Eduardo Biacchi Gomes*
Ane Elise Brandalise Gonçalves**
Diante do atual quadro econômico mundial, muito se fala na crise econômica que pulula entre os Estados, não apenas presente na região latinoamericana, mas também em regiões consideradas centrais e prioritárias, como a região européia. Por certo, tal crise possui impactos que não circundam apenas ao próprio Estado, mas que também acabam por gerar consequências em importantes áreas, como a da cooperação .
De outro vértice, muito se questiona acerca do impacto de tais consequências e do poder dos Estados em lidar com situações econômicas nada confortáveis. A população e os setores mais carentes da atuação estatal parecem se perguntar: “como lidar com a crise?” “quando o país começará a alavancar novamente?”.
Nesse cenário, cabível a colocação da teoria da interdependência complexa, cujos expoentes teóricos centrais são Joseph Nye e Robert Keohane, e os conceitos de sensibilidade e vulnerabilidade. Tais conceitos, quiçá, podem clarificar as perguntas suscitadas e dar um norte para verificação da capacidade estatal de se manter.
Em linhas gerais a teoria da interdependência complexa, de cunho neoliberal, ensina que há uma relação essencial entre Estados, mercado global e novos atores , sendo que o Estado não vive sem a interação com o mercado ou mesmo com os demais atores do palco político. Por isso mesmo, quando um deles – Estado, mercado ou outros atores – enfraquece, isso gera sequelas para os demais, o que pode acarretar em conflitos maiores.
Dentro desse paradigma da interdependência complexa, Nye e Keohane, importantes teóricos políticos norte-americanos, formularam uma conceituação de sensibilidade e vulnerabilidade, como facetas da manifestação do poder, relacionadas à capacidade, importância e rapidez de solucionar um problema (sensibilidade) e aos custos que determinado ator emprega para realizar toda uma mudança em sua política (vulnerabilidade). Por via de consequência:
Estados mais sensíveis e/ou vulneráveis, a despeito de sua isonomia, estarão em desvantagens em suas relações com demais atores ou, em outras palavras, são menos poderosos no sistema internacional. Esses dois conceitos “quantificam” a desigualdade em Power and Interdependence.
A título de ilustração fática, cite-se a crise financeira norteamericana de 2008 e o modo de agir de determinados grupos bancários. Nesse sentido, veja-se que a teoria é aplicada não somente aos Estados mas também aos vários atores sociais. Alguns grupos, a exemplo maior do Lehman Brothers, mostraram-se mais vulneráveis à crise, chegando mesmo em estado terminal, enquanto outros grupos (City Group, por exemplo), mostraram-se mais sensíveis à crise de 2008 do que vulneráveis, enfrentando os problemas de forma mais eficiente (ou seja: em menos tempo, com menos custos para recuperação) e ainda mantendo-se atuantes no mercado global. Por certo, as ações de tais empresas foram variadas e dependeram de uma série de questões (relação com o Estado, relação com os outros países, etc).
De toda forma, ante todo o exposto, fica a questão ao leitor: E o Brasil? Seria mais sensível e/ou mais vulnerável à crise econômica? O que dizer então da Grécia? Resta aguardar os próximos anos para verificar o deslinde da história, vez que não se pode tomar conclusões de pronto, de maneira precipitada, eis que o palco político depende da análise não apenas da atuação estatal em si, mas também da atuação do mercado e dos demais atores, como visto pela teoria da interdependência complexa.
Ainda assim, verifica-se que tanto a sensibilidade quanto a vulnerabilidade são conceitos importantes no atual cenário global e que podem ajudar a compreender, ao menos sob o ponto de vista da Economia Política Internacional e das Relações Internacionais, a forma como os Estados estão lidando com o problema da crise econômica.
REFERÊNCIAS:
ESTRE, Felipe Bernardo. Poder, interdependência e desigualdade. 3° Encontro Nacional ABRI 2011, 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 jul 2015.
GOMES, Eduardo Biacchi; GONÇALVES, A. E. B.. Cooperação técnica judiciária Brasil e Rússia: algumas considerações a respeito. O Estado de Direito, 12 mai 2015.
KEOHANE, Robert e NYE, Joseph. Power and Interdependence. Nova Iorque: Longman, 1989.
SOUZA, Herbert. Como se faz análise de conjuntura. 11ª ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
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