Quem tem medo do TCC? – Parte I –

Coluna Instante Jurídico

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Foto: Pixabay

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 PARTE I 

Considerando a repercussão positiva alcançada pelo artigo da semana anterior, resolvi – no intuito de democratizar o acesso ao conteúdo da presente coluna – perguntar a alguns dos meus alunos sobre o que gostariam de ler na semana seguinte, eis que a resposta foi praticamente a mesma: “Eu quero ver você escrever sobre o famigerado TCC”.

Diante do novo desafio, tive a ideia de elaborar uma lista com sugestões que podem ser úteis para a confecção de um trabalho dessa natureza ou, como diriam os próprios alunos, “um inventário de maneiras para se fazer um TCC (sem sofrer)”.

O pedido assume relevância pelo fato de que o trabalho de conclusão de curso de algumas Instituições – sejam elas públicas ou privadas – ainda é visto como um desafio para muitos discentes. Assim, no intuito de dar o aprofundamento necessário, dividirei a presente coluna em duas partes. Sendo assim, tenham em mente que as linhas a seguir, serão complementadas por uma outra coluna que ainda está por vir.

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Pois bem, no que tange ao curso de Direito, o TCC mexe bastante com o psicológico do aluno, pois, além de exigir tempo – já que demanda uma carga de leitura superior àquela a que se está habituado –, seu desenvolvimento ocorre num prazo preenchido por estágios, seminários e avaliações que, somadas às exigências do orientador e preparação para o exame da OAB, se mostra relativamente curto.

Sim, eu sei. Falando assim, parece algo realmente desesperador. Entretanto, o que poucos sabem, é que esse sofrimento pode – e deve – ser evitado. Nesse sentido, gostaria, antes de oferecer as minhas contribuições, esclarecer que a listagem a seguir não deve ser interpretada como um manual – entendido aqui como modelo prêt-à-porters – da pesquisa no campo do Direito, uma vez que esta pode ser utilizada para a confecção de outras produções intelectuais de mesma relevância.

Sendo assim…

1 – PROGRAME-SE: Como dito alhures, escrever um TCC demanda tempo. Vale dizer, definir as tarefas e procurar respeitar os prazos estipulados pelo orientador e pela Instituição de Ensino, mostra-se como uma ferramenta bastante útil para o bom desenvolvimento da pesquisa. Em linhas gerais, o aluno deve possuir um cronograma próprio que necessita ser revisado constantemente – principalmente em pesquisas com coleta de dados –. Ademais, o discente deve ter cuidado com o chamado fenômeno da procrastinação, isto é, o diferimento ou adiamento de uma ação inicialmente programada sem fixação de prazo para concluí-la. Não é demasiado dizer, mas, essa ocorrência deve ser evitada ao máximo, sob pena de a pesquisa ficar comprometida. OBS: Diz-se na Física, que um corpo inerte tende a permanecer inerte. Academicamente falando, torço para que essa variável não se torne uma constante.

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2 – ESCOLHENDO O TEMA:O que te perturba?” Isso é o que eu costumo dizer quando um aluno me pede uma sugestão de tema para o seu TCC. A resposta para essa indagação não deve estar associada a assuntos que inviabilizem a confecção do trabalho. Sendo assim, recomenda-se que o aluno tenha o mínimo de afinidade com o tema a ser pesquisado. Tipo, de que adianta falar sobre o paradoxo da pena de morte no Zimbábue se a matéria que trata de soberania internacional não foi sorvida adequadamente? Vê? Não dá simplesmente pra falar qualquer coisa sobre qualquer coisa. O tema tem que ser bem definido e, se possível, a partir de alguma familiaridade. Entretanto, é preciso cuidado… ao se familiarizar com o tema, o discente deve se policiar para que suas (pre)concepções não interfiram na qualidade da pesquisa, sob pena de cair num tipo de armadilha epistêmica que, tal qual um labirinto, não apresenta saída.

3 – TENHA UM BOM RELACIONAMENTO COM O SEU ORIENTADOR: Se observar bem, a relação “orientado X orientandor” é um tanto quanto confusa. Digo isso porque ao tempo em que orientando odeia o orientador, ele também o adora. Isso mesmo. Você não leu errado. Aquela cólera presente numa quantidade considerável de orientandos costuma passar quase que instantaneamente ao ouvirem de seus orientadores frases como: “É isso aí!”; “você está no caminho certo!”; “avante!”; e o finalmente, “você foi aprovado!”. Ah, como é bom ouvir essas coisas. Todavia, nenhuma delas será possível se os alunos deixarem de comparecer aos encontros agendados com o professor responsável. Conversar com o orientador e tentar compreender o que ele espera do trabalho ajuda a evitar surpresas desagradáveis na banca de defesa. Caso ainda não tenha percebido, os encontros são necessários para que o trabalho possa ser desenvolvido harmoniosamente, ainda que o orientador se mostre resistente. Se possível, escolha um orientador criativo e exigente. Complicações surgirão, mas, ao final, você irá agradecer por cada uma delas. Acredite ou não, tudo isso faz parte do processo.

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4 – LEIA, LEIA, LEIA E, AO FINAL, LEIA NOVAMENTE: Lembro-me que durante a minha graduação em Direito, tive professores notáveis. A esse respeito, destaco um professor de Direito das Obrigações que, em todas as aulas, repetia uma frase como se fosse um mantra: “Uma vez que você optou pelo curso de Direito, você tem agora apenas uma obrigação –  ler, ler e ler –”. E cá entre nós, ele tinha razão. Caso ainda não tenha percebido, um TCC em Direito só se sustenta através de uma fundamentação teórica extraída de uma (ampla) pesquisa bibliográfica de respaldo e credibilidade que, invariavelmente, demanda tempo para ser lida. É preciso que fique claro: esse é o momento que o aluno possui para resgatar noções importantes que eventualmente tenham ficado para trás e concatená-las com as ideias surgidas durante a elaboração do TCC. E isso não pode ser ignorado pelo discente, já que ao término da leitura da rica bibliografia, ele sabe que terá que ler tudo novamente.

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5 – PREVINA-SE: Todo mundo sabe que, no dia a dia, coisas podem dar errado – afinal, essa é uma probabilidade decorrente do fato de simplesmente existirmos –; o que o nem todo mundo sabe, é que se em tratando de um TCC, se alguma coisa der errado, dará. E mais, dará errado, da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível ao discente. Por vezes tive notícias de alunos que, prestes a entregar o trabalho de conclusão de curso, surpreenderam-se com os mais variados problemas. Cito: o computador estraga; o pendrive desaparece; a internet “cai”; o rascunho deteriora-se; os dados coletados perdem-se; os livros a serem consultados esgotam-se; etc. Nesse sentido, a recomendação é que todos façam backup de tudo que é produzido – se possível em vários lugares ao mesmo tempo – para, assim, evitarem dessabores nessa etapa crucial da vida acadêmica.

 

 FIM DA PARTE I –

 

Raphael de Souza Almeida Santos é Articulista do Estado de Direito. Graduado em Direito pela Faculdade Pitágoras – Unidade Divinópolis. Pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário de Araras (UNAR/SP). Mestre em Direito Raphael AlmeidaPúblico pela Universidade Estácio de Sá (UNESA/RJ). Professor do Curso de Direito da Faculdade Guanambi (FG/BA). Coordenador do Grupo de Pesquisa de Direito e Literatura, do Curso de Direito da Faculdade Guanambi (FG/BA). Palestrante. Autor e colaborador de artigos e livros. Advogado inscrito na OAB/BA e OAB/MG.

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