Proposta dialógica para tratar temas contemporâneos e superar a intolerância

Lido para Você, por José Geraldo de Sousa Junior, articulista do Jornal Estado de Direito.

 

 

Coleção Diálogos em Construção. Proposta Dialógica para Tratar Temas Contemporâneos e Superar a Intolerância. Edla Lula. 5 volumes: 1º Sobre Política; 2º Sobre Pandemia; 3º Sobre Sociedade; 4º Sobre Economia, Ecologia e Questão Agrária; 5º Sobre Fé e Ensino Social da Igreja. São Leopoldo: Casa Leiria, 2021. Para acesso ao material digital: https://olma.org.br/textos-e-artigos/

                             

                         

 

Em abril deste ano, em evento que se realizou no Auditório do Centro Cultural de Brasília – Centro Cultural de Brasília, ligado à Província dos Jesuítas de Brasília, tiveram início os Diálogos de Justiça e Paz, uma ação coordenada pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA, a Comissão Justiça e Paz de Brasília – CJP-DF, o Centro Cultural de Brasília – CCB e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CBJP da CNBB.

Os Diálogos de Justiça e Paz são inovadores. Realizado desde então, sempre na primeira segunda-feira de cada mês, às 19h, eles abordam temas sensíveis à sociedade brasileira serão tratados em um formato de roda de conversa. A inovação surge da parceria entre os organismos coordenadores reunindo as “Conversas e Justiça e Paz “, protagonizadas pela CJP-DF – Comissão Justiça e Paz de Brasília, e os “Diálogos em Construção”, desenvolvido pelo OLMA, trazendo neste contexto uma homenagem ao Padre Thierry Linard de Guertechin SJ, belga que vivia no Brasil desde 1975, e cuja obra é fecunda na promoção do diálogo e do bem comum.

Conforme artigo publicado na Coluna Justiça e Paz, do Jornal Brasil Popular (https://www.brasilpopular.com/dialogos-de-justica-e-paz/), assinado por Eduardo Xavier Lemos, presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília, e Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho, vice-presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília, com a adesão da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, da CNBB, que também desenvolve um projeto com discernimento semelhante – Despertar com Justiça e Paz –essasatividades acabaram por construiruma tradição: palestrantes convidados de destaque no cenário nacional, em diálogossobre temas importantes e urgentes como a Ecologia Integral, a Justiça Socioambiental,o Apostolado Social da Igreja e suas interfaces com temas referentes a economia, política, ambientalismo e sociedade civil, com aportes significativos na construção de análise de conjuntura da atualidade. O resultado configura um diagnóstico de riqueza intelectual e técnica, de leitura da realidade e necessidade de transformação da sociedade brasileira, além de substantivo repositório midiático e editorial disponível para consulta.

Do mesmo modo, as Conversas de Justiça e Paz, promovidas pela CJP-D e iniciadas em 2014, no dia 04 de agosto, ocorrendo sempre às  primeiras segundas-feiras de cada mês, no Auditório Dom José Freire Falcão da Cúria Metropolitana, Anexo da Catedral de Brasília – onde circulam os homens e mulheres de boa vontade com os quais se tem a expectativa de um contínuo diálogo, considerando que, apesar da laicidade, a catedral é o primeiro edifício da Esplanada dos Ministérios -, integram iniciativas de ampliação do diálogo entre diferentes setores da sociedade, com especialistas da academia e movimentos sociais, a população e interessados nos mais diferentes temas cujo diálogo é necessário e muitas vezes viabilizado nesses encontros, seguindo a tradição da Comissão, voltada à Justiça e à Paz.

A matéria deste Lido para Você, remete `”Coleção Diálogos em Construção”, desenvolvido pelo OLMA, que resultaram na Coleção Diálogos em Construção (https://olma.org.br/2022/04/01/lancamento-da-colecao-dialogos-em-construcao/), lançada pelo Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) e o Centro Cultural de Brasília (CCB). A coleção foi estruturada a partir dos encontros: proposta dialógica para tratar assuntos relevantes para a sociedade brasileira, cujo debate foi praticamente interditado pelo clima de intolerância que tem marcado o país.

