Disciplina de graduação reúne sábios indígenas e afrodescendentes

Foto: Ramon Moser- UFRGS

Foto: Ramon Moser- UFRGS

Sábios indígenas e afrodescendentes serão os ministrantes da disciplina Encontro de Saberes, em parceria com professores da Universidade. Ligada ao Curso de Música, a disciplina (ART03946) está aberta, como extracurricular, a qualquer aluno de Graduação. Será oferecida no semestre 2016/2, nas segundas-feiras, das 13h30 até às 17h, na sala 301 do Anexo I da Reitoria.

Serão oferecidos quatro módulos de 16 horas/aula cada: Alimento e Rito; Plantas e Espírito; Artes Aplicadas; Sociedades e Cosmovisões. A metodologia envolve exercícios de observação e análise, trabalhos de campo, registros, práticas, improvisações, intervenções e pesquisa teórica.

Os mestres e mestras que ministrarão as aulas são Jorge Domingos, cantor de samba, morador do bairro Restinga; Maria Elaine Rodrigues Espíndola, ativista ligada às culturas afro-brasileira e quilombola e coordenadora do Ponto de Cultura Mocambo, no bairro Cidade Baixa; Iracema Rã-Nga Nascimento, liderança espiritual Kaingang; e Maurício Messa de Oliveira, Guarani-Mbyá conhecedor das sementes sagradas e dos modos de vida próprios dos Guarani. O grupo de professores reforça o diálogo interdisciplinar: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (Instituto de Letras), Luciana Prass e Marília Stein (Instituto de Artes), José Otávio Catafesto de Souza (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), Eráclito Pereira (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), Carla Meinerz (Faculdade de Educação), Rumi Regina Kubo (Faculdade de Ciências Econômicas) e Ingrid de Barros (Faculdade de Agronomia).

Para solicitar a matrícula basta entrar no Portal do Aluno, na aba <Aluno>, em <Matrícula> clicar em <Solicitação Extracurricular>. Então deverá aparecer a opção <Encontro de Saberes>.

Participantes

Jorge Domingues, o Seu Jorge, é um cantor de 84 anos de vida e 67 anos de exercício musical em plena atividade. Uma carreira iniciada nos tradicionais bailes das décadas de 50 e 60, onde as orquestras com naipes de sopros precisavam de cantores de voz forte com poderosos vibratos para competirem com o alto volume dos instrumentos de metal. Descende artisticamente da linhagem de vozes como a de Jamelão e a de Nelson Gonçalves. Vivenciou parte do tempo áureo das rádios Farroupilha e Guaíba, participou de programas como a “Música Brasileira em Traje de Gala” e dividiu os microfones com a cantora negra Branca de Neve, com o grupo Jazz Grená de músicos da ferroviária e com Telmo do Acordeon, entre outros. Atualmente, canta para crianças nos Serviço de Apoio Socioeducativo (Sase), em grupos na Cruz Vermelha e em eventos da Assistência Social, gratuitamente. Tem participado de atividades artísticas e culturais junto a universidades e escolas com sua banda atual, formada por músicos autodidatas como ele. Uma palavra, uma história, uma canção: é assim que Seu Jorge se inscreve na vida pública como contador-cantor, ou, dito de modo mais poético, como um griot, essa espécie de voz e ouvido da cidade de Porto Alegre e também da Restinga, bairro que o acolheu há mais de 30 anos. A trajetória pessoal se aprofunda na ancestralidade africana e transforma o samba numa narração coletiva, por vezes quase numa prece. Tais são os elementos que permitem uma atuação pública e comunitária em que uma palavra chama uma música, a música conta uma história e a história guia o público num percurso pela memória da cidade e da música brasileira, mas também pela ancestralidade africana e pela experiência de ser negro e morador da periferia no Brasil, tudo isso inspirado nas promessas de um futuro mais justo, mais alegre.

