Projetos

Documentário Eva Lee – o mundo sob olhar materno

EVA LEE

O mundo sob olhar materno

 

 

 

 

Há dois meses a advogada e artivista dos Direitos Humanos, Carmela Grüne, vem refletindo a cerca da ideia de despertar o pensamento reflexivo nas pessoas sobre a maternidade e o período gestacional.

A partir da sua experiência como mãe do Emanuel Jorge, de cinco anos e, agora, da Eva Lee, Carmela está no sétimo mês de gravidez, suas inquietações foram aumentando conforme o desejo de simbolizar, pela transformação da nudez, o corpo político da mulher, em obra de arte. Suas inquietações partem do olhar que as pessoas, de modo geral, dão à maternidade e à gestação, de quanto a sociedade indignifica a mulher e simplifica a complexidade dessas duas etapas, quer seja, emocional, social, ética e política, para encobrir crimes, abusos e preconceitos.

Para que que haja um enfrentamento com sensibilidade e protagonismo das mulheres, a cultura AntiDireitos Humanos[1] existente no Brasil que propaga mentalidades opostas à empatia, resultantes da falta de consciência para agir com sensibilidade para com as mulheres, é necessário ocupar espaços de poder e de representação popular, fortalecer a imersão a universos desconhecidos, encontrando caminhos a um espaço íntimo e invisível do ser humano para propagarmos uma cultura mais inclusiva e plural. A iniciativa visa inspirar outras mulheres a manifestarem seus anseios, preocupações e desafios encontrados para a efetivação dos Direitos Humanos, por mais igualdade, menos discriminação e abusos físicos e psicológicos decorrentes de relações afetivas tóxicas e de comportamentos oriundos de uma cultura machista da sociedade.

O documentário “Eva Lee – O mundo sob olhar materno” contribui para uma reflexão profunda com estímulo a novas práticas artivistas, ou seja, novas manifestações artísticas com o propósito de contestação, imprimindo na arte provocações às práticas sociopolíticas instaladas, pela combinação de linguagens, artes plásticas, música, fotografia e audiovisual, com a proposta de  despertar emoções para que essas sejam afloradas, possibilitando ao participante ser afetado, tornando então um antigo projeto de conhecimento desconstruído, desfeito, para rever, por exemplo, comportamentos de indiferença que se tinha diante de barbáries e refletir sobre os desfechos que deseja levar após a experiência para a sua vida pessoal.

“Ser mãe é provar aos filhos que eles são a causa e a a razão de nossa vida, enquanto tentamos conseguir nos equilibrar entre uma multiplicidade de tarefas na busca de gratificação enquanto mulher”. (Maria Berenice Dias)

 

 

 

O mote, para tanto, é vinculado a nossa ancestralidade: a pintura corporal, usada em cerimônias de fertilidade, no cotidiano do homem de Neanderthal, quatrocentos mil anos atrás, quando, pela primeira vez a pele humana fora usada como tela.

A pintura no corpo nu remonta a ancestralidade do poder feminino. Dos rituais das sacerdotisas que cultuavam a Grande Deusa Mãe[2].

Para proporcionar a intervenção artística, Carmela Grüne convidou renomados profissionais, os quais tem a honra de tê-los como amigos, para compor a equipe, sendo eles: o artista plástico Aloízio Pedersen, o diretor artístico e editor Diego Triaca, o músico e compositor Amaro Pena, o designer Diego Sausen. Todos mergulharam no inconsciente coletivo, com a perspectiva de levar junto os espectadores.

 “houve a mobilização das nossas emoções para refletirmos sobre os valores perdidos e nos aproximar, despidos de preconceitos, desse estado gestacional de todas as Carmelas neste período. E a técnica que mais se aproxima da emoção e que faz a ponte com o inconsciente, é o expressionismo, particularmente a pintura de ação e seu gestual espontâneo e livre” (Pedersen)

Quatro mãos formam o corpo em um visual cênico, na fotografia e na imagem em movimento. O pintor, Aloizio Pedersen, o fotógrafo Alex Garcia, o diretor artístico e editor Diego Triaca, colocaram com profundidade suas técnicas como canais de comunicação e linguagem de afeto e Carmela, a mulher, a performer, pela nudez simbolizou a integralidade da mulher, o processo gestacional fruto da gravidez, os sentimentos que transpassam a experiência individual da maternidade, para demonstrar o corpo social e político, todos unidos para codificar essa mensagem ao público, na execução de seus diferentes ofícios.