São 5 volumes, com os títulos acima designados, todos organizados pela jornalista Edla Lula, que posteriormente passou a integrar a Comissão Justiça e Paz de Brasília. Os livros fazem uma análise em 360º das principais questões que envolvem o Brasil recente, a partir da ótica de especialistas em cinco eixos temáticos que pontuaram o programa Diálogos em Construção entre 2016, a partir do impeachment da presidente Dilma Rousseff e 2021: Política; Economia, Ecologia e Reforma Agrária; Fé e Doutrina Social da Igreja; Sociedade e Pandemia.

Conforme a introdução da Coleção, o filósofo Manfredo de Oliveira; os juristas Gilmar Mendes, Carol Proner, Jacques Alfonsin e Eugênio Aragão; os teólogos Dom Leonardo Steiner e Pastor Ariovaldo Ramos; os ecologistas Leonardo Boff e Moema Miranda; o cientista Osvaldo Aly Júnior; os diplomatas Celso Amorim, Paulo Roberto de Almeida e Samuel Pinheiro Guimarães; os economistas Guilherme Costa Delgado, Paulo Nogueira Batista Junior, Roberto Piscitelli e José Celso Cardoso Filho; os jornalistas Tereza Cruvinel, Luís Nassif, Helena Chagas e Venício Artur de Lima e os políticos Erika Kokay, Raul Jungmann, Alessandro Molon e Patrus Ananias são alguns dos personagens presentes na coleção que expõem a sua visão sobre assuntos que pautaram a política e a sociedade brasileira após o impeachment.

Eu próprio participo do projeto, tendo estado presente no segundo evento temático (conforme registro no primeiro volume) que tratou do tema “Dilemas da democracia e a reforma política”. Compartilhei a mesa de debate com o então deputado, ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-Ministro do Desenvolvimento Agrário e com ex-Procurador-Geral da República Cláudio Fonteles. Para Guilherme Delgado e Luciano Fázio que fazem a Introdução a esse primeiro volume, “o consenso dos convidados é no sentido do apelo aos aspectos mais doutrinais da reforma política, caminhando a argumentação para que a reforma política se faça comprometida com a justiça social, pois não pode haver prática da virtude, em sentido de virtude democrática, sem o atendimento das necessidades básicas ou o mínimo da condição humana”.

Na apresentação, comum a todos os cinco volumes, a organizadora Edla Lula, explica o projeto:

Ele surgiu (o livro) da avaliação feita entre os integrantes da equipe que organiza os ‘Diálogos’ de que seria necessário revisitar os quarenta eventos realizados entre os anos de 2016 e 2020. A ideia tinha dois propósitos básicos: o primeiro era o de não deixar dissolver pelas nuvens do ciberespaço os conteúdos apresentados pelos especialistas, criteriosamente convidados a nos ajudar a pensar aquele momento crítico pelo qual passava – e ainda passa – a história do Brasil. O segundo, verificar em que medida o propósito inicial dos seminários foi contemplado, alcançando o seu objetivo de buscar respostas que explicassem os acontecimentos políticos e os meandros do processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, com seus desdobramentos nos anos seguintes.

A mera transcrição das palestras não seria opção, pois, embora trouxesse em detalhes a riqueza de tudo o que foi dito, resultaria em um calhamaço de mais de quinhentas páginas, além do fato de que vários assuntos ali tocados teriam perecido. A frieza de um relatório também não comportava, pois, diante de tantas confirmações que evidenciaram o que foi dito, seria necessário atualizá-lo e dinamizá-lo.

Tornou-se necessário, então, compilar os assuntos e agrupá-los em volumes temáticos, lançando, assim, o olhar crítico, à luz dos acontecimentos que se sucederam e o que, em quase tudo, confirmaram as teses trazidas pelos especialistas.

É importante ressaltar que as falas aqui registradas são editadas e retextualizadas para que se cumpra a transposição da oralidade, com as suas peculiaridades e vícios, para a linguagem escrita. Precisaram ser editadas ainda para que pudessem transmitir a informação com menor número de caracteres, preservando-se, evidentemente, com fidelidade, o conteúdo do que se disse.

Para que o leitor possa conhecer a integralidade das falas, o livro dá acesso direto aos eventos, através do QR Code colocado na abertura de cada capítulo, que levará às palestras registradas no canal do OLMA no Youtube.

