Assim se terceiriza a humanidade

Pensemos a terceirização como um ato de contratação de terceiro para cumprir atividade originalmente pessoal. Num momento em que muito se discute a questão da terceirização no âmbito trabalhista, reflito se esse ato de delegação não está culturalmente enraizado em nossa sociedade e não somente na esfera laboral.
Crescemos em uma sociedade individualista e irresponsável, onde a solidariedade perdeu espaço e a responsabilidade é delegada. Somos educados para transferirmos nossas responsabilidades a terceiros. Somos culturalmente incentivados a responsabilizar os outros por nossas infelicidades.
Entregamos à escola a responsabilidade pela educação de nossas crianças e adolescentes, entregamos aos representantes eleitos, o pleno exercício da política pública. Terceirizamos atividades indelegáveis, inclusive a culpa.
De quem é a culpa pelo atual colapso social? De quem é a culpa pela falta de investimento em saúde, educação, transporte e outros serviços básicos? De quem é a culpa pela alta criminalidade que vivenciamos? Precisamos apontar alguém e culpar, essa é a lógica do jogo afinal. Alguém deve responder pelo nosso sofrimento.
E quando achamos o culpado, queremos punições. Queremos punições severas. Queremos vingança. Mas quando este culpado estiver refletido no espelho? Este que não acompanha o desenvolvimento de seu filho, este que não valoriza o professor, este que vende o voto em troca de favores ou dinheiro, este que relativiza a corrupção, este que lê este manifesto e não se identifica. Como trataremos este irresponsável?
Sugiro que deixemos a hipocrisia de lado e passemos a olhar pra dentro, dentro de si, dentro de casa, dentro da escola, dentro da sociedade. Sejamos pais atuantes, cidadãos militantes, que de “pacato cidadão” tenhamos somente a música. Deixemos de lado o papel de meros financiadores e passemos a agir, a omissão também é corrupção.
Há tempos inventamos tecnologias para facilitar nosso dia a dia e nos tornamos reféns de nossas próprias criações. Há tempos, investimos nosso tempo em engenhos que facilitariam nosso tempo. Há tempos não damos tempo aos que precisam do nosso tempo. E ante a falta de tempo, transferimos nossas responsabilidades mais intrínsecas.
Portanto, sugiro que tenhamos tempo para nossas crianças, tenhamos tempo ainda que este tempo seja curto, tenhamos tempo de qualidade, afeto e zelo.
Tenhamos tempo para a cidadania plena, exijamos o cumprimento das promessas de campanha de nossos candidatos, temos o direito, temos o dever, tenhamos vontade e coragem!
Recentemente li uma frase, cujo autor desconheço, que reflete bem o pensamento que estou tentando expor, dizia assim: “Por um mundo com menos dedos apontados e mais mãos estendidas”.
Estendamos as mãos a quem precisa, estendamos as mãos para pedir apoio e nos demos as mãos em prol da união. Reflitamos sobre nossa real responsabilidade, deixemos de nos vitimar pela corrompida sociedade e passemos a agir!

Andréia Scheffer 
Advogada, especialista em Direito Processual Civil. Integrante da Comissão Especial do Jovem Advogado e da Comissão Especial da Criança e do Adolescente da OAB/RS. Coordenadora de grupo de estudos da ESA. Professora de cursos jurídicos.

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