A 15ª oficina no AR7/Fasc, quase a metade do projeto Artinclusão nesta Instituição, que ocorre graças ao Prêmio Fumproarte/Prefeitura Municipal, de 32 encontros semanais de 2h cada. E para comemorar o sucesso até aqui, fomos visitar a Fundação Iberê Camargo, prevista no currículo desta intervenção com arte neste Abrigo. O Artinclusão no AR7/Fasc apresenta um processo contextualizado sobre a arte, em que as crianças e adolescentes tem oportunidade de refletirem sobre a vida e obra de vários artistas e a também produzirem obras, vivenciando a experiência de “ser artista”, ressignificando suas vidas de sofrimento psíquico através do desenho e da pintura em acrílica sobre tela, a exemplo dos artistas estudados. Este envolvimento maior com a arte é que os torna mais abertos e maduros para outras experiências artísticas, como visitar exposições e museus. Aliás, esta metodologia do ensino da arte também está nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), para arte-educação, mas poucas escolas a seguem.
Tal iniciativa estimula a imaginação, a curiosidade, a criatividade, o senso crítico e opinião sobre o mundo a partir de um outro olhar: o do artista, utilizando a arte como potente meio de comunicação. Por exemplo: muito impressionou as adolescentes, presentes na visita, os desenhos-estudos de Iberê Camargo, para sua série “As Idiotas”(foto)- figuras enormes, nuas, disformes, cujos contornos se misturam com a paisagem, onde as cadeiras e bicicletas são mais reais que as formas humanas. Me questionaram a respeito: – quem eram? – porque estavam nuas? – o que faziam ali? Resposta: – Estão esperando a morte! Passaram a vida querendo tudo sem esforço. sem estudo, sem trabalhar, querendo tudo de “mão beijada”, ou esperando ganhar na loteria. Conclusão: a vida, plena de possibilidades, apenas passou por elas e não aproveitaram. Esta, uma das lindas fases político-sociais do referido artista, realmente impacta pela crueza com que denuncia nossas mazelas humanas, nossas fantasiosas ilusões proporcionadas pela ênfase material no “ter”. E continuamos conversando a respeito, aproveitando aquele especial momento de ensino-aprendizagem, pois estavam na sua integralidade humana inteiras ali, impressionadas com a real visão da vida apresentada por “simples” desenhos-estudos. Finalizei enfatizando que talvez estas personagens tivessem aceitado propostas milagrosas de uma vida melhor, de sucesso e de poder, iludidas pela comodidade das facilidades de algum tipo de serviço. E só agora perceberam que a vida é construção, esforço, estudo, satisfação vinda do esforço próprio, da conquista do “ser”. Dei meu próprio exemplo e chamei a Carmela Grune, responsável pela parte administrativa do projeto e organizadora da visita, para confirmar com sua trajetória de vida até aqui. Do trabalho de outro artista em exposição, Daniel Senice (foto), uma das adolescentes me chamou para diante de uma de suas obras: – Sabe o que vi aqui? – O quê? – Uma porta aberta! Neste momento tive que socializar este ocorrido e chamei o grupo para se aproximar. – Quem mais viu a porta aberta? Conversamos a respeito das oportunidades que a vida nos dá. Mesmo que muitas portas se fechem sempre haverá a nossa porta aberta, conquistada pelo nosso esforço, nosso estudo e conquistas pessoais. A Fundação Iberê Camargo nos recebeu bem demais. As mediadoras foram acolhedoras e muito bem capacitadas para receber este público infanto-juvenil e talvez não tenham a dimensão do que significou para este grupo tão querido e especial: uma porta aberta para outros olhares sobre a vida.
