Já se passaram seis anos desde que um dos conflitos mais mortais e destrutivos da história recente teve início. Desde então, sírios tentam desesperadamente encontrar alguma luz no fim do túnel de uma jornada que tem sido sombria. Durante 2016, delicadas operações de cessar-fogo restauraram a calma em algumas partes da Síria e fizeram com que muitas pessoas deslocadas no país, e poucos refugiados, voltassem para casa.
Contudo, em outras regiões sírias, o conflito está longe de terminar e o sofrimento de civis, na verdade, só aumentou. As operações militares contra grupos extremistas nas cidades de Raqqa e Deir Ezzor continuam, e outros grupos armados ainda estão atuando. Diversas regiões do país estão repletas de minas e perigosos explosivos na iminência de mutilar ou matar suas próximas vítimas.
Somente no primeiro semestre de 2017, 1,3 milhão de sírios deslocaram-se devido ao conflito. Em média, 7 mil pessoas por dia foram forçadas a deixar suas casas.
Enquanto a comunidade internacional está legitimamente focada no futuro do processo de paz, a situação humanitária na Síria permanece terrível, e as condições não estão estáveis para que mais de 5 milhões de sírios, que vivem como refugiados nos países vizinhos, possam retornar.
A situação na Síria continua sendo a maior crise de refugiados e os países vizinhos não podem ser os únicos envolvidos em sua solução. Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito acolheram e continuam apoiando milhões de refugiados sírios. Esses países têm compartilhado seus recursos e providenciado acesso a escolas, hospitais e outros serviços numa escala num patamar raramente visto.
Entretanto, após seis anos do início da crise síria, esses países estão sobrecarregados. A comunidade internacional vem contribuindo com grandes quantias financeiras, mas os valores não acompanham as recentes necessidades humanitárias. Estou profundamente preocupado com o fato de que apenas 49% dos fundos necessários para os programas de refugiados nos países de acolhida foram recebidos em 2017.
Os compromissos de apoio financeiro, firmados em Londres no ano passado e novamente este ano em Bruxelas, foram feitos diante da crise de refugiados que atingiu as regiões litorâneas da Europa em 2015 e 2016. À medida que a visibilidade dessa crise diminui, fico preocupado que tais compromissos sejam esquecidos e negligenciados.
Vejo como frutífero o anúncio de que a União Europeia receberá outra conferência sobre financiamento em Bruxelas, no próximo ano, mas, ao mesmo tempo, existe uma necessidade urgente de assegurar que os programas de apoio aos refugiados nos países de acolhida melhorem seu financiamento.
Durante vários anos, o plano regional de resiliência para refugiados tem combinado esforços para garantir que as necessidades básicas dos refugiados que necessitem de intervenções de longo prazo construam sua resiliência por meio de um maior acesso à ações de subsistência, educação e outros serviços.
É uma abordagem inovadora que, com o tempo, garante bons resultados e pode beneficiar os refugiados e os países que os acolhem. Porém, sem o apoio constante de doadores internacionais, o progresso de implementação do plano corre o risco de ser bloqueado e os investimentos que já foram feitos serão desperdiçados.
Tanto os países de acolhida como os refugiados precisam e merecem saber quais são as expectativas em relação a esses projetos. Os países de acolhida necessitam de garantias de que as promessas de apoio financeiro da comunidade internacional serão respeitadas. Os refugiados sírios precisam saber que serão auxiliados e protegidos não apenas esse mês, mas no futuro próximo.
A comunidade internacional tem a responsabilidade de não poupar esforços para trazer paz e estabilidade à Síria, a fim de que as condições para retornos voluntários e sustentáveis possam ser criados. Enquanto isso, é inadiável que continuemos a acompanhar de perto a situação e apoiar os governos que acolhem essas pessoas por meio de investimentos em programas voltados para refugiados e em suas comunidades de acolhida, compartilhando responsabilidades com esses países que enfrentam a crise síria na linha de frente.
*Alto-Comissário da ONU para Refugiados
Fonte: Filippo Grandi/ONU