Escola ajuda adolescentes envolvidos em delitos graves a ressignificar a violência por meio da arte e desarticula participação em facções
A exposição
Cerca de 20 meninos que cumprem medida sócio-educativa por delitos graves na Unidade considerada de Segurança Máxima da FASE-POA e 10 meninas que cumprem medida na Unidade feminina da FASE (CASEF) estão a três meses envolvidos em atividades que até então passavam longe de seu cotidiano de violência. O resultado é a Exposição “Miau-Miau, Cocorocó” Releituras de Aldemir Martins que será realizada no dia 23 de junho, às 15hs, no interior do CSE -FASE em Porto Alegre. São 40 obras de 50 x 70 cm, inspiradas no trabalho do artista brasileiro Aldemir Martins, nos temas de gatos e galos, que serão comercializadas pelo valor de R$100,00 (valor revertido para os jovens).
O projeto Artinclusão
Uma vez por semana, durante 4 horas, 30 adolescentes em cumprimento de medida socio-educativa participam das oficinas do Professor Aloizio Pedersen, que coordena o Projeto Artinclusão desde 2013. Lá fazem exercícios de consciência corporal, aprendem técnicas de pintura, conhecem história da arte e as técnicas de artistas como Aldemir Martins, Iberê Camargo, Picasso, Kandisnki e Pollock. Nos encontros, os adolescentes são convidados a trazerem suas histórias de vida e vivências traumáticas para a ponta dos pincéis. O Projeto integra a grade curricular da Escola Estadual Tom Jobim, localizada dentro da FASE em Porto Alegre. A Escola tem a árdua missão de acolher, educar e formar para a sociedade adolescentes que, em sua maioria, já foram expulsos de outras escolas e muitos encontram-se jurados de morte por guerras de facções. Nas atividades a relação com os limites, o respeito ao grupo, as angústias e o medo de ser a próxima vítima da guerra do tráfico de drogas são o material trabalhado.
Dados de violência juvenil
A cidade de Porto Alegre é hoje uma das 100 cidades mais violentas do Brasil, segundo o Atlas da Violência 2017 do IPEA. O estudo demonstrou que 59.080 pessoas foram assassinadas no Brasil em 2015, sendo que destas pelo menos 54% eram jovens entre 15 e 29 anos. Em Porto Alegre, outro estudo registrou um aumento de 90,4% na taxa de homicídios de adolescentes de 16 e 17 anos em dez anos – de 2003 a 2013. É a 13ª capital com maior crescimento nas mortes nesse grupo, com 101,3 mortes a cada 100 mil adolescentes em 2013. Dez anos antes, a taxa era de 53,2 mortes (Waiszelfilz, J. “Mapa da Violência: Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil”).
Adolescência e gangues criminais
Segundo a pesquisadora do Instituto Juntos, a psicóloga e Doutoranda Fernanda Bassani existe em Porto Alegre pelo menos 4 grandes grupos criminais, entre facções e gangues de rua: os Bala na Cara, AntiBala (com proeminência do grupo V7), os Manos e os Abertos. As facções seriam grupos criminais que nascem em prisões, muitas vezes com o intuito de dar condições de subsistência e resistência ao poder Estatal, já as gangues criminosas (Bala na Cara, por exemplo) surgem nas ruas das periferias, a partir do tráfico de drogas e visam o domínio territorial. Atualmente ambos grupos encontram-se em conflitos de poder pelo controle territorial das periferias. Estes conflitos geralmente bélicos costumam atrair adolescentes, especialmente homens, pelos símbolos de virilidade, coragem e aparente vida fácil e senso de aventura que trazem. Hoje estes grupos já são percebidos dentro da FASE e o comprometimento dos adolescentes é responsável por conflitos e motins intra-muros, que pioram seu prognóstico. Segundo o coordenador do Projeto Artinclusão, 100% dos adolescentes que participam das oficinas tem seu comportamento alterado e a instituição percebe a não-participação dos mesmo nos motins dos últimos 4 anos. Outro problema mais grave requer o apoio de instituições externas. Os adolescentes que saem da FASE tem tornado-se vítimas de homícidios: “Pelo menos 6 adolescentes do Projeto Artinclusão foram assassinados desde 2013. Sabe-se que este fato ocorre porque não há uma entidade que apoie os meninos e meninas quando saem da instituição. Pelo bom vínculo com os adolescentes, o projeto tem o controle desses dados, recebe as notícias, mas não pode intervir extra-muros.” Diz Aloizio, coordenador do projeto. Por outro lado, pelo menos 12 adolescentes que passaram pelo projeto encontram-se estudando e trabalhando, conforme banco de dados.
contatos: tomjobim01cre@educacao.rs.gov.br
Telefone Escola Tom Jobim: 3266.5172
Texto: Fernanda Bassani