Coluna Assédio Moral no Trabalho
Uma nova peça publicitária da Gillette (marca da Procter & Gamble, atualmente utilizada para aparelhos de barbear e outros produtos de higiene pessoal) lançada recentemente nos Estados Unidos já chegou até o Brasil na forma de empolgante controvérsia.,
Retratando situações de Assédio Sexual, Bullying etc. em vídeo de dois minutos, coloca o dedo na ferida e questiona a “masculinidade tóxica” ao criticar as desculpas de sempre – “garotos serão garotos” –; ao incentivar o comportamento ético – “(…) aja da maneira correta” – e, finalizar com a mensagem: “Porque nós acreditamos no melhor do homem”.
Literalmente:
“Bullying. Assédio. Isso é o melhor que um homem pode ser? É só nos desafiando a fazer mais, que podemos nos aproximar do nosso melhor. Para dizer a coisa certa, agir da maneira certa. Estamos agindo em http://www.thebestmencanbe.org. Junte-se a nós.”
Dividindo opiniões, desde provocativos chamados ao boicote a elogiosos comentários, estes últimos a predominar, fato é que apela à ética da pessoa consumidora, no esteio de movimentos irrepreensíveis dos EUA como #MeToo ou outros que se esforçam em conscientizar sobre o Bullying e suas nefastas estatísticas de suicídio.
Vale recordar que, em 2018 a expressão “masculinidade tóxica” foi, segundo o dicionário de Oxford, a “palavra do ano” em face da demanda de busca pela sua significação.
Em breve síntese:
“Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido. Alguns do efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação e encorajamento de estupro, homofobia, misoginia e racismo”. (2)
Segue, neste sentido, curiosa pesquisa da Plan Brasil – ONG que defende os direitos de crianças e adolescentes – com 1.771 meninas de 06 a 14 anos em todo o Brasil:
– 81,4% das meninas arrumam suas camas x 11,6% dos meninos;
– 76,8% das meninas lavam a louça x 12,5% dos meninos;
– 65,6% das meninas limpam a casa x 11,4% dos meninos;
– 34,6% das meninas cuidam dos seus irmãos x 10% dos meninos.
Com efeito, a propaganda comercial incita à correção, ao resgate de histórica dívida que vê a mulher como um “homem inferior” na definição de Aristóteles, ao nascimento de um novo homem bem barbeado – no sentido de limpo e virtuoso – que se olha moralmente no espelho, que veste rosa…
Em que pese avaliações ao “politicamente correto” e à ode ao consumo, minha insolente esperança ainda confia na ilusória venda aí contida: que tenhamos cortantes bem amoladas contra o assédio!
Referências:
(1) We Believe: The Best Men Can Be | Gillette (Short Film). Disponível em: https://gillette.com/en-us/the-best-men-can-be Acesso em: 24 jan. 2019.
(2) Disponível: https://www.portalraizes.com/masculinidade-toxica/ Acesso em: 24 jan. 2019.
Ivanira Pancheri é Articulista do Estado de Direito, Pós-Doutoranda em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2015). Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (1993). Mestrado em Direito Processual Penal pela Universidade de São Paulo (2000). Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental pela Faculdades Metropolitanas Unidas (2009). Doutorado em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é advogada – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Esteve à frente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Participa em bancas examinadoras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo como Professora Convidada. Autora de artigos e publicações em revistas especializadas na área do Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Processual Penal, Ambiental e Biodireito. |
Se você deseja acompanhar as notícias do Jornal Estado de Direito, envie seu nome e a mensagem “JED” para o número (51) 99913-1398, assim incluiremos seu contato na lista de transmissão de notícias.