 

            O projeto é também um preito de memória e homenagem ao Padre Thierry Linard de Gueterchin SJ, falecido em 30/01/2022. Como registram Eduardo Lemos e Ana Paula Barbalho, no artigo citado, Padre Thierry integrou a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e foi o inspirador do OLMA e do projeto Diálogos em Construção, tendo se tornado amado irmão, amigo, companheiro, como os seus colegas nesses projetos o consideravam, mas que são também prova dessa fraternidade, amizade e companheirismo a esse belga que veio para o Brasil com 31 anos e daqui não mais saiu – a não ser em viagens sazonais, para se encontrar com a família, para estudos e serviços de sua Ordem –, [conforme] as inúmeras mensagens, depoimentos, necrológios que, logo que se teve a notícia de sua páscoa definitiva, começaram a circular intensamente.

            Para o padre José Ivo Follmann, S. J., outro grande inspirador e condutor da proposta, no Prefácio,

Diálogos em Construção’ veio ocupando, desde 2016, determinados tempos e espaços de um valente grupo de pessoas, que se debruçou, mensalmente, sobre temas identificados como mais preocupantes de dentro dos múltiplos processos de degradação que estamos vivendo. Foram pautas envolvendo múltiplas problemáticas econômicas, políticas, sociais, éticas, culturais e ambientais. A publicação sistematizada dos ‘Diálogos em Construção’ visa a ampliação dos diálogos e da sua construção para outras instâncias e grupos, para além dos públicos que estiveram diretamente envolvidos em momentos dados em um espaço e tempo bem delimitados, em cada mês. A publicação talvez faça parte do processo de paciência e dos esforços consistentes na ‘construção’. ‘Diálogos em Construção’ pulsa com vigor renovado, vendo, assim, o seu esforço reverberado e multiplicado com a possibilidade de novas qualificações das mesmas vozes, em círculos mais avançados.

 

Padre Ivo que muito contribuiu para formular o projeto “Diálogos em Construção”, foi também um dos principais incentivadores e formuladores da versão concertada dos “Diálogos de Justiça e Paz”, na sua forma atualmente divulgada, na associação entre as entidades de justiça e paz.

Infelizmente para nós padre Ivo retornou a sua São Leopoldo para retomar suas atividades presenciais no Instituto Humanitas, da Unisinos, a universidade jesuíta do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Mas ainda se faz presente pela plataforma virtual. Na edição do último dia 3, sobre o tema das migrações e refúgio, por meio de mensagens nas nossas plataformas do Youtube e do Facebook, lá estava ele, dialogando, contribuindo para o melhor discernimento dos temas.

Isso lembra que a distancia não impedirá sua contínua e esclarecedora participação em nossos debates, tal como ainda nos cuidados de distanciamento, sempre contamos com a sua palavra de orientação. Confira-se: Rerum Novarum 130 Anos. O Mundo do Trabalho e os Direitos Sociais   https://www.youtube.com/watch?v=58-7MxGxGSg” https://www.youtube.com/watch?v=58-7MxGxGSg; Homenagem ao Padre Thierry Linard. Orar, Discernir e Trabalhar: Analisar a Realidade Social e Contribuir para a Superação do Abismo da Injustiça Social   https://www.youtube.com/watch?v=gzxfFf39hac; a rica conversa sobre a Páscoa e a conversão cristã e sobre o papel de reflexão da campanha da Fraternidade 2023 para a caminhada do cristão brasileiro no tempo quaresmal. No segundo bloco, abordamos a sinodalidade e o retorno ao Evangelho, vivo em nossa caminhada.   https://www.youtube.com/watch?v=ck3CjlHrp2I .

Pois, até como lembram os Organizadores, “presencialmente ou no ambiente on-line, a participação [sobretudo] de cidadãos e cidadãs é a marca principal do evento e, neste livro, ela se faz presente a partir dos comentários às colocações dos palestrantes, sempre dois convidados. Como se trata de ‘diálogo’ e não de ‘debate’, as visões aqui colocadas quase nunca são antagônicas, mas complementares”.

 

 

José Geraldo de Sousa Junior é Articulista do Estado de Direito, possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (1973), mestrado em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Ex- Reitor da Universidade de Brasília, período 2008-2012, é Membro de Associação Corporativa – Ordem dos Advogados do Brasil,  Professor Titular, da Universidade de Brasília,  Coordenador do Projeto O Direito Achado na Rua.55

 

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