estado de Direito, envie seu nome e a mensagem “JED” para o número (51) 99913-1398, assim incluiremos seu contato na lista de transmissão de notícias.

Comente

Comentários

  • (will not be published)

Comente e compartilhe