Um pequeno palpite sobre as eleições

Márcio Túlio Viana*

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As bandeiras do PT

Sei que é difícil falar, em poucas palavras, sobre um assunto tão grave.
De todo modo,  vou tentar resumir minha opinião a respeito das eleições.
No meu modo de pensar, o PT sempre teve duas bandeiras principais: a ética e a justiça social.
Já os outros grandes partidos, como o PSDB, praticamente não tinham bandeira alguma. Nunca tiveram marcas fortes.

Foto: Agência Brasil

Foto: Agência Brasil

E aquelas duas bandeiras do PT eram fortes. Marcavam o partido. Por isso mesmo, o partido tinha (e tem ainda) tantos militantes de carteirinha – o que nunca aconteceu com PMDB, MDB ou PSDB.
Mas acontece que tudo ou quase tudo na vida tem o seu contrário.
Exatamente porque a bandeira da ética era forte, o desgaste do PT foi imenso, com as denúncias de corrupção.
E como a bandeira da ética ficou abalada, a bandeira social também se enfraqueceu. Uma coisa puxou a outra.
E como a bandeira social se enfraqueceu, ficou  fácil, por exemplo,  destruir direitos dos trabalhadores e criar direitos para os grileiros de terras.

Operação Lava Jato e a mídia

Mas como foi que o discurso da ética se abalou?
Em parte, é claro, ele se abalou  por culpa do próprio PT.
Em parte, porém, isso também aconteceu em razão da Lava Jato, que no seu início só enxergava o PT.
Mas não podemos nos esquecer da grande mídia. Foi ela que convenceu as pessoas de que corrupção é sinônimo de PT.

Foto: Agência Brasil

Foto: Agência Brasil

 

Foi como se o PMDB ou o PSDB sempre tivessem agido na linha; como se em  todas as décadas passadas o país tivesse vivido sem licitações fraudulentas, desvios de verbas, caixas dois ou subornos de todo tipo.
E a condenação do PT foi perpétua. Valeu para todo o passado, mesmo com tantas conquistas sociais; está valendo no presente e vale até para o futuro, como se toda pessoa que governasse à sombra de uma estrela estivesse também destinada a fazer corrupção.
Diante dessa profunda e inteligente lavagem cerebral, precisamos  nos esforçar para separar as coisas. Para sermos mais críticos. Para desconfiarmos um pouco mais do que lemos e ouvimos.
É preciso perceber que a grande maioria das pessoas que pensam à esquerda não são pessoas corruptas. Ao contrário, são pessoas que não pensam só em si. São pessoas que sonham com um mundo mais igual. São pessoas idealistas.
Entre essas pessoas  estão, por exemplo, os nossos maiores artistas, como Chico, Caetano e Sebastião Salgado; e os mais renomados pensadores, como Leonardo Boff, Marilena Chauí e Boaventura Santos – só para citar uns poucos exemplos.
Estão também a maioria dos estudantes e professores universitários, como nos mostraria uma pesquisa qualquer. E estão, mesmo sem saber que estão, os trabalhadores mais pobres, as mães solteiras, os sem casa e os sem terra.
Entre essas pessoas estão ou estiveram as que lutaram contra a ditadura militar, agora tão banalizada por membros da própria Justiça. Pessoas que estavam pensando em seu país e em sua gente, muito mais do que em si mesmas.
Até o Papa Francisco certamente se considera uma pessoa de esquerda, pois é assim que ele fala e age. Não foi à toa que contestou Donald Trump e se recusou a vir ao Brasil na era Temer.

O candidato Fernando Haddad

De minha parte, não conheço pessoalmente Fernando Haddad, mas sou capaz de apostar que ele também é assim. Se for eleito, certamente o seu governo irá tentar combater as injustiças sociais, distribuir melhor a renda, reduzir os preconceitos e as discriminações, melhorar a saúde e a educação, pois tudo isso é o sonho das esquerdas.

Fotos Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Fotos Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Uma pessoa como ele jamais acharia, por exemplo, que a solução para acabar com os assaltos é andarmos todos armados, como num filme de bang bang, esquecendo-se de que quem anda armado corre mais risco ainda de morrer, e que é sobretudo a violência da miséria que produz estas e outras formas de violência.
Uma pessoa como ele, governando o País, certamente não irá tentar reduzir ainda mais os direitos do trabalhador, nem declarar guerra à população LGBT, nem se aliar à bancada da bala, e muito menos tecer amizades com torturadores da ditadura.
Pessoas como Haddad também não enchem as redes sociais com notícias mentirosas.
E é por tudo isso que voto nele, mesmo sem nunca ter sido  filiado ao PT – embora  tenha votado no PT, depois de ter sonhado com Brizola.

P.S. Só para evitar mal-entendidos, esclareço  que este é o primeiro e também o último texto que escrevo sobre o assunto.

 

*Márcio Túlio Viana – Professor no Programa de Pós Graduação em Direito da PUC-Minas. Ex-professor da UFMG.

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