Palestras apresentadas por detentos para alunos de escolas públicas da região metropolitana de Vitória (ES) têm sido utilizadas, desde 2013, como estratégia de prevenção da criminalidade. A iniciativa faz parte do Projeto Re-formando Vidas, da Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo. A próxima rodada de palestras está marcada para a primeira quinzena de agosto.
Além de palestras, o projeto inclui o emprego de detentos na manutenção e reforma em prédios públicos e instituições sociais. Ele busca reforçar a autoestima dos apenados e garante, com base na legislação penal, o benefício da remição, que reduz o tempo da pena em um dia a cada três trabalhados. A iniciativa vai ao encontro das ações desenvolvidas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o objetivo de promover a reinserção social de detentos e egressos do sistema carcerário.
As atividades do Re-formando Vidas beneficiam os municípios de Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana. A última rodada de palestras ocorreu no dia 9 deste mês, com a participação de três cumpridores de pena do regime semiaberto da Casa de Custódia de Vila Velha (Cascuvv) e do egresso Paulo Henrique Ventura Cardeal, que hoje é dono de uma lanchonete e presidente da Associação de Micro e Pequenas Empresas (AMPE) da Região de Nova Rosa da Penha.
Nas palestras, que contaram com a exibição de vídeos, eles falaram dos motivos do envolvimento com o crime, das agruras experimentadas desde então e de como pretendem reconstruir suas vidas. “Na prisão encontrei uma oportunidade de trabalho que me fez ver que valia a pena mudar de vida. Tive impulso para ter o meu próprio negócio. Hoje, sou empresário e possuo uma lanchonete”, relatou Paulo aos alunos.
Para o apenado C.C.M, a oportunidade de alertar os jovens sobre as consequências da criminalidade o deixou orgulhoso. “Fico muito feliz em poder dar o meu testemunho, para que os jovens não entrem no mundo do crime. Vale alertá-los para que não cometam o mesmo erro que eu cometi”, contou.
“O objetivo é justamente mostrar para alunos do 1º e 2º graus que aquele glamour que eles podem achar que existe na vida do crime, em portar uma arma, ter dinheiro, não vale a pena. Aquilo ali, na verdade, vai levar ou para a morte ou para a cadeia. É isso que está sendo feito. E a gente está tendo um sucesso bastante grande com essa iniciativa, justamente por ser uma via de mão dupla”, disse o secretário de Justiça, Eugênio Coutinho Ricas, ao explicar que não só os alunos são beneficiados, mas também os detentos, pois “eles se sentem responsáveis por poder participar de uma mudança na vida daqueles jovens”.
O secretário informou que os encontros entre os detentos e os estudantes são carregados de emoção. “Eu participei de uma palestra em que um detento que já estava há 18 anos preso contou que tinha perdido um filho de 18 anos para o tráfico de drogas. Então isso aí realmente choca. Uma experiência que é real e que choca aqueles alunos. Eles chegam a ficar assustados. É emocionante, um projeto fantástico”, destacou.
Fonte: CNJ