Motivação incorporada ao estudo do Direito: recado aos que se lançam nesse universo

Coluna Instante Jurídico

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Cursinho da POLI

Créditos: Cecília Bastos/USP Imagens

 

Pre-scriptum: A coluna de hoje faz referência, de uma maneira geral, à realidade de todos os estudantes universitários, não só aos estudantes de Direito.

Não obstante a presente coluna se destine a oferecer reflexões sobre o ensino, as decisões, ou mesmo as notícias que agitam o mundo jurídico na contemporaneidade, gostaria, nessa minha primeira participação como colunista do Jornal Estado de Direito, de tratar de assunto diverso; gostaria, excepcionalmente, de falar sobre aqueles que, na minha opinião, também dão dinamicidade ao fenômeno jurídico, a ponto de fazer com que queiramos compreender o Direito cada vez mais.

Não. Não quero falar aqui de uma categoria conhecida por muitos como operadores do Direito – formada por advogados, delegados, promotores, defensores públicos, juízes ou qualquer outro profissional vinculado às atividades judiciárias – ou, como seria de se esperar, de cidadãos que, ao vivenciarem todo tipo de descalabro, acabam por confiar a resolução de seus problemas ao conjunto de profissionais mencionados alhures.

Sede-CFOAB

Edifício do Conselho Federal da OAB, em Brasília. | Créditos: Eugenio Novaes – http://www.oab.org.br/arquivos/upload/imagem/banner/en-3017-403268881.jpg, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30518049

Em verdade, quero me pronunciar sobre um grupo de personagens que, pela sua importância, mereciam uma coluna própria. Digo isso porque o peso de suas decisões implica em responsabilidades que se iniciam muito antes da realização da prova da OAB ou da aprovação em qualquer concurso público.

Falo aqui de indivíduos gregários que, por vezes, percorrem longas distâncias em busca do conhecimento; falo aqui de seres humanos tensionados diante do binômio: compromissos acadêmicos X obrigações do dia a dia; falo aqui daqueles que, na condição de estagiários, trabalham muito e recebem pouco, mas, ainda sim, o fazem com contentamento.

Em resumo: falo, aqui, especificadamente, dos estudantes de Direito.

De um modo geral, tal condição se desenvolve, quase sempre, da mesma maneira: ou o indivíduo, ao tentar o vestibular, acaba sendo influenciado por pessoas próximas há muito envolvidas com a atividade jurídica, ou o sujeito, governado por discursos enérgicos e de tom vigoroso (daqueles que se vê em alguns filmes hollywoodianos datados do início da década de noventa)[1], já possui uma inclinação natural para se tornar um protagonista em busca da verdadeira justiça.

Mas, antes mesmo da realização do vestibular em Direito, o candidato costuma ser abalroado por uma série de comentários, tais como: “Estudar Direito para quê? Para soltar bandido?!”, “Meu amigo, o mercado já está saturado. Isso não vale à pena.”; “A prova da OAB é muito difícil!”; “Você jamais passará num concurso público!”.

E isso, como é possível imaginar, é só o começo.

Digo isso pois ao ingressar num curso de Direito o estudante acaba por se deparar com um mundo totalmente novo – tal qual um pássaro ao se libertar de sua antiga gaiola.[2]

Nesse novo mundo, o aluno – agora acadêmico de Direito – deverá, dentre outras coisas: ler exaustivamente, realizar os mais variados trabalhos, elaborar seminários, estar preparado para provas escritas e verbais, se fazer presente nas mais variadas audiências, fazer relatórios, desenvolver artigos e monografias, etc.

Cursinho da POLI

Créditos: Cecília Bastos/USP Imagens

Somando-se isso aos discursos de desestímulo mencionados anteriormente, é natural que muitos se perguntem: afinal, será que o esforço vale mesmo à pena?

Pois digo-lhes: a resposta depende exclusivamente de cada um.

Não faz muito tempo, um homem muito inteligente me disse que existem dois tipos de pessoa nesse mundo. Há pessoas que possuem brio e outras pessoas que possuem brilho próprio. Mas, o que exatamente cada uma dessas coisas quer dizer?

Pois bem, as pessoas de brilho próprio possuem, sem nenhuma razão específica, ou explicável, características que fazem com que chamem a atenção por onde passem. Nessas circunstâncias, tais pessoas acabam, por vezes, desrespeitando determinados protocolos, sem, necessariamente, perturbar a ordem vigente, de modo a estabelecer um meio termo entre esses dois mundos.

As que possuem brio, por sua vez, são afetas ao Direito, isso porque possuem um sentimento de amor próprio, exteriorizados pela honra e pela dignidade, isto é, por valores ínsitos ao indivíduo. Além disso, são, tradicionalmente, generosas, valentes e esforçadas por natureza, ou, por outras palavras, não desistem fácil de seus objetivos, pois acreditam no que é certo, tendo a vitória como determinação. E os estudantes de Direito, na minha opinião, se enquadram exatamente aqui.

A despeito disso, posso dizer que estou no meio universitário já há alguns anos e, a cada vez que entro numa sala de aula, me deparo com diferentes grupos de pessoas – jovens em sua maioria – cujas histórias de vida nos faz lembrar daqueles filmes tipo “arrasa quarteirão” em que o personagem principal vence pelo caráter, pelo entusiasmo, pela coragem e, principalmente, pela determinação.

Portrait_of_Friedrich_Nietzsche

Créditos: Desconhecido – featured on the cover of “What Nietzsche Really Said” by Robert C. Solomon, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=8008630

Essa última característica, acredito eu, refere-se à fórmula encontrada por eles para conseguir superar a fadiga decorrente das longas viagens com destino às respectivas Instituições de Ensino, ou para suportar a distância dos amigos e dos familiares durante todo o período da graduação, ou ainda quem sabe reaprender a conviver com seus pares, e saber respeitar os direitos individuais de cada um, além de arrumar estratégias para poder estudar, mesmo após um dia exaustivo no trabalho, isso sem falar da necessidade de se fazer presente em sala e tentar prestar atenção na aula, apesar das preocupações que naturalmente obnubilam a mente no nosso dia a dia.

Como é possível perceber, estudar, diante dessas dificuldades, não se mostra uma tarefa fácil. Entretanto, a julgar pelo brio ínsito a esses estudantes, não quer dizer que ela seja algo impossível.

E assim termino a presente coluna, com um pensamento capaz de traduzir tudo aquilo que eu eventualmente não consegui exprimir nas linhas anteriores: “Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir” (Friedrich Nietzsche).

 

Notas e referências bibliográficas:

[1] A esse respeito vale à pena conferir a atuação do Tom Cruise no filme Questão de Honra de 1992 – Link: https://www.youtube.com/watch?v=gNdJ9atOTf0
[2] Cf., ASSIS. Machado de. Ideias do Canário. In: O Alienista e outros contos, Editora Moderna – São Paulo, 1995, pág. 73.

 

Captura_de_Tela_2016-06-09_a_s_21_Raphael de Souza Almeida Santos é Articulista do Estado de Direito. Graduado em Direito pela Faculdade Pitágoras – Unidade Divinópolis. Pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário de Araras (UNAR/SP). Mestre em Direito Público pela Universidade Estácio de Sá (UNESA/RJ). Professor do Curso de Direito da Faculdade Guanambi (FG/BA). Coordenador do Grupo de Pesquisa de Direito e Literatura, do Curso de Direito da Faculdade Guanambi (FG/BA). Palestrante. Autor e colaborador de artigos e livros. Advogado inscrito na OAB/BA e OAB/MG.

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