Estresse no trabalho: uma epidemia global

Coluna Assédio Moral no Trabalho

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O Estresse
Será que precisamos realmente viver neste estresse?
Então precisamos nos estressar para depois aprendermos técnicas para reduzir o estresse?
Então precisamos ficar doentes porque depois temos o medicamento para nos curar?
Por que não nos dedicarmos a manter a nossa saúde?
Por que não nos dedicarmos a viver com mais calma?
Afinal, por que tanto estresse?
(…)
(Aristóteles)

 

Qualquer pessoa que já estivera empregada em algum momento sentiu a pressão do estresse relacionado ao trabalho. Todo trabalho pode ter elementos estressantes, mesmo quando se ama o que se faz. Pode-se sofrer pressões pontuais para cumprir um prazo ou uma obrigação desafiadora. Mas quando o estresse no trabalho torna-se crônico, pode ser devastador e prejudicial à saúde física, mental e social.
Infelizmente, esse estresse a longo prazo é muito comum e gerenciá-lo não é simples. Uma pesquisa de 2013 do Centro de Excelência Organizacional da APA (American Psychological Association) também descobriu que o estresse relacionado ao trabalho é um problema sério: mais de um terço dos americanos que trabalham relataram ter passado por um estresse crônico no trabalho e apenas 36% afirmaram que suas organizações fornecem recursos suficientes para ajudá-los a lidar com esse estresse.
Desgraçadamente, o estresse relacionado ao trabalho não desaparece quando o indivíduo chega em casa. O estresse persiste e pode prejudicar saúde e bem-estar.

Consequências do estresse no ambiente de trabalho

No curto prazo, um ambiente de trabalho estressante pode contribuir para problemas como dor de cabeça, dor de estômago, distúrbios do sono, mau humor e dificuldade de concentração.

Foto: Pixabay

Foto: Pixabay

O estresse crônico pode resultar em ansiedade, insônia, pressão alta e enfraquecimento do sistema imunológico. Também pode contribuir para condições de saúde como depressão, obesidade e doenças cardíacas.
Para complicar, pessoas que passam por estresse excessivo geralmente lidam com isso de maneiras não saudáveis, como comer demais, comer alimentos pouco saudáveis, fumar ou abusar de drogas e álcool. (1)
De fato, não se pode sempre evitar as tensões que ocorrem no trabalho. E ainda, certos fatores tendem a andar de mãos dadas com o estresse relacionado ao trabalho.
Seguramente o Assédio Laboral é fator estressante. O acosso é fonte de estresse relacionado ao trabalho posto que desequilibra a vítima, atingindo-a em sua saúde física, mental e emocional.
Ser assediado, sofrer violência física, ser ameaçado no local de trabalho, são inquestionáveis fontes de estresse no trabalho.
Ademais, a pressão advinda do relacionamento com supervisores, colegas ou subordinados “difíceis” igualmente é fonte de estresse relacionada à situação de emprego.
Vale salientar ainda que, a pressão por desempenho é uma das principais razões para o estresse no trabalho. O estresse relacionado à pressão por desempenho ocorre quando a quantidade de trabalho, a velocidade necessária ou a alta qualidade exigida são estressantes. Aliás, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta que práticas de má gestão podem levar ao estresse, como quando os supervisores criam muita pressão sob o pretexto de fornecer um desafio.
Também, a falta de controle é muitas vezes uma fonte de estresse relacionado ao trabalho: “Quanto menos controle as pessoas têm sobre seu trabalho, mais estressante tudo se torna”. A OMS ressalta que o estresse pode ocorrer quando os funcionários têm pouco controle sobre os processos de trabalho. Por vezes, a empresa controla como as pessoas se vestem, como podem personalizar seu espaço de trabalho, quando podem fazer uma pausa para o café ou até mesmo quando podem ir ao banheiro, tirando o controle dos funcionários. Tudo isso leva ao aumento do estresse.
Mudanças são estressantes. Experimentar mudanças na direção da empresa, mudanças nas expectativas de trabalho ou do cliente, mudanças na tecnologia, mudanças na estrutura organizacional etc. mudanças em toda parte pode ser inquietante. Na verdade, as empresas adotaram um termo militar para descrever o ambiente de trabalho de hoje: V.U.C.A. (volatile, uncertain, complex, and ambiguous). Muito estressante, não é?
O perfeccionismo é estressante. Assim, o perfeccionismo pode ser uma causa de estresse relacionado ao trabalho em indivíduos exigentes, meticulosos e detalhistas. Os pesquisadores descobriram que o perfeccionismo resulta de um dos três tipos de pensamento: esperar resultados perfeitos de si mesmo; esperar resultados perfeitos dos outros, ou pensar que os outros esperam resultados perfeitos de você.

Separação entre vida pessoal e trabalho

Convém sublinhar que, trabalhar longas horas é fator estressante. Pesquisadores descobriram uma associação entre trabalhar longas horas (mais de oito horas por dia) e um aumento na ocorrência de doenças cardíacas, que se atribui à exposição prolongada ao cortisol, um hormônio associado ao estresse. Com tanto tempo gasto trabalhando, pode ser difícil encontrar tempo para alcançar qualquer senso de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal ou se concentrar em sua própria saúde. Assim, horas extras obrigatórias, longas horas ou turnos interferem com a capacidade de ter uma vida pessoal ininterrupta com a família, amigos e diversão.
A falta de apreciação ou reconhecimento, empregos desvalorizados pela sociedade, inexistência de qualquer recompensa são contextos de estresse crônico. Temer ir a um trabalho implacável e ingrato é sinônimo de frustração, estafa, esgotamento, pressão e depressão.

Foto: Pixabay

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Em tempos de brutal crise econômica, o medo da perda de emprego é uma das experiências de vida mais estressantes. A segurança do emprego está em jogo e o estresse aparece. Empregos que não são estáveis, como posições temporárias ou aqueles em risco de demissões podem levar a altos níveis de estresse para os trabalhadores que estão neles. É natural que os trabalhadores temam a perda de emprego durante condições econômicas turbulentas ou uma mudança de empresa. Quando as pessoas ao seu redor estão recebendo seus avisos de demissão – seja na sua empresa, na sua comunidade ou em outras empresas do seu setor – pode-se deparar com a situação estressante de esperar que o próximo não seja você.
Além disso, pesquisadores indicam que a baixa remuneração é a principal causa de estresse relacionado ao trabalho. Não é surpresa que o dinheiro – ou a falta dele – possa ser uma fonte de estresse relacionado ao emprego. Remunerações insuficientes são uma fonte significativa de estresse relacionado ao trabalho. Mesmo que se ame o trabalho e os deveres do trabalho ou a empresa em que trabalha e o ambiente positivo é natural experimentar o estresse se os rendimentos forem inferiores às necessidades financeiras.
O estresse associado à segurança também pode estar ligado à natureza do próprio trabalho: aglomeração, ruído, poluição do ar ou problemas ergonômicos que colocam os trabalhadores em risco são exemplos de ocupações muito estressantes, de alto risco por natureza porque possuem estresse embutido.
O estresse pode se desenvolver relacionado à natureza do próprio trabalho. A OMS indica que fatores relacionados a conteúdos de trabalho e contexto de trabalho podem levar ao estresse. Os trabalhadores podem ficar muito estressados quando seus trabalhos não são desafiadores o suficiente ou quando são muito difíceis ou com muita responsabilidade, mas não possuem muito poder ou controle. Por outro lado, situações de subemprego, em que as obrigações dos trabalhadores estão abaixo do que são qualificados para fazer, são estressantes. (2)

Ranking do estresse

Neste ínterim, calha trazer um de vários rankings com os dez trabalhos mais estressantes do mundo. Veja:
10º) apresentador de notícias, em virtude da grande exposição e seus horários ditados pelo imediatismo das notícias;
9º) taxistas, que lidam com o trânsito caótico e a pressão de seus passageiros;
8º) relações públicas, que são a imagem das empresas e instituições e que costumam ser convocados para resolver situações de crise;
7º) executivos corporativos, que, nada obstante apesar seus vultosos lucros, enfrentam inimaginável dose de estresse;
6º) jornalistas, que precisam gerenciar prazos exíguos e cuja profissão possui níveis altíssimos de precariedade laboral;
5º) organizadores de eventos, encarregados de concretizar os pedidos mais extravagantes de seus clientes exigentes;
4ª) policiais, que não só enfrentam os perigos de sua profissão mas que estão em um meio de corrupção institucional;
3º) pilotos de aviões, responsáveis pela segurança de todos os passageiros a bordo;
2º) bombeiros, expostos constantemente a vivências com alto risco de morte;
1º) militares em serviço, que principalmente expõem suas vidas a ataques inimigos, e estão afastados de família e amigos em lotações nas mais diversas partes do mundo. (3)

Percebam que os advogados não estão listados… Todos concordam? (4)

Referências:

(1) Disponível em: http://www.apa.org/helpcenter/work-stress.aspx. Acesso em: 15 jun. 2018.
(2) Disponível em: https://stress.lovetoknow.com/Why_are_Jobs_Stressful. Acesso em: 15 jun. 2018.
(3) Disponível em: https://seuhistory.com/noticias/10-profissoes-mais-estressantes-do-mundo. Acesso em: 15 jun. 2018.
(4) Cf. Rick. B. Allan. “Lawyers: Are we a profession in distress?”. The Nebraska Lawyer. p. 23-24. October, 1998.

 

Ivanira
Ivanira Pancheri é Articulista do Estado de Direito, Pós-Doutoranda em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2015). Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (1993). Mestrado em Direito Processual Penal pela Universidade de São Paulo (2000). Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental pela Faculdades Metropolitanas Unidas (2009). Doutorado em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é advogada – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Esteve à frente do Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações e das Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Participa em bancas examinadoras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo como Professora Convidada. Autora de artigos e publicações em revistas especializadas na área do Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Processual Penal, Ambiental e Biodireito.

 

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