A Justiça e o Estado de Exceção

Coluna A Advocacia Popular e as Lutas Sociais

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

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Interrupção do ciclo democrático

A Justiça em tempos de exceção sempre tem papel relevante. Mas, na atual quadra que o país acabou de entrar, o Poder Judiciário está tendo um papel notável. As fases da famigerada “Operação Lava jato”, em perfeita coordenação com a movimentação do Legislativo de organizações da sociedade golpistas, foram perfeitas para a interrupção do ciclo democrático no país. Neste sentido, não se pode esquecer da articulação com a grande mídia, contribuindo para o clima de instabilidade.

Todavia, colocar todos ou louros para a “Operação Lava jato” seria injusto. Seria preterir a importância das inúmeras decisões que surgiram no país proibindo a Chefe do Poder Executivo de escolher seus ministros de estado e até determinando o que podia ou não podia dizer em seus discursos. Momento importante para a chancela do golpe ocorreu quando, das atividades para o “impeachment” no Senado Federal, a representação maior do Poder Judiciário, o Presidente do Supremo Tribunal Federal-STF, fez um apelo aos parlamentares pelo aumento dos nobres magistrados.

Garantia do estado de exceção

Agora, vem o momento da contrapartida, ou melhor dizendo, da garantia do estado de exceção. Primeiramente, como se já não bastasse reiteradamente a justiça trabalhista dizer que já não existe direito de greve, decretando praticamente todas ilegais, o STF, em decisão de repercussão geral, disse que se pode cortar o ponto dos servidores em paralisação. O Ministro Fux, em elogiável momento de sinceridade, lembrou que a medida visava não deixar o Brasil parar. Agora, tem-se a PEC 241, que providencia grandes perdas para a maior parte da população, a fim de se garantir os privilégios e dividendos de quem sempre ganhou com país, e não se pode fazer greve.

Retas decisões

O último episódio, desta crescente escalada de retirada de direitos e garantias, foi a decisão do Juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, que determinou a utilização de métodos de tortura para a desocupação das escolas. A receita é a mesma, garantia da ordem. Sem esta, como tranquilamente se poderá explorar a população? O povo deve confiar em seus dirigentes no Executivo, em sua nobreza togada e não atrapalhar o desencadear de suas retas decisões.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

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Cabe o registro que nem todos no Judiciário e em outras instituições do Sistema de Justiça concordam com tais expedientes. A Associação dos Juízes para a Democracia-AJD é uma das vozes que se levanta contrariamente. Mas revisitando a História, infelizmente, em momentos de exceção como estes, tentarão isolar, ridicularizar ou mesmo punir quem não seguir a cartilha de exceção.

Círculo vicioso

O “novo sempre vem”, verso do cantor Belchior, é uma esperança e certeza. Hoje, presente na força de estudantes como Ana Julia. Contudo, temos que lembrar que o Brasil nunca viveu uma ruptura que não tenha sido controlada por sua elite. Por isso, importante lembrar as palavras de outro poeta, o constituinte, guerrilheiro, agitador, comunista e patriota Carlos Marighella: “Todos sabem que a ‘redemocratização’ ou chamado retorno à democracia com eleições e pacifismo só serve aos interesses dos políticos burgueses, pois não conduz à modificação da estrutura econômica[…]. O que há no Brasil é um círculo vicioso.”[1]

Referências:

[1] MAGALHÂES, Mário. Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo. 1 ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 351

 

Rodrigo de MedeirosRodrigo de Medeiros Silva é Articulista do Estado de Direito – formado em Direito pela Universidade de Fortaleza, especialista em Direito Civil e Processual civil, no Instituto de Desenvolvimento Cultural (Porto Alegre-RS). Foi assessor parlamentar na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal de Fortaleza. Foi advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, de Sindicatos de Servidores Públicos Municipais e de Trabalhadores Rurais. Atuou na área do Direito da Criança e do Adolescente na Pastoral do Menor e no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará. Prestou serviço Association pour le Développemente Economic Regional- ADER, junto às comunidades indígenas cearenses Jenipapo-Kanindé, Pitagury, Tapeba e Tremembé. Participou do Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará-FDZCC na defesa de comunidades de pescadores. Contribuiu com o Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza pela OAB-CE.  Também prestou consultoria à Themis-Gênero e Justiça, em Porto Alegre-RS. Integra a Comissão Nacional de Acesso à Justiça do Conselho Federal da OAB e o Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul. É membro da Rede Nacional dos Advogados e Advogadas Populares-RENAP, Fórum Justiça-FJ e Articulação Justiça e Direitos Humanos-JUSDH.
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