 

 

 

Carmela e Aloizio foram atrás da iconografia do tema maternidade e gestação. Descobriram que inexistem materiais com propostas semelhantes, nem pinturas corporais expressionistas e muito menos vídeos. Para tanto, levantaram o histórico da pintura corporal na humanidade até chegarem à atualidade para encontrarmos os tipos de tinta adequadas à pele humana.

A teoria da cor-emoção de Kandinsky foi acrescida a visão da cor pela Eubiose, em vídeo de Nilton Schutz. E a técnica “action painting“, da pintura expressionista abstrata, difundida por Pollock, recebeu o incremento da Teoria das Linhas, da teórica de arte Fayga Ostrower.

 

 

 

Carmela Grüne convidou personalidades feministas para contribuir significativamente com suas experiências como mães, profissionais e pesquisadoras.

Maria Berenice Dias, primeira juíza no Estado do Rio Grande do Sul; Tânia Regina Silva Reckizegel, primeira Desembargadora do Trabalho escolhida na vaga do quinto constitucional da OAB/RS – Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional RS para integrar o Egrégio TRT da 4ª Região e, atualmente, exercendo o cargo como Conselheira no CNJ; e Ariane Leitão, advogada e integrante do movimento Óh Mulheres, que foi Secretária de Políticas para as Mulheres no Estado do Rio Grande do Sul, abordaram diferentes aspectos da discriminação, da violência doméstica, da maternidade e do período gestacional.

“O documentário ‘Eva Lee, o mundo sob olhar materno’ proporcionou uma vivência mágica. A beleza do cenário e das modelos, Carmela Grüne e a pequena Eva Lee, encantou e despertou sentimentos de pureza, delicadeza e amor. A gravação, realizada no dia 30 de abril, Dia Nacional da Mulher, encheu de simbolismo aquele momento. Pouco conhecida no Brasil, a data é uma homenagem ao aniversário de Jerônima Mesquita, líder do movimento feminista no país e fundadora do Movimento Bandeirante, que tinha o objetivo de promover a inserção da mulher em todas as áreas da sociedade. Em 1934, junto de Bertha Lutz e Maria Eugênia Celso, ela lançou o Manifesto Feminista, também chamado de Declaração dos Direitos da Mulher, que defendia, entre outros pontos, o direito da mulher ao voto. Destaca-se a visão de que ‘em todos os países e tempos, as leis, preconceitos e costumes tendentes a restringir a mulher, a limitar a sua instrução, a entravar o desenvolvimento das suas aptidões naturais, a subordinar sua individualidade ao juízo de uma personalidade alheia, foram baseados em teorias falsas, produzindo, na vida moderna, intenso desequilíbrio social’. E com esta inspiração foi desenvolvido um trabalho artístico, inovador e capaz de estabelecer mudanças na forma de se ver o mundo sob a perspectiva maternal da mulher. E como nada nesta vida é por acaso, 30 de abril é também o aniversário da minha mãe, a amada Solange, que me orienta e me guia até hoje.” (Tânia Regina Silva Reckizegel)

“Participar do documentário foi uma grata experiência. Fiquei feliz e honrada de poder dividir esse momento tão importante com a Carmela, com a equipe da produção e claro, com as mulheres que junto comigo trouxeram suas visões da maternidade. A Eva Lee já vai nascer mais do que iluminada, pois foi por ela que tantas pessoas se uniram para transformar amor em arte.” (Ariane Leitão)

 

Pesquisa, prática e análise para um pensamento reflexivo, com uma abordagem da problemática atual do tema, em seu caráter sócio-ético-jurídico, por meio de seus depoimentos ao conteúdo simbólico-artístico do vídeo documentário.

 

 

 

A trilha sonora original, Chamego de Mãe, é de autoria do músico, bacharel em Direito e compositor cearense Amaro Penna, amigo convidado por Carmela, para mais uma vez trazer a leveza e profundidade que suas canções nos remetem. Ele que já participou de outro projeto desenvolvido por Grüne envolvendo a cultura popular e o Direito, com a composição da música Direito na Cabeça e Samba no Pé, a qual foi divulgada no Projeto Samba no Pé & Direito na Cabeça.

