O caos
Em meio ao caos, a realidade costuma ser negligenciada. Os argumentos tornam-se retóricos e os atos são repetidos automaticamente, sem que paremos para pensar em suas consequências. Em momentos assim, invocamos o ódio sem atentar para o efeito avassalador que essa invocação pode assumir. A ideia de que a solução de problemas complexos será alcançada por um ato redentor, como a cassação do mandato da atual presidenta, é tão simplista quanto ingênua.
Temos muitas décadas de corrupção, impunidade, desrespeito aos direitos sociais elementares.
Enfrentamos uma crise do capital, cujos elementos revelam um esgotamento que ultrapassa fronteiras nacionais. Já devíamos ter sepultado o tempo em que queimávamos pessoas na fogueira, crendo resolver assim questões políticas, religiosas ou mesmo econômicas. As fogueiras simbólicas, mas não menos autoritárias e cruéis, que estamos ajudando a acender agora, obscurecem as razões da crise em que nos encontramos.
A complexidade dos problemas que nos trouxeram até o caos exige que pensemos com serenidade, pois enquanto repetimos mantras de ódio, questões importantes como a exploração do pré sal, a regulamentação da terceirização escravizante ou a reforma da previdência, continuam na pauta do dia das deliberações parlamentares.
Esses problemas, que refletirão diretamente nos caminhos imediatos do país e, portanto, em alguma medida determinarão as possibilidades de enfrentamento da crise, não desaparecerão de forma mágica. Ao contrário, são propostas de destruição do projeto constitucional, capitaneadas por partidos e pessoas, muitos dos quais sequer constituem o alvo desse ódio; são justamente aqueles que nos convidam a atear fogo.
Hora de reflexão e serenidade
Não é hora de fomentar o caos. É hora de reflexão, diálogo e serenidade. Nada disso confunde-se com passividade. Esse importante despertar daconsciência política deve nos conduzir a buscar alternativas para a forma de participação em decisões fundamentais para o convívio social. Exigir que assumamos compromisso com a ética na escolha de nossos representantes, nas próximas eleições. E talvez mesmo que mudemos a forma de elegê-los.
Incitar-nos a participar mais das decisões que estão adotadas no parlamento e que por vezes implicam retrocessos que serão difíceis de serem superados, tais como as propostas de alteração do conceito de trabalho em situação análoga à de escravo ou de criminalização dos movimentos sociais.
Serenidade no caos, eis o que precisamos agora.
Valdete Souto Severo é Articulista do Estado de Direito – Juíza do trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região. Especialista em Processo Civil pela UNISINOS, Especialista em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário pela UNISC, Master em Direito do Trabalho, Direito Sindical e Previdência Social, pela Universidade Européia de Roma – UER (Itália), Especialista em Direito do Trabalho e Previdência Social pela Universidade da República do Uruguai (UDELAR), Mestre em Direitos Fundamentais pela Pontifícia Universidade Católica – PUC do RS. Doutora em Direito do Trabalho pela USP/SP. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital (USP) e RENAPEDTS – Rede Nacional de Pesquisa e Estudos em Direito do Trabalho e Previdência Social. Diretora da FEMARGS – Fundação Escola da Magistratura do Trabalho do RS
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