Artigo avalia protocolo com perspectiva de gênero na reconstrução da identidade de mulheres trans e travestis

A edição especial da revista “CNJ 20 anos: impactos das políticas do CNJ no Poder Judiciário e na sociedade” traz, entre seus artigos, um estudo que debate o papel do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na reconstrução da identidade de mulheres transexuais e travestis no Brasil. O artigo é assinado pela juíza Gisele Souza de Oliveira (TJES), coordenadora das varas criminais e de execução penal do Espírito Santo, e Elda Coelho Bussinguer, livre docente pela Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) e coordenadora do programa de pós-graduação em Direito da Faculdade de Direito de Vitória (ES).

texto parte da análise do protocolo publicado pelo CNJ em 2021, enfatizando como esse instrumento normativo pode funcionar como uma resposta institucional à violência sistêmica enfrentada por mulheres trans e travestis, especialmente no ambiente jurídico. As autoras argumentam que, ao reconhecer a centralidade da identidade de gênero e da vivência das pessoas transexuais nos processos judiciais, o protocolo oferece caminhos para um julgamento mais sensível, humanizado e atento às desigualdades.

Acesse a Revista CNJ 20 anos: impactos das políticas do CNJ no Poder Judiciário e na sociedade 

No primeiro segmento do artigo, as autoras apresentam o histórico e os objetivos do protocolo. Elas destacam que o documento propõe diretrizes para que magistradas e magistrados adotem práticas que combatam estereótipos de gênero e respeitem a autodeterminação de pessoas trans nos processos judiciais. Nesse contexto, o Judiciário é convocado a superar práticas discriminatórias e a considerar a complexidade das trajetórias individuais dessas mulheres.

Em seguida, o artigo discute os mecanismos de exclusão que afetam a população trans. Valendo-se da teoria queer de Judith Butler, o texto ressalta como a transfobia se manifesta na precarização das condições de vida e no acesso desigual a direitos básicos e analisa a maneira como essas experiências repercutem nos processos judiciais. Os argumentos também encontram suporte na teoria do reconhecimento do filósofo Axel Honneth de que a identidade e a autonomia são construídas por meio de um reconhecimento intersubjetivo. 

O texto evidencia, ainda, um caso concreto em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a aplicação da Lei Maria da Penha a uma mulher transexual vítima de violência por parte do próprio genitor, em razão de sua condição como mulher trans. As autoras concluem que o protocolo representa, além de uma possibilidade de enfrentamento à lógica cisnormativa — e que, muitas vezes, pauta o sistema judiciário brasileiro —, uma contribuição para a “reconstrução da identidade das mulheres transexuais e travestis do Brasil, auxiliando na superação de violações de direitos sofridas por esse grupo, vítima de violência e discriminação”. 

Texto: Jéssica Vasconcelos
Edição: Beatriz Borges
Revisão: Caroline Zanetti
Agência CNJ de Notícias 
 

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