De vez em quando a filosofia vai ao planalto. é que, como nos diz Victor Hugo em Os Miseráveis: “Chega sempre a hora em que não basta protestar; após a filosofia, a ação é indispensável”. Existe um ditado árabe que diz: “Homens são como tapetes: às vezes precisam ser sacudidos”.
A primeira vez que a filosofia foi ao planalto foi com Sócrates. pessoa de posses, largou o que tinha para ser um mendigo. trajado com sumaríssimas roupas, descalço, falava em praça pública, rodeava-se de jovens, e não perdia uma oportunidade quando o convidavam para um almoço ou jantar onde pudesse filosofar. falava com largueza de espírito, defendia que a guerra e a ideia de criar impérios não traria a felicidade aos homens. alertava os homens que as almas seriam julgadas no além pelos deuses e que a sabedoria era a verdadeira razão da existência humana. dizia: “ações corretas originam-se de pensamentos corretos”. foi julgado e condenado à morte por traição em Atenas em 399 a. C.
Depois, seu discípulo Platão, criou a universidade, retirou a filosofia da praça pública, e no regaço de seu quintal ensinava os jovens interessados em refletir, e escreveu obras eternas e universais como A República – nesta obra, dedicada ao jovem governante de Siracusa, Dionísio II, o filósofo fala das armadilhas da soberba, dos interesses da corte, do cinismo dos amigos, do egoísmo e da ânsia dos homens pelo poder, da necessidade de colocar o interesse coletivo acima do particular, do papel da filosofia como alimento da alma, da proteção e da responsabilidade do governo, da ética e da temperança, da justiça e da humildade, e da apatia e desinteresse dos homens pelo conhecimento (por exemplo, no Mito da Caverna). morreu naturalmente e feliz, com um sorriso nos lábios, quando se deitou e foi conversar com os deuses (348 a. C.).
Não gostaria de tirar conclusões, apenas refletir: quando a Filosofia vai ao Planalto…
Autor: José Manuel de Sacadura Rocha é Sociólogo, graduado pela PUC-SP, mestre em Administração pelo Centro Universitário Ibero-Americano, com cursos de especialização em Marketing de Varejo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Sistemas de Informação pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). Professor de Filosofia e Filosofia do Direito, Sociologia e Sociologia Jurídica, Ciência Política, Teoria do Estado e Constituição, Antropologia, Hermenêutica e História do Direito, tanto nos cursos de graduação como nos de pós-graduação. Autor de Sociologia Jurídica: fundamentos e fronteiras; Ética Jurídica: para uma filosofia ética do Direito; Antropologia Jurídica – Geral e Brasil: para uma filosofia antropológica do Direito (publicados pela Elsevier); Fundamentos de Filosofia do Direito: o jurídico e o político da antiguidade a nossos dias; e Michel Foucault e o Direito.