Setembro negro?

Coluna Assédio Moral no Trabalho

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Iniciamos o mês de setembro, dedicado à prevenção ao suicídio, com uma triste notícia: a morte de mais uma criança vítima de bullying.

Foto: Pixabay

Foto: Pixabay

Jamel Myles, um estudante da quarta série na Joe Shoemaker Elementary School em Denver, EUA, enforcou-se em seu quarto no último dia 23. No verão, Jamel Myles orgulhoso de ser gay contou aos colegas de classe. Após ele e sua irmã mais velha sofrerem bullying, cometeu suicídio. Diz a mãe que ele confidenciou à irmã que as crianças da escola lhe disseram para se matar.
Destarte, o tratamento digno e respeitoso independentemente de orientação sexual, identidade de gênero ou status de transgênero parece passar ao largo dos assediadores, tenham eles a idade que tiverem…
Daí a relevância do Setembro Amarelo!
Cuida-se de uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio criada em 2015. De iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria tem como ideia promover eventos que viabilizem debates sobre suicídio, alertando a população sobre a importância de discutir-se o tema de frente.
Durante esse mês, alguns locais são decorados com a cor amarela. Já foram iluminados o Cristo Redentor e o Congresso Nacional por exemplo. À semelhança de outras campanhas – Outubro rosa e Novembro azul – que utilizam faixas nas cores que as identificam, o símbolo do setembro amarelo é o laço amarelo.
Trata-se porém, de problema de saúde pública global tanto que, o dia 10 de setembro foi eleito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e International Association for Suicide Prevention como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Segundo a OMS aliás, 32 pessoas suicidam-se por dia no Brasil. E, conforme primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado ano passado pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte.
Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. Ademais, como sublinhado diversas vezes, o assédio moral é igualmente responsável por elevado número de mortes por suicídio. (1)
Todavia, a prevenção é bem sucedida em 90% dos atos suicidas. Por isto, a conscientização é fundamental e a ajuda, necessariamente vital. (2)

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Neste sentido, o CVV – Centro de Valorização da Vida – realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.
Frases como “quero sumir”, “um dia vou acabar com tudo” e “vou embora”, nas palavras da voluntária E.M., merecem atenção! (3)
Em termo de cooperação técnica firmado com o Ministério da Saúde em 2015, o CVV iniciou atendimento pelo número 188, atualmente gratuito a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular em todo o país. (4) Lembrando-se que: “Uma conversa realmente pode evitar que uma pessoa tire a própria vida.”
No mais, resta o doloroso desabafo de Leia Pierce, mãe do jovem Jamel:
“Meu filho morreu por causa do assédio, ele não merecia isso, ele queria fazer todo mundo feliz, mesmo quando ele não estava.” (5)
Que encerremos o mês de setembro com melhores notícias… Um verde setembro amarelo…

REFERÊNCIAS

(1) Disponível em: http://estadodedireito.com.br/saude-trabalhador-lesoes-fisicas-e-psiquicas-2/ . Acesso em: 11 set. 2017.
(2) Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-atencao-a-saude.pdf . Acesso em: 01 set. 2018.
(3) Procure possíveis sinais de alerta de risco aumentado de suicídio:
• Comportamento novo ou diferente a respeito de um evento doloroso, uma
perda ou uma grande mudança
• Conversas sobre se ferir ou se matar
• Expressar sentimentos de desesperança e sensação de aprisionamento.
• Aumento no consumo de álcool ou drogas
• Desistência de atividades, isolamento da família e dos amigos
• Sentimentos de depressão, ansiedade, perda de interesse, humilhação, fúria.
Disponível em: https://d1jbmezbsu604d.cloudfront.net/wp-content/uploads/Brazil-Guia.pdf. Acesso em: 01 set. 2018.
(4) Disponível em: https://www.cvv.org.br/. Acesso em: 01 set. 2018.
(5) Disponível em: https://extra.ie/2018/08/29/news/real-life/boy-suicide-alleged-homophobic-bullying . Acesso em: 01 set. 2018.

Ivanira
Ivanira Pancheri é Articulista do Estado de Direito, Pós-Doutoranda em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2015). Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (1993). Mestrado em Direito Processual Penal pela Universidade de São Paulo (2000). Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental pela Faculdades Metropolitanas Unidas (2009). Doutorado em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é advogada – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Esteve à frente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Participa em bancas examinadoras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo como Professora Convidada. Autora de artigos e publicações em revistas especializadas na área do Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Processual Penal, Ambiental e Biodireito.

 

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