Coluna A Advocacia Popular e as Lutas Sociais
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“…nenhum tem amor a esta terra […]todos querem fazer em seu proveito, ainda que seja a custa da terra, porque esperam de se ir”(Carta de Manoel da Nóbrega- 1552) [1]
Ainda não
Infelizmente, apesar da identidade das datas da aprovação da PEC 55(2016) e da publicação do famigerado ato institucional (1968), 13 dezembro, penso que aquele ainda não seja o AI-5 de nossa geração. Certo que os dois significam, a sua maneira, arrocho para população, para a manutenção de governos que atendem a interesses outros que não o do país. Mas tudo caminha para chegarmos lá, no nosso AI-5. Temos um governo sem legitimidade, que parece que se alterará (golpe dentro do golpe), afeito a medidas ilegítimas, num ambiente de crise econômica de crescente insatisfação.
O golpe dentro do golpe parece se desenhar com a Lava jato e a grande mídia se voltando contra o PMDB. Já esperado, dada às diferenças internas de quem se beneficiou com o “impeachment”. A questão se dá no prazo para se ter as eleições para a presidência ou não. Para o grupo que se beneficia das ações da Lava jato interessa que o Temer caia, mas apenas a partir de janeiro de 2017 e não se tenha eleições diretas. O que ainda não está claro é se a parte do PMDB, agora no poder, consegue mudar de lado e abandona o chefe do executivo de plantão, ou se irá impedir ou vender caro a derrubada do mesmo. Serão cenas dos próximos capítulo da novela política brasileira.
Quem sempre esteve nas ruas, antes de 2013, em 2013, contra golpe e agora, sente falta do grosso da população prejudicada com as medidas dos governos de antes e de agora, para além dos setores médios e movimentos organizados. Todavia, quem acompanha de perto, verifica que a tomada de consciência está se dando, embora não na velocidade desejada ou necessária.
Interesses disfarçados
Tem que se reconhecer as virtudes quanto a isso, do próprio sistema capitalista, ao qual integramos perifericamente. Como Marx asseverou na sua obra Ideologia alemã, a classe dominante apresenta o seu interesse próprio, como se fosse de interesse geral[2]. É o que se percebe nas defesas apaixonadas e irracionais da PEC55 por certos segmentos da população brasileira, como se fosse um remédio amargo, mas necessário.
Como bem circula nas redes sociais, triste do país que trata a educação e a saúde como “gastos” e juros da dívida como “lição de casa”.
Uma coisa é certa, a PEC55 foi mais uma cabal demonstração que nada mudou neste mais de 500 anos. Não se administra o Brasil para a sua população e sim para se ter lucro, para dar dividendos a uma parcela pequena da sua sociedade. Como as diversas rupturas que já ocorreram no país, o “impeachment” mostrou ser mais uma vez mudança conservadora. Mobilizamo-nos ainda na expectativa da primeira ruptura democrática do país!
Referências
[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 185/186
[2] Karl Marx, Friedrich Engels, Werke, tomo 3, editadas pelo Institut für Marxismus-Leninismus beim ZK der SED (Berlim: Dietz Verlag, 1958, p.32/33)