Para atletas refugiados, participação na Rio 2016 vai mudar opinião do mundo sobre migração forçada

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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“Espero que me vejam na televisão e saibam que eu estou vivo, aqui no Brasil, lutando judô”, afirmou o atleta Popole Misenga, em mensagem para sua família na República Democrática do Congo, durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.

Ele e outros nove atletas integram a equipe inédita de refugiados que vai participar dos Jogos sob a bandeira do Comitê Olímpico Internacional (COI). Competidores começaram a chegar no Rio desde a última quinta-feira.

Desde a última quinta-feira (28), atletas que integram a inédita Equipe Olímpica de Refugiados têm chegado ao Rio de Janeiro para as competições. Dos dez selecionados para participar das Olimpíadas, nove já estão na capital fluminense, onde visitaram pontos turísticos da cidade e conversaram com a imprensa.

Entre a equipe formada por atletas de quatro países distintos, um consenso: a participação deles nos Jogos Olímpicos mudará a visão da opinião pública internacional sobre refúgio e deslocamento forçado.

“Milhões de pessoas, e também de refugiados, estarão olhando para nós. E vamos mostrar que podemos mudar nossas vidas”, disse o sul-sudanês Yiech Pur Biel, 21 anos, em entrevista coletiva realizada do Centro de Imprensa da Rio 2016, no domingo (31).

“É a nossa chance de mostra que os refugiados podem fazer coisas positivas”, acrescentou o compatriota James Nyang Chiengjiek, 28 anos.

Ambos vivem no Quênia – assim como os demais refugiados do Sudão do Sul – e competirão na prova de 800 metros rasos.

No sábado (30), outros quatro atletas – dois nadadores da Síria e dois judocas da República Democrática do Congo – também concederam uma coletiva e revelaram suas expectativas quanto à mudança de percepção sobre os refugiados.

“Vamos fazer história nestas Olimpíadas”, afirmou a judoca Yolande Mabika, 28 anos, que disputará na categoria peso médio. “Todo mundo fala que os refugiados não têm importância. Mas vamos mostrar, aqui na Rio 2016, que somos capazes de fazer tudo o que queremos”, completou Yolande, que vive no Rio de Janeiro.

A equipe, incluindo os técnicos e os chefes da delegação, está acomodada na Vila dos Atletas. A rotina tem sido dividida entre os diários e intensos treinos e algumas oportunidades de conhecer as atrações turísticas da cidade.

No sábado (30), parte do time foi conhecer o Cristo Redentor, um dos pontos turísticos do Rio de Janeiro famosos mundialmente.

Nas oportunidades que já tiveram de conversar com a imprensa, os refugiados demonstraram consciência sobre a importância de sua histórica participação nos Jogos Olímpicos. “Temos que nos mover e correr atrás dos nossos sonhos”, disse o nadador sírio Rami Anis, 25 anos, que vive em Luxemburgo e competirá na modalidade 100 metros borboleta.

“Hoje, represento todos os refugiados do mundo”, afirmou o judoca congolês peso médio Popole Misenga, 24 anos, que mora no Rio de Janeiro.

Para a nadadora síria Yusra Mardini, a Equipe Olímpica de Atletas Refugiados reúne pessoas com algo em comum: “nunca desistimos e nos esforçamos muito para chegar até aqui. Passamos por maus momentos, mas prosseguimos porque temos sonhos”, afirma a jovem de 22 anos, que vive na Alemanha.

“Ser uma refugiada não quer dizer que você ficará assim para sempre. Tenho a esperança de poder voltar para meu país quando a guerra acabar”, diz a refugiada do Sudão do Sul, Rose Nathike Lokonyen, 23 anos, que compete nos 800 metros rasos.

O sul-sudanês Yiech Pur Biel reforça a crença dos atletas no poder de mudança da Equipe de Atletas Refugiados. “Vamos mostrar que, sendo refugiados, podemos fazer qualquer coisa que um ser humanos é capaz de fazer”.

Em meio a sentimentos de esperança, muitos dos refugiados não deixam de expressar sua tristeza com as consequências das guerras e dos conflitos que os obrigaram a deixar seus países.

“Tivemos que deixar o Sudão do Sul por causa da guerra. E durante uma guerra, as casas são destruídas e as pessoas são mortas. E muitas crianças são convocadas para o combate. Isso aconteceu comigo quando tinha 10 anos. Então, minha mãe disse que era hora de partir para salvar minha vida.”

Durante a entrevista coletiva no domingo, o judoca Popole Misenga foi às lágrimas quando solicitado por jornalistas a mandar uma mensagem para sua família que está na RDC. Eles não se veem há 18 anos. Com a voz embargada, ele mandou um beijo para os irmãos. “Espero que me vejam na televisão e saibam que eu estou vivo, aqui no Brasil, lutando judô.”

 

Fonte: ONU

 

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