Renata Malta Vilas-Bôas, articulista do Jornal Estado de Direito
O início da carreira de uma jovem advogada é um momento de grande expectativa e, muitas vezes, ansiedade. Após anos de estudo e dedicação na faculdade de direito, elas entram no mundo real da advocacia com altas expectativas, mas frequentemente enfrentam desafios que não foram adequadamente abordados durante sua formação. Este artigo examinará as dificuldades iniciais enfrentadas por essas profissionais e destacará a importância de compreender que a advocacia envolve muito mais do que apenas litigar nos tribunais.
Depois de passar pela prova de fogo que é o Exame de Ordem, muitas jovens advogadas entram na profissão com expectativas baseadas em representações da advocacia em filmes, séries de televisão ou até mesmo em narrativas familiares. No entanto, a realidade muitas vezes difere drasticamente dessas imagens idealizadas.
Sem ter tido a oportunidade de estagiar em um escritório de advocacia, ou mesmo tendo estagiado pode ainda não ter percebido a essência da advocacia e com isso o ingresso na profissão torna-se ainda mais complexo.
As informações que foram apresentadas na faculdade e por melhor aluna que essa jovem advogada tenha sido, ela não está preparada para a advocacia.
E ver-se como uma integrante do escritório de Jessica Pearson ou Annalise Keating deixa de ser um sonho que pode virar um tremendo pesadelo. Afinal, como fazer agora para ingressar na advocacia ?
- A Realidade da Advocacia: A diversidade de Atividades
Uma das primeiras surpresas para muitas jovens advogadas é a diversidade de atividades que um advogado realiza. Além de comparecer a julgamentos e audiências, os advogados também dedicam tempo à pesquisa, redação de documentos legais, negociações, consultas com clientes dentre outras atividades ligadas à advocacia propriamente dita. Mas, o que elas não sabem é que precisam fazer o trabalho de uma “EUquipe”.
Precisam entender de TI – afinal, o PJE vive dando problema. Precisam entender de Marketing Jurídico – o que podem ou não fazer e … como fazer. Precisam entender de contabilidade para não serem sonegadoras de impostos. Precisam entender de gestão de tempo, de gestão de pessoas, de empreendedorismo, de psicologia,…
Assim, o primeiro grande impacto que a jovem advogada tem é que além de entender do aspecto jurídico precisa de compreender uma série de outras atividades que nem de longe sonhou que era necessário. Peticionar passou a ser a parte mais fácil.
E, até mesmo para poder advogar, e compreender a realidade do cliente a jovem advogada precisa compreender a dinâmica da vida dele… Assim, temos que aprender milhões de assuntos totalmente distintos do direito, mas que faz parte da advocacia.
- A Carga de Trabalho e Pressão: Longas Horas de Trabalho:
A advocacia muitas vezes exige longas horas de trabalho, especialmente nos primeiros anos de carreira. As jovens advogadas podem se deparar com prazos apertados e pressões significativas para entregar resultados.
Ter um prazo de 15 dias para fazer uma contestação é moleza, mas imagina ter 15 dias para fazer 15 contestações, precisa ser uma por dia para que consiga cumprir esses prazos !
Mas, e as outras atividades, tais como atender o cliente, acompanhar os demais processos, verificar como anda o marketing e discutir as estratégias com a agência contratada, participar das reuniões das comissões e das diversas entidades que pertence.
Tudo isso reflete em nossas longas horas de trabalho, fazendo que fiquemos afastadas de nossos entes queridos e ainda de outras atividades prazerosas.
Precisamos achar esse equilíbrio, o que não é nada fácil !
- A Advocacia fora dos Tribunais
A advocacia não se limita apenas ao que acontece dentro dos tribunais. Há uma série de atividades complementares que os advogados desempenham para apoiar e complementar seu trabalho principal.
Realizar uma consultora jurídica, que podemos dizer que é um aconselhamento estratégico, faz com que possamos ficar longe dos tribunais. Essa consultoria pode ser tanto para as empresas como para pessoas físicas, fornecendo assim orientações estratégicas para evitar litígios e resolver as questões legais antes que elas venham a se tornar um litígio.
É possível ainda, oferecer outras formas ao litígio, como por exemplo a mediação. A mediação e outras formas de ADR são comuns na advocacia contemporânea. Os advogados desempenham um papel fundamental na facilitação da resolução de disputas fora dos tribunais.
E existe ainda um terceiro nicho que é denominada de advocacia de negócios ou assessoria empresarial. Nesse caso os advogados auxiliam empresas em questões contratuais, fusões, aquisições e questões regulatórias, desempenhando um papel vital no sucesso das empresas.
- A Necessidade de Direcionamento e Orientação:
Assim, como decidir qual área do direito irá atuar, é necessário também um direcionamento e orientação de como irá conduzir a sua carreira.
Com a atual complexidade do que vem a ser a advocacia, o ingresso na atividade jurídica não é fácil, para a maioria das pessoas, porque simplesmente não sabem nem por onde começar. Surgem uma série de perguntas que eles não têm a quem recorrer, nem a quem questionar.
Com isso a advocacia fica muito mais pesada e complicada. Afinal, o que adianta saber o direito material, se não sabe como é que irá atuar. Como é que vai precificar, como é que irá fazer para captar os clientes dentro de uma forma ética, enfim uma série de outras atividades que precisam ser bem-feitas para que se possa realmente atuar e alcançar o sucesso almejado.
Quando o advogado não sabe fazer isso acaba colocando valores mais baixo do que aquele que seria o justo para o trabalho a ser realizado e quando vê acaba ficando desanimado com os clientes que aparecem, pois acaba sem receber uma quantia que seria a justa. E ao colocar um valor inferior ao que é devido, acaba literalmente pagando para trabalhar. O que gera desmotivação e a busca de outras colocações.
Escolher qual a área de atuação é a parte mais fácil, mas compreender como atuar é muito difícil.
Além disso, muitos saem com a visão de que vai ter um salário no final do mês. Em parte, por conta do estágio que acaba deixando os alunos do curso de direito mal-acostumados.
Quando se trata de advocacia precisamos pensar que não se deve mirar o salário, mas sim que é um contrato de prestação de serviços. Portanto, é preciso aprender a lidar com a entrada do dinheiro que não será naquele padrão CLT – ou seja, valor x até o quinto dia útil.
Isso implica em dizer que terá mês que irá receber X, outros zeros X, e outros muitos X… Além disso, será necessário aprender a cuidar desses valores, separando o que é da pessoa física e do que é da pessoa jurídica.
E assim, terá outros gastos, vindo a pessoa jurídica, teremos o contador, o recolhimento de impostos, etc. Nem dá para pensar em uma advogada atuando no início de carreira e vindo uma multa da Receita Federal em razão daqueles honorários que ela recebeu e não declarou. Isso pode significar quase que uma “falência” individual, ou tecnicamente uma insolvência civil.
Hoje a melhor forma de ingressar com segurança é buscando uma mentoria para auxiliar nesse processo de entrada na advocacia. Pois, se optar por determinado caminho, saberá quais são os riscos que está assumindo.
- O lado bom da advocacia
Parece até que a advocacia está repleta de problemas. Não é isso. É porque os advogados são surpreendidos pela quantidade de conhecimento – distinto do Direito – que será cobrado deles. E como são pegos de surpresa, acabam se sentindo desamparados.
Mas, a advocacia é um espaço em que permite você crescer e se desenvolver. Permite que você possa realizar os seus sonhos profissionais e financeiros. Permite que você estruture a sua vida na forma como deseja.
Por outro lado, é preciso ter consciência de que isso não ocorre de um dia para o outro. É preciso tempo para se consolidar na advocacia. Não pode ter pensamento imediatista. Dessa forma, paciência é um requisito importante para pensar a advocacia.
- Considerações Finais
O início de carreira na advocacia é repleto de desafios, mas também oferece inúmeras oportunidades para crescimento e desenvolvimento profissional. É essencial que as jovens advogadas compreendam a complexidade da profissão, bem como as atividades complementares à advocacia. Além disso, buscar orientação e mentoria é uma etapa fundamental para superar os desafios iniciais e construir uma carreira bem-sucedida. Compreender a amplitude da advocacia e abraçar todas as suas facetas pode ser a chave para o sucesso e a realização na profissão jurídica.
*Renata Malta Vilas-Bôas é Articulista do Estado de Direito, advogada devidamente inscrita na OAB/DF no. 11.695. Sócia-fundadora do escritório de advocacia Vilas-Bôas & Spencer Bruno Advocacia e Assessoria Jurídica, Professora universitária. Professora na ESA OAB/DF; Mestre em Direito pela UPFE, Conselheira Consultiva da ALACH – Academia Latino-Americana de Ciências Humanas; Acadêmica Imortal da ALACH – Academia Latino-Americana de Ciências Humanas; Integrante da Rete Internazionale di Eccelenza Legale. Secretária-Geral da Rede Internacional de Excelência Jurídica – Seção Rio de Janeiro – RJ; Colaboradora da Rádio Justiça; Ex-presidente da Comissão de Direito das Famílias da Associação Brasileira de Advogados – ABA; Presidente da Comissão Acadêmica do IBDFAM/DF – Instituto Brasileiro de Direito das Familias – seção Distrito Federal; Autora de diversas obras jurídicas. |
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