A sociedade do espetáculo
Debord, conhecido sociólogo francês (1931-1994), acrescentou importante visão sobre a transformação da sociedade dos anos sessenta. Sua obra, “A sociedade do espetáculo”, desenvolveu o pensamento da aparência de uma sociedade fundada no consumo, onde o sujeito era soterrado e esquecido pela comunicação e pelo capitalismo.
O espetáculo consiste na representação de uma sociedade aflita, mas ao mesmo tempo deslumbrada pelas aparências que conferem sentido ao Homem cego.
Na visão de Debord, a sociedade estava vinculada a imagens preestabelecidas, assumindo identidades e representações. Daí a ideia de que os desdobramentos da personalidade do Homem estavam sendo transpostos para outro lugar irreal e distante da relação do próprio sujeito. Portanto, a sociedade do espetáculo é aquela que vive em uma realidade diversa, pois transformada pelos meios de comunicação e pelo consumo.
Assim, as facetas de nossas vidas estão sendo desprendidas e transformadas em um grande espetáculo, um instrumento de unificação da mentira. A realidade vivida é substituída pela contemplação do espetáculo.
Schopenhauer, ao seu turno, aduz que:
“A experiência vem em seguida e nos ensina que a felicidade e o prazer não passam de uma quimera, mostrada à distância por uma ilusão, enquanto o sofrimento e a dor são reais e manifestam-se diretamente por si só, sem a necessidade da ilusão e da espera”[1].
O Homem contemporâneo
Em tempos atuais, o que diriam os filósofos?
Vivemos na sociedade do hiper, da realidade aumentada, mas talvez o espetáculo do capitalismo e do consumo esteja sendo invadido, aparentemente, por uma plateia que não fora convidada. O Homem contemporâneo, preocupado em assistir ao espetáculo, não autoriza a intervenção de terceiros. A tragédia é nossa, afinal de contas, vivemos condicionados a uma criatura de nossa criação. O problema é que a alimentamos por demais. Talvez tenha crescido, criado pernas e tenhamos perdido o controle.
É momento de reunirmos esforços, reconstruirmos as cenografias, trocarmos o figurino e capricharmos na maquiagem. Como dizem os poetas brasileiros, “o show tem que continuar[2]”.
Não podemos, todavia, esquecer de Schopenhauer. O sofrimento e a dor são reais, o espetáculo de Debord não. A perspectiva de assumirmos a realidade do espetáculo, não mais como mera plateia, mas como partícipes de um filme de terror provoca inquietude.
Bauman está correto, o Homem contemporâneo vive para o consumo ou para ser consumido.
A banalização do terror consome a solidão que criamos, termina com o espetáculo e com a enganação. Talvez seja problema de responsabilidade técnica, mas é preciso resolvê-lo. Não estamos acostumados com a realidade, com a iliquidez d
a vida ou com a verdade dos fatos.
Por isso rogamos ao senhor diretor que chame o contrarregra, corrija os equívocos. O bilheteiro já está a postos. Retome o espetáculo, senhor diretor, e volte a iluminar a mentira, pois a realidade é sofrível e o nosso bilhete é de plateia.
[1] SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de ser feliz. Trad. Marion Fleischer, Eduardo Brandão, Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes. 2001. p. 10.
[2]Sombrinha, Luiz Carlos da Vila e Arlindo Cruz.