3ª Oficina do Artinclusão no AR7: “Miró – da pobreza e da febre tifoide para a reconhecimento mundial – releituras”

Por Aloizio Pedersen, artista plástico, idealizador e coordenador do Projeto Artinclusão.

Os treze participantes, dos 8 aos 17 anos, ouviram a história da vida de Juan Miró, de família pobre, desde menino querendo desenhar e pintar, mas proibido pelos pais, que o empregaram numa farmácia de trabalho repetitivo e monótono. De tristeza por não poder participar da efervescência da arte de sua época, entrou em depressão e pegou a febre tifoide e quase morreu. Depois disso ele mesmo foi para Paris estudar pintura. Não conseguia vender seus trabalhos. Os pais descontentes, querendo sua volta, lhe mandavam muito pouco dinheiro. Tinha delírios de fome e desenhava para tentar esquece-la. Só depois da grande guerra conseguiu melhorar de vida com sua arte. E passou a ganhar prêmios até na América. A turma viu gravuras de seus principais trabalhos e cada um escolheu o que gostaria de fazer como sua releitura.

1º passo: escolher a cor de fundo da tela, aplicar a primeira camada de tinta e secar com secador;
2º passo: fazer o seu desenho utilizando um pincel fino, como se fosse um lápis, para fazer seu desenho, e também secar;
3º passo: colorir com tinta.

Da mesma maneira que Pollock, da oficina anterior, estávamos diante de outro artista com história de sofrimento, que a arte ajudou a suportar e suplantar. No meio da oficina depois de todas as bases pintadas, duas meninas foram chamadas para suas audiências. Não me avisaram antes porque achavam que não fosse deixá-las na oficina, já que estavam tão curiosas e queriam muito pintar, nem que fosse só o fundo e o início do desenho, saíram com um ar de realizadas, aliviadas por terem pintado, nem que fosse um pouquinho. Saíram mais leves para decidirem suas vidas ainda tão jovens. Tentando me inteirar dessa outra realidade, tão desconhecida para mim, fui chamado para atender o menino especial de 17 anos, que parecem 12, tinha feito o esboço de um rosto, mesmo com um pincel inadequado, muito grande, mas que não abria mão do mesmo. Quis saber o que achava, me olhando com profundidade, para encontrar, mais na minha reação, do que nas palavras, o que achava: – “Tá demais M, tá demais!”. Junto a seus olhos estalados me olhando, foram empurrados para cima com um baita sorriso. -“Agora M, quero ver que cores vai preencher o interior!” Queria estimulá-lo para ir além do seu limite, para além de suas costumeiras garatujas. E ele foi me surpreendendo pelo super esforço bem sucedido. A cada preenchimento vinha aplausos pela conquista! Pensei, estas primeiras expressões de rosto se referem ao rosto da mãe. Como seria sua relação com ela? Não me cabia investigar, mas certamente já a estava vendo com outros olhos, especialmente pelo carinho que naquele espaço tinha das cuidadoras femininas e também dos masculinos.

Poderia descrever as relações com cada um desses tão intensos alunos, pois a oficina parece que acontece em 3D e eu tenho que ter a percepção desses heróis de última geração, para poder ter a visão do todo. Por suas circunstâncias, são inquietos, mas excitados pela cor e a atividade de pintar, onde conseguem canalizar muito dessa potência energética que vem de dentro dessas almas tão lutadoras.

É bem assim que eles tem que ser. Só tenho que disponibilizar para a arte seguir seu curso dentro e fora deles, com seu

” poder de princípio organizador da mente humana. Um dos meios mais direto de dominar o caos exterior e interior do homem. O desconcertante, assustador e inconcebível da vida só pode ser ordenado ao receber forma. Arte é a configuração do desordenado, que sempre significa ameaça.” – Fritz Baumg art.

Essa oficina me auxiliou a entender melhor o pensamento desse autor. E imensamente agradecido por isso. As fotos fazem o caminho inverso para vocês reconstituir. Bom proveito.
Artinclusão no AR7 é financiado pelo Edital Porto Alegre Amanhã do Fumproarte! Valorize a cultura e a arte local!

 

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