Nesse momento de pandemia, Amaro Penna convidou sua parceira a cantora e musicista francesa, Marie Stone, residente em Marselha, para participar com sua bela voz, e de quebra ela fez uma versão em francês de um trecho da música, além de tocar o piano e o violoncelo engrandecendo a música, prestigiando o trabalho, internacionalizando-o e, nesses tempos temerosos, contribuiu para uma aproximação de culturas: nordestina, gaúcha e francesa.

 

 

 

O projeto tinha como eixos a intimidade da nudez do corpo, o sagrado poder de gerar vida, a delicadeza e a potência da representação da mulher e sua conexão com a mãe terra.

A mulher grávida, a deusa da vida pintada por um homem. A representação de que a existência como homem depende da vitalidade de uma mulher. O ritual da pintura como um ritual de agradecimento, penitência e adoração.

Por isso, Carmela foi cuidadosa ao escolher quem executaria com ela o projeto. Três homens com sensibilidade, mas sobretudo profundo respeito pelo feminino.

“A ideia inicial era realizar a intervenção artística dentro de um presídio feminino, seria em Caxias do Sul, orientada por Aloizio as técnicas, mas aplicadas por mulheres e mães, que se encontram presas. Contudo, devido a pandemia COVID-19, muita coisa saiu diferente e creio que tudo tem uma razão de ser…

Pensamos há quantos anos eu trabalho em ambientes que são dominados por um público masculino, desde a Cadeia Pública de Porto Alegre, aos espaços acadêmicos, como também, em outros locais de destaque no trabalho,  que ainda não proporcionam a devida visibilidade e reconhecimento que merecem as mulheres. Em todos esses lugares procuro levar uma mensagem de respeito e valorização da mulher, da sua não objetificação.

Portanto, acredito que a escolha em trabalhar com uma equipe masculina vai ao encontro do que busco na sensibilização do olhar do outro sobre os nossos anseios, inquietações e desafios nesse momento em que o mundo passa por uma grande transformação.

Assim, oportunizar o protagonismo masculino nesse processo criativo foi uma forma de também fazê-los a repensarem quaisquer tipos de atitudes as quais antes eram praticadas sem que se quer fossem refletidas, o chamado machismo embutido, aquele que advém da cultura, das atuais estruturas de poder e passa despercebido.

Foram longas conversas sobre a mensagem a qual o Documentário Eva Lee deveria pontuar. Está sendo muito legal receber pelos depoimentos as manifestações de expectativas das pessoas que acompanham e participam das iniciativas que coordeno. Neste momento estamos trabalhando a divulgação pelas fotografias esperamos nos próximos dias comunicar a data do lançamento” (Carmela)

 

Alex Garcia para fotografia, que atuou no projeto Lá Vem a Luz, o qual oportunizou crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional a lançarem um disco de música autoral abordando as suas vivências, traumas e experiências de superação e empoderamento;

Aloizio Pedersen nas artes plásticas, utilizando toda potência de mais de 40 anos de docência e projetos sociais, para simbolizar, neste trabalho, através do corpo sua trajetória de luta pela igualdade a oportunidades e humanização das relações sociais. Ele que já contribuiu com o projeto Direito no Cárcere, levando seu trabalho pelo Artinclusão, a linguagem simbólica do desenho de da pintura, também levou toda sua expertise para o Instituto Psiquiátrico Forense, Patronato Maria Tavares, Abrigo Residencial de Crianças e Adolescentes AR7, além da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase).

Diego Triaca para direção artística e edição, que trabalhou na passagem da Turnê Vivos, do grupo de RAP, 509-E, o qual também contribuiu com o projeto Direito no Cárcere, fotografando e registrando momentos importantes da passagem desse grupo musical na Cadeia Pública de Porto Alegre.

 

 

TESTEMUNHAIS

 

O DIA DA EXECUÇÃO: 30.04.20, por Aloizio Pedersen:

 

 

Reunidos em minha casa, pois na concepção da Carmela, o meu jardim e sua natureza se prestavam para o feito, com privacidade merecida. Era a hora de reafirmarmos todas as nossas intermináveis conversas, a maioria por telefone. Nos defrontamos com a realização de um feito inédito para os quatro e isso representava a vanguarda no tratamento ao tema escolhido.