Iracema Rã-Nga Nascimento é líder Kaingang com longa experiência xamânica e cosmo-política. Natural da Terra Indígena Nonoai, na bacia do Alto Uruguai, viveu na Terra Indígena Borboleta, na região do Salto do Jacuí, entre os municípios de Salto do Jacuí, Jacuizinho e Espumoso, e atualmente mora com seu grupo familiar na Vila Jari, em Porto Alegre. Possui um extenso conhecimento dos elementos botânicos florestais, especialmente no âmbito do manejo de cipós, ervas, sementes e outros v?nh-kagta (remédios do mato). Conhecedora do cultivo de hortas, da produção de artesanato e alimentos tradicionais, dos cuidados relativos ao parto e à maternidade, da interpretação de sonhos e do canto de pássaros, propõe-se nesta disciplina a orientar vivências da eco-lógica Kaingang a partir da articulação de saberes do universo da floresta, no sentido da saúde plena, entre pessoa e terra. Desde 2014, como pesquisadora e liderança tradicional, atua na formação continuada de professores indígenas no Rio Grande do Sul no projeto de extensão “Saberes Indígenas na Escola – UFRGS”.

Iracema Rã-Nga Nascimento é líder Kaingang com longa experiência xamânica e cosmo-política. Natural da Terra Indígena Nonoai, na bacia do Alto Uruguai, viveu na Terra Indígena Borboleta, na região do Salto do Jacuí, entre os municípios de Salto do Jacuí, Jacuizinho e Espumoso, e atualmente mora com seu grupo familiar na Vila Jari, em Porto Alegre. Possui um extenso conhecimento dos elementos botânicos florestais, especialmente no âmbito do manejo de cipós, ervas, sementes e outros v?nh-kagta (remédios do mato). Conhecedora do cultivo de hortas, da produção de artesanato e alimentos tradicionais, dos cuidados relativos ao parto e à maternidade, da interpretação de sonhos e do canto de pássaros, propõe-se nesta disciplina a orientar vivências da eco-lógica Kaingang a partir da articulação de saberes do universo da floresta, no sentido da saúde plena, entre pessoa e terra. Desde 2014, como pesquisadora e liderança tradicional, atua na formação continuada de professores indígenas no Rio Grande do Sul no projeto de extensão “Saberes Indígenas na Escola – UFRGS”.

Maria Elaine Rodrigues Espíndola possui reconhecimento como Griô pela Câmara Municipal de Porto Alegre, através do Projeto Museu Percurso do Negro/Centro de Referência Afro-brasileira/Programa MONUMENTA. Professora aposentada, atua na Mocambo – Associação Comunitária Amigos e Moradores do Bairro Cidade Baixa e Arredores, organização voltada à preservação das memórias e culturas afro-brasileira na capital gaúcha. O processo histórico da Mocambo remonta ao carnaval das décadas de 1970 e 1980, tendo relação com a Escola de Samba Praiana. Milita em diferentes espaços políticos e culturais porto-alegrenses: Orçamento Participativo, Associação de Remanescentes de Quilombos, Programa Quilombolas em Rede, Conselho Local de Saúde, entre outros.

O mestre Mauricio Messa de Oliveira é cacique na Tekoá Kaaguy Mirim (Aldeia Pequena Floresta), localizada no bairro Lami, em Porto Alegre, pertencente à Terra Indígena do Cantagalo. Ele é um guardião das sementes sagradas do milho Guarani, recebidas de Nhanderu e fundamentais no Nhemongaraí,  tradicional ritual do Batismo do Milho. Preocupado com a saúde e a alimentação das pessoas, também se ocupa no resgate e na preservação de diversos recursos vegetais, como frutas nativas e plantas medicinais. Participa ativamente nos eventos de intercâmbio de sementes tradicionais e crioulas, como nos dias da troca na “Arca das Sementes Berenice Antonini”, da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana – RAMA. Por outro lado, sabedor da importância do artesanato como elemento para a compreensão da natureza e da agroecologia, principalmente junto às crianças, se empenha na divulgação do artesanato Guarani por onde anda. Também sob sua responsabilidade está o Grupo Kaaguy Mirim Cultural de Arte Musical Mbyá Guarani, que divulga em diferentes espaços os cantos e danças de seu povo.

Fonte: Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul

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