Reunidos em torno da mesa da cozinha, depois de cada um dos implicados organizarem seus materiais: tintas pincéis, lentes, baterias, pen drives, extensão e a maquiagem facial de Carmela, fomos trazendo, naturalmente para a roda de conversa informal, regada a um café da manhã, quais eram os nossos contatos com a maternidade:

Carmela já no sétimo mês de gravidez da Eva Lee e mãe de Emanuel Jorge, de cinco anos. Os demais: um com um aborto que não fora avisado com antecedência, o outro com um aborto natural e o último além da experiência de ter, numa relação anterior vivenciado o aborto, hoje em outro relacionamento, encontra-se na expectativa de ser pai, vivenciando o terceiro mês da gravidez de sua companheira.

Todos esses fatos nos ressignificaram como pessoas. Carmela relembrou todo o conteúdo que gostaria de passar com esse trabalho conjunto. À medida em que falava os tópicos íamos comentando a respeito. Em determinado momento os três homens, em uníssono, decretaram a coragem inominável de quem passa por uma gravidez. E de quanto o nosso trabalho poderia servir de alerta para a mudança de paradigmas ultrapassados a respeito. E se não podíamos engravidar, mas significar nossa admiração tentando nos colocar nessa situação, numa difícil visão empática, mas não impossível. E partimos para a realização da tarefa que nos unia.

 

 

Fomos para o jardim inundados de informações e com elucubrações em nossas cabeças de como iríamos fazer, com toda a excitação do inédito da proposta. Isto particularmente me amedrontava. Queria que esse dia trinta (30/04/2020) custasse mais a chegar, para estar mais preparado, mesmo sabendo que nunca estaria. Tudo tem que ser enfrentado. Encarado de frente. Nunca tinha pintado numa tela viva, fora algumas pinceladas no meu corpo para experienciar a tinta, dias antes. Minha sorte é que identifiquei nos meus parceiros este mesmo sentimento, encoberto pela aparente coragem. O que me deu um desesperado alívio. Carmela preocupada com sua nudez, disse que trouxera um adesivo para o bico dos seios. Os três imediatamente saltaram para ver. Eu para saber se a tinta iria aderir e os outros dois para verem se não refletiria a luz. A situação deixou mais à vontade Carmela.

Quando terminei de carregar meus pincéis e potes de tinta e levantei meus olhos, no mesmo momento que todos se colocaram no espaço com seus instrumentos e vimos Carmela, sob as folhas, entre as ramagens dos arbustos e árvores, no centro do espaço, paralisamos. Era o cenário mais lindo. Fomos tomados de uma emoção maior! Já era uma tela pronta para as lentes de ambos. A junção da natureza com a gravidez estava perfeita. Tínhamos que captar esse impacto para o vídeo. Eu imediatamente viajei uns vinte e quatro mil anos atrás e estava diante da Vênus Willendorf, uma das primeiras figuras escultóricas do paleolítico superior e entendi a estupefação daquele artista das cavernas diante do milagre da gestação. Queríamos que Carmela repartisse conosco o seu estado, que também se integrasse a nossa ignorância e nos ensinasse a sermos grávidos, só assim poderíamos retraduzir em nossos ofícios o seu estado.

A voz trêmula de emoção do cineasta, Diego, disfarçada de interrogação, rompeu o silêncio e trouxe meus pés para a terra: – Por onde vais começar? Só que minhas pernas tremeram e eu me ajoelhei, como se estivesse no meu controle normal. Estava genuflexo, agora diante do ventre. Felizmente fui me lembrando que começaria de joelho mesmo. E comecei a pintura pelo ventre porque não conseguia tirar-lhe os olhos. Errado! Só agora descera o resto dos meus pensamentos. Deveria começar pelos pés e ir construindo a pintura da base. Mas era o que podia fazer naquele momento. E se eu tivesse este ventre? Eu já estive num ventre! Pensava. – Oi Eva Lee! Como está tudo aí? Conversei alto com ela e peguei o preto, que de acordo com Kandinsky, serve para vencer os medos e comecei a traçar linhas do baixo ventre até os seios. Colocava ali os meus medos, os da Carmela e de Eva Lee. E foram surgindo as linhas como setas indicativas de direção, na inteligência neuro-celular da Teórica Fayga Ostrower. E logo vieram as linhas marrons, que subiram até o meio ventre, fortes, telúricas, a força da mãe terra para esta gravidez. Pronto, já estava calmo regido pela arte, como princípio ordenador do caos exterior e interior da mente, dando forma ao que antes me amedrontava, pois achava, no café, que não fosse conseguir… Esta confirmação é de outro teórico da arte, Franz Baumgart. Agora entendia o impacto da imagem visual inicial, se já achava a nudez grávida integrada à natureza deveria aproximá-la ainda mais, por meio da cor, torná-la uno com o ambiente florestal, intensificando a energia visual de completude, que meus parceiros poderão intensificar esse mimetismo com a natureza, em seus jogos com as lentes. Tudo a ver com a completude da gestação. E na sequências das linhas coloridas vieram os verdes escuros, continuados pelos verdes claros e finalizados pelo amarelo. Cores restauradoras da saúde física e mental, com ênfase pulmonar, para permitir que o prana divino entre por nossas narinas. O que vai acontecer contigo daqui a dois meses Eva Lee, mentalizava. Agora só enfatizar a energia vital do lilás, debruando a cor rosa dos seios. E está pronto a parte superior da frente. Tudo funcionando como um ritual, um ballet constante, um sobe as lentes para pegar o rosto e as ramagens, o outro desce e eu vou para as costas. – Com uma mão segura o ventre Carmela! Dizia o fotógrafo. – Mostra prá nós o peso, mas com leveza. Reforçava o videomaker. – Não! Faz assim ó Carmela. E um deles imaginava ou o ventre, ou os seios, ou as ancas e passava a gravidez para o seu corpo, para que a Carmela visse, para que este ou aquele gesto ficasse mais limpo e a nossa gravidez passasse a mensagem que havíamos discutido no café. Num momento fui parar para assistir uma dessas incorporações e desequilibrei borrando de laranja bem no meio das costas. E todos os panos já estavam sujos. Fui tentar tirar com uma das mãos e ficou pior. Ficou não! Ficou um sol! É o expressionismo sempre abrindo campo para o inconsciente. Amarelo, laranja cercado de azul púrpura nas costas, simbolizando a percepção completa, com a força vital de nosso astro rei. Imaginei aquelas cores atingindo e energizando Eva Lee, que vez que outra movimentava a minha tela.

Enquanto a pintura se encaminhava para o final, chegavam Ariane Leitão e Tânia Reckziegel para a gravação dos seus depoimentos. Gravaram na sala improvisada ao fundo com a tela em que pintei um pássaro.

Finalizei as pernas que tiveram uma base de marrom escuro, para a técnica do dripping, difundida por Pollock, tinta jogada com a cor da emoção. Justamente nesse momento um novo integrante adentrou na cerimônia: Emanuel Jorge, cinco anos: – Mãe, tu está linda! Parece uma Deusa da Floresta! E pegou o pincel com a cor vermelha e, no gestual do dripping, projetou sobre o seu ventre. Parecia dizer para sua mana: – Sei que estás aí, com o meu sangue também correndo em tuas veias. Vem que estou te esperando!

Todos nós estamos! Especialmente agora que ficamos grávidos por fugidios momentos, que ritualizamos juntos esta ode à fertilidade, batizados por nossa ancestralidade, algo que só a arte pode proporcionar. Ela nos facilitou esta inteireza. Sustentando a coragem de assumirmos nossas verdades. De exercitarmos nossos talentos e corpos politicamente, para inspirar outras mulheres e homens, no exercício de seus direitos, especialmente este: o acolhimento humano e ético da maternidade.

[1] O termo AntiDireitos Humanos é analisado como verbete, por Carmela Grüne, no Dicionário dos Antis – A cultura brasileira em negativo, obra que se encontra no prelo, dirigida pelos professores José Eduardo Franco e Luiz Eduardo Oliveira, a qual contou com a colaboração e apoio na organização dos verbetes de Grüne.

[2] DUARTE, Janluis. O caminho da Deusa: feminismo, sexo e nudez. Revista Ártemis, Vol. XXIII nº 1; jan-jun, 2017. pp. 129-137

 

FOTOS POR: ALEX GARCIA